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Nº 5759
Cidades

Vest�gios da pr�-hist�ria no litoral alagoano

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Por | Edição do dia 08/09/2002 - Matéria atualizada em 08/09/2002 às 00h00

Valmir Calheiros Os mais representativos vestígios de que os habitantes da pré-história viveram no litoral alagoano acabam de ser encontrados na região das lagoas, entre Maceió e Marechal Deodoro, numa área afetada pela ex-pansão imobiliária, por um grupo de pesquisadores que trabalha no projeto Salvamento Arqueológico do Complexo Lagunar Mundaú – Manguaba, patrocinado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal). Nas prospeções realizadas na etapa inicial do projeto, que começou em março deste ano e durou três meses,eles acharam três sítios que, em superfície, apresentam traços que devem ser dos prováveis primeiros sambaquis ou concheiros no Estado. E encontraram indícios que os levam a acreditar que pelo menos um deles é pré-histórico. O primeiro sítio foi denominado de Caboclos 1. Fica na margem de um dos canais da Lagoa Mundaú ou do Norte, em frente à Ilha de Santa Rita. O segundo recebeu a denominação de Caboclos II. Está localizado na mesma lagoa, a poucos metros do primeiro. O último é ocupado pelo Cemitério Padre Silvestre, no povoado Massagueira. O levantamento topográfico começou pelo Caboclos I, que fica bastante alagado em épocas de chuva. Nele, foram observadas concentrações de restos de malacofauna. Mas nada foi encontrado de material pré-histórico, na superfície nem na sondagem, tratando-se mais de uma ostreira. Ao contrário do Caboclos II, “que tem uma orografia mais acentuada que o anterior, formando um morrinho de três metros de altura”. O primeiro sambaqui No sítio Caboclos II foram encontrados fragmentos de cerâmica, com traços de ser indígena, várias lascas e uma conta de colar feita em osso. Além de numerosos fragmentos de vidro, louça, lascas de sílex, abundantes restos de malacofauna, de óxido de ferro e de artrópodes – pinças de caranguejo, quebradas pelos mesmos lugares, o que significa que a quebra foi propositada, e ainda restos de óxido de ferro. Todas as amostras de malacofauna, bem como dos sedimentos, foram recolhidas para identificação das espécies em laboratório. E digitalizados os planos de levantamento dos três sítios e os slides de campo, criando-se, conseqüentemente, um arquivo digital de imagens. Pelas primeiras conclusões das arqueólogas, o Caboclos II é de fato um sítio pré-histórico. Todas as evidências ali encontradas apontam para isso. A sondagem mostrou que pelo menos o primeiro nível seria mais de acampamento do que de sambaqui, mas o sambaqui stricto sensu pode ser embaixo do nível de acampamento. Sendo esse o primeiro sambaqui efetivamente encontrado no litoral alagoano, elas consideram importante a realização de um projeto de escavação extensiva no sítio. O que deverá começar possivelmente em outubro próximo. O que é sambaqui Os sambaquis são pequenos morros compostos por empilhamento de areia, conchas, moluscos, carapaças de crustáceos, ossos de peixes, aves, etc. Também chamados, em várias regiões do País como ostreiras, berbiqueiras, caieras ou caleiras e cuscuz. “Alguns chegavam a cerca de 30 metros e se estendiam por centenas de metros. Ficavam sempre nas proximidades dos cursos d’água. Esses sítios se espalhavam por todo o território brasileiro”, ressalta o historiador Douglas Apratto Tenório, coordenador da equipe de estudiosos. Esta conta com a participação de seis arqueólogas – Gabriela Martín, Anne-Marie Pessis, consultoras científicas e ambas da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe); Patrícia Pinheiro, Suely Luna e Irma Asón Vidal, também da Ufpe, e Dorath Pinto Uchôa, outra consultora, da Universidade de São Paulo (USP), além dos estagiários Demtrio Mtzemberg e Lucileide Lima (Ufpe). “Os sambaquis propriamente ditos eram onde os grupos familiares da pré-história se encontravam. Devem ter servido, ao mesmo tempo, de morada e sepulcro dos ancestrais que ocuparam o litoral brasileiro provavelmente até há mais de 5 mil anos”, salienta o historiador. E as arqueólogas Gabriela Martín e Anne-Marie completam: “Os materiais que encontramos nessa etapa preliminar dos nossos trabalhos, pelo menos no Caboclo II, são fortes indícios que nos levam a acreditar nessa possibilidade, e que devem provocar estudos mais aprofundados”.

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