Projeto visa ao desenvolvimento socioecon�mico
O projeto Salvamento Arqueológico do Complexo Lagunar Mundaú-Manguaba é parte de um programa de revitalização destinado a gerar ações de desenvolvimento socioeconômico estruturadas a partir de políticas de preservação dos patrimônios natural e cultura
Por | Edição do dia 08/09/2002 - Matéria atualizada em 08/09/2002 às 00h00
O projeto Salvamento Arqueológico do Complexo Lagunar Mundaú-Manguaba é parte de um programa de revitalização destinado a gerar ações de desenvolvimento socioeconômico estruturadas a partir de políticas de preservação dos patrimônios natural e cultural. Ele foi elaborado a partir das primeiras referências sobre sambaquis no território alagoano feitas por vários historiadores, como Alfredo Brandão, Jaime de Altavila e Moreno Brandão; do geógrafo Ivan Fernandes Lima, dos norte-americanos Burton e Branner, além de algumas antigas revistas do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Os especialistas afiançam que, apesar do grande número de pesquisas sobre sambaquis realizadas no Brasil, estamos longe ainda de ter uma idéia global da estrutura interna de um deles. E que também são poucos os exemplos de sambaquis localizados no litoral nordestino. Eles se restringem basicamente ao litoral dos Estados da Bahia e do Maranhão. Consta do primeiro relatório elaborado por Douglas Apratto e as arqueólogas, em relação a esse mesmo projeto, que foi Alfredo Brandão, na obra A escripta pré-histórica do Brasil, com um apêndice sobre a pré-história de Alagoas (1937), um dos primeiros autores a fazer referência à existência de sambaquis ou concheiros nas áreas lagunares alagoanas, quando menciona a existência deles em Coruripe. Em Alagoas existem muitos sambaquis, os quais não foram ainda estudados, sendo porém barbaramente destruídos para a fabricação de cal. (...) Informaram-nos que um pouco adeante do Porto do Francez e também na praia do norte de Maceió, vêem-se muitas ostreiras. Vale apenas serem examinadas. Apratto também informa que a maioria desses possíveis sítios históricos foi destruída há muitos anos, tanto pela fabricação de cal, como cita Brandão, quanto pelo avanço da ocupação imobiliária no litoral alagoano. E como coordenador do projeto, sustenta: Não há nenhuma referência na obra de Alfredo Brandão à existência desses concheiros na área da Lagoa Mundaú, embora pela sua situação privilegiada apresente todas as características apropriadas para assentamentos pré-históricos de pescadores-coletores. Reconstrução Os autores do relatório observam que a historiografia alagoana apresenta grande deficiência ao não estabelecer, de forma clara, a espaciologia da colonização. E não se pode esquecer que os ancestrais pré-históricos dos atuais alagoanos escolheram a região lagunar, explorando os seus férteis recursos ambientais e instalando-se na região, nas praias, perto das lagoas, manguezais, restingas e matas da encosta, o que lhe garantia comida o ano inteiro. Segundo eles, para responder às muitas interrogações da historiografia alagoana e para se poder incluir esses sítios arqueológicos dentro de um circuito de ecoturismo natural, será preciso a realização de um trabalho de resgate arqueológico e preservação tanto do Caboclos II como dos demais. No caso deste primeiro, será necessária a realização de uma escavação intensiva e extensiva do lugar. Desta forma, poderão ser resgatados materiais que indicarão se esse lugar foi hábitat, acampamento, aldeiamento, e/ou se, por outro lado, serviu como cemitério em época pré-histórica. O primeiro passo Em qualquer caso, serão informações de grande valor para a reconstrução da Pré-história no litoral alagoano onde as informações são escassas. Nessa escavação será, também, resgatado o material para datação da ocupação ou ocupações por carbono 14, o que permitirá incluir-se esse sítio dentro do contexto cronológico da Pré-história do Nordeste do Brasil. A proteção do patrimônio ecológico e cultural constitui o primeiro passo para o desenvolvimento educacional de uma sociedade, por outro lado, o turismo cultural poderá trazer o desenvolvimento econômico da região, pois significa uma nova via de entrada de renda, concluem.