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Nº 5822
Cidades

Alagoas � o �nico Estado sem irriga��o no semi-�rido

Quando a realidade se confunde com a ficção, o resultado não poderia ser diferente – Alagoas é o único dos cinco Estados banhados pelo Rio São Francisco, sem projeto de irrigação na caatinga; e a ironia do nome, alusivo à abundância de lagoas, descreve

Por | Edição do dia 15/09/2002 - Matéria atualizada em 15/09/2002 às 00h00

Quando a realidade se confunde com a ficção, o resultado não poderia ser diferente – Alagoas é o único dos cinco Estados banhados pelo Rio São Francisco, sem projeto de irrigação na caatinga; e a ironia do nome, alusivo à abundância de lagoas, descreve o quadro comparativo entre o que Graciliano Ramos escreveu, há 70 anos, e o que as mulheres do Quandu vivem no cotidiano. O que o vereador do PSB, Júlio dos Reis, já não pode esconder, porque escancarou, explica a situação desses sertanejos, obrigados a conviver com contrastes. Dona Maria da Luz tem antena parabólica e geladeira, mas não tem água. A distância entre o Quandu, em Poço das Trincheiras, e a beira do Rio São Francisco mede 100 quilômetros em linha reta – coisa pouca, considerando que 30% da população de Aracaju consome água do São Francisco; ou que os canais que rasgam a caatinga de Pernambuco, da Bahia, de Sergipe e de Minas Gerais somam quase mil quilômetros em diferentes ramais. O vereador socialista ainda tem esperança e tenta embalar a população do Quandu, mesmo sabendo que o município, sozinho, não tem recurso para bancar a obra. Mas a resignação é tanta entre os sertanejos, que eles se contentariam com o mínimo – a limpeza da barragem ou a perfuração de poços artesianos, com a instalação de dessalinizadores. Aliás, sobre a perfuração de poços artesianos, o povoado foi relacionado no projeto elaborado pela Secretaria de Infra-Estrutura e que seria executado pela Fundação Teotônio Vilela. O contrato chegou a ser assinado e publicado no Diário Oficial do Estado, em maio do ano passado, mas as obras não foram iniciadas, pelo menos no povoado. “A gente soube que iriam perfurar poços aqui, mas até agora não apareceu ninguém”, lembra. E mesmo que os poços tivessem sido perfurados, ficaria faltando o dessalinizador. “Acho que eles não perfuraram os poços porque não tinham o dessalinizador”. Enquanto as autoridades não se entendem com a burocracia, a população do Quandu sofre para repetir na realidade o que a ficção consagrou no livro e no cinema. Os Fabianos e as Sinhás Vitórias que se multiplicaram na realidade são personagens fiéis de Vidas Secas, em terra molhada – Alagoas é o Estado que acumula o maior volume de águas no Nordeste; possui 33 lagoas, dez rios e quase 100 ilhas, incluindo as fluviais formadas pelo São Francisco. Mas só a população urbana no Sertão dispõe de água potável; no Quandu, a água é o que sobra da barragem de Águas Belas, em Pernambuco, mesmo arrastando o lixo.

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