app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5822
Cidades

Idosos buscam qualidade do corpo e da mente

FÁTIMA VASCONCELLOS Sem uma política de assistência que assegure o mínimo de dignidade, o idoso não teve o que comemorar no seu dia – 27 de setembro, como desabafa a presidente do Sindicato dos Previdenciários de Alagoas, Idailza Beirão. Ela explica

Por | Edição do dia 22/09/2002 - Matéria atualizada em 22/09/2002 às 00h00

FÁTIMA VASCONCELLOS Sem uma política de assistência que assegure o mínimo de dignidade, o idoso não teve o que comemorar no seu dia – 27 de setembro, como desabafa a presidente do Sindicato dos Previdenciários de Alagoas, Idailza Beirão. Ela explica que no sistema capitalista, envelhecer significa ser abandonado. “Não há a mínima consideração com os mais velhos”, desabafou. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística, o País tem 14.512,803 cidadãos na faixa etária a partir dos 60 anos. Em Alagoas são cerca de 211 mil 52 idosos, mas o descaso com a assistência é uma queixa comum a todos. “O Brasil não tem investido em programas de promoção da qualidade de vida da pessoa idosa. É preciso que a sociedade civil cobre medidas sérias nesta área”, alerta o geriatra Antônio Moura Rezende. Ele defende, antes de tudo, a adoção de ações preventivas para o cidadão chegar aos 60 com saúde e qualidade de vida. “Para isto é fundamental, a partir dos 30, submeter-se a uma consulta anual ao geriatra. Podemos fazer exames preventivos para rastrear precocemente as doenças da velhice e administrar um tratamento para evitar ou atenuar seus sintomas”, diz o médico. Ele lembra que apesar da recessão, houve aumento da perspectiva de vida do brasileiro, devido aos avanços da medicina, que garante imunização para muitas doenças e previne tumores malignos e outros males. “Mas não houve, paralelamente, definição de plataformas políticas para valorizar a qualidade de vida do idoso”, reconhece o geriatra, observando que sem investimento nesta área, o País corre risco de pagar caro pela omissão. Os prejuízos vão desdeo desequilíbrio na Previdência – hoje para cada idoso existem seis jovens contribuindo, mas as estatísticas apontam para o achatamento dessa proporção, num futuro próximo. Se não houver investimento numa longevidade saudável, o Brasil terá o ônus de arcar com maior número de internamento hospitalar com os idosos, maior necessidade de exames, etc. Icentivo Antônio Moura recomenda basicamente o incentivo de atividades físicas, combate ao álcool e fumo, prevenção da hipertensão arterial, diabetes, alimentação balanceada, com pouca ingestão de gordura e açúcares, como condição para uma longevidade saudável. Ele explica que as patologias de maior incidência na velhice é a osteoporose, diabetes, mal de Alzheimer (falha da memória recente) e tumores, entre outros problemas. O médico ressalta que muitas doenças afloram no idoso através do processo de somatização. Eles reagem aos problemas de forma tensa, estressante, desfavorável ao seu bem-estar, desenvolvendo uma série de complicações que vão desde a alteração do sono até a hipertensão arterial. Daí em diante desenvolve uma seqüela quase interminável de patologias. Da labirintite até a doença cardíaca, tudo aparece na  terceira idade, principalmente para quem não sabe  interagir bem com a vida. Cada indivíduo tem suas  características próprias, o estilo de vida, a carga genética, a história clínica da família são determinantes nas patologias da terceira idade, como alerta o geriatra. Ele frisa que quando a afetividade é bem trabalhada, o indivíduo tem maiores chances de uma velhice saudável. “Uma pessoa amada adoece menos”,  enfatiza o especialista, advertindo que é imprescindível manter com os idosos uma relação de muito respeito e amor. “Quem tem um idoso em casa dê carinho e atenção, se quiser vê-lo bem”, ensina. Alegria Os idosos encontram nas ONGs, nas associações de bairros e em entidades de classe o apoio que não encontram na esfera governamental. Somente no Sesc/Poço, por exemplo, são 500 os que participam ativamente do programa de atividades sociais, lazer, recreação e de técnicas de relaxamento. A facilitadora de biodança Niyati, do Osho Tao Center, trabalha com idosos duas vezes por mês e confessa que a participação e o grau de receptividade da turma com a terapia é altamente satisfatório. “Eles são acolhedores da proposta do trabalho. Interagem muito bem e mostram uma força interior impressionante, impulsionando a vida. Tenho aprendido muito com eles”, confessou. Niyati explica que a biodança propicia a afetividade, sentimento que boa parte das pessoas não aprendeu a lidar, durante a infância e adolescência. Em função disso, a carência afetiva vai se manifestar em determinada fase da vida, coincidindo, na maioria dos casos com a terceira idade. Na biodança as pessoas entram em contato com a linguagemdo próprio corpo, com os cinco sentidos, com o olhar e o toque do outro. Além disso, os exercícios comandados pelo facilitador podem favorecer grandes descobertas nos participantes, como diz Niyati. Além do trabalho comidosos, no Sesc, ela mantém uma turma de biodança toda segunda-feira, a partir das 20 horas,no Osho Tao Center, em Pajuçara, no Park Place Center, com adultos jovens. No Sesc, a biodança é um dos momentos de êxtase para os idosos, como eles mesmos confessam. “Eu nunca tinha dançado em toda minha vida. Não sabia que era tão bom. Descobri aqui que gosto e que faz um bem enorme à mente. Depois da biodança passei a ter mais disposição de viver. Voltei a dormir tranqüilamente e a gostar mais dos outros e de mim mesma”, confessou dona Irailda Persiano. Outra que também fez questão de falar de sua melhora com a biodança foi dona Terezinha Santos. “Antes eu fazia tudo como uma obrigação. Depois da biodança passei a enxergar as coisas com outros olhos. Com o olho do amor, da afetividade. Quero bem a tudo e a todos. Quando vejo alguém desanimado com a vida, mando fazer biodança. Aqui os movimentos têm uma função de acalmar a gente, relaxar e devolver a autoconfiança, a fé em que tudo vai melhorar. A gente passa a acreditar no amor e a senti-lo bem de perto, com a presença do próximo”.

Mais matérias
desta edição