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Nº 5824
Cidades

Esquecidos pelo tempo e pelas fam�lias, idosos vivem de filantropia

Uma realidade bastante diferente da experimentada pelos idosos que freqüentam o Clube da Melhor Idade é a dos 76 velhinhos que vivem na Casa dos Pobres, no bairro do Vergel do Lago. São 53 mulheres e 23 homens carentes que, em sua maioria, foram esquecido

Por | Edição do dia 22/09/2002 - Matéria atualizada em 22/09/2002 às 00h00

Uma realidade bastante diferente da experimentada pelos idosos que freqüentam o Clube da Melhor Idade é a dos 76 velhinhos que vivem na Casa dos Pobres, no bairro do Vergel do Lago. São 53 mulheres e 23 homens carentes que, em sua maioria, foram esquecidos pelos familiares. Os que ainda recebem visitas vêem os parentes com uma freqüência cada vez menor. Uma das dez religiosas que, com médicos geriatras e fisioterapeutas, assiste os abrigados na Casa dos Pobres, afirma que muitos deles sobrevivem apenas na esperança de receber a visita e contar com a solidariedade de clubes de serviços, algumas associações sociais, entidades ligadas à igreja católica, do grupo Encontro de Casais com Cristo. Legião de Maria e diversos grupos formados por jovens. “Muitas dessas pessoas moravam na casa dos filhos e dividiam apenas um cômodo com a nora, os netos e mais alguns parentes. Alguns estão aqui porque a situação financeira não os permite ficar em casa, sem ter ao menos assistência medicamentosa. Outros foram simplesmente abandonados por parentes ou conhecidos. Há ainda os que vieram para cá por conta própria para amenizar a solidão”, explica a irmã Irene Cardoso Teixeira. É o caso da dona Ananias Maria da Conceição, uma das mais animadas moradoras da ala feminina. Com 78 anos, mora na instituição há nove meses. Sem nunca ter se casado ou mesmo tido um namorado “firme”, ela sempre ajudou os pais a cuidar dos irmãos mais velhos. “Todos foram morrendo, casando, tendo seus filhos e eu ficando para trás. Morei com meu irmão por um tempo, era bem tratada, mas percebia que estava sobrando em casa. Resolvi, então vir para cá. Sou bem cuidada e estou feliz. Lá fora, ninguém me trataria bem”, disse com a voz firme e ao mesmo tempo desmotivada. Sua companheira de quarto, a costureira Maria do Carmo Barbosa Silva, 79 anos, também solteira, morou muito tempo com uma irmã no Rio de Janeiro. Veio a passeio para Maceió, visitar uma outra irmã, onde acabou ficando porque a do Rio faleceu. “Estou muito satisfeita aqui. Teria medo de viver lá fora. Não sei como seria tratada”. O ex-cortador de cana Darci José, 81 anos, vive há cinco na Casa do Pobre, já foi casado uma vez e “junto” outra. Separado da primeira esposa e viúvo da segunda companheira, teve seis filhos, hoje sofre com dores fortes nas pernas que o impossibilitam de andar sem a ajuda de muletas. “Tenho um ótimo relacionamento com meus quatro filhos vivos, mas infelizmente nenhum tem condições financeiras de me sustentar ou comprar os remédios que preciso. Aqui estou bem, inclusive recebendo a visita de todos eles. Só não quero saber de mulher. Quando tinha dinheiro todas me queriam”, reclama com uma expressão de quem teve alguma decepção amorosa.

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