Metade de Macei� vive em situa��o de exclus�o social
MAIKEL MARQUES Os aglomerados subnormais, conceito usado pelo IBGE para definir os favelões que se proliferam diante da inoperância das políticas governamentais de incentivo à sobrevivência do homem no campo, são a degradante morada de milhares de
Por | Edição do dia 29/09/2002 - Matéria atualizada em 29/09/2002 às 00h00
MAIKEL MARQUES Os aglomerados subnormais, conceito usado pelo IBGE para definir os favelões que se proliferam diante da inoperância das políticas governamentais de incentivo à sobrevivência do homem no campo, são a degradante morada de milhares de cidadãos na periferia da capital alagoana, que dispõe de vergonhoso percentual segundo o qual mais da metade de sua população vive em condições de exclusão social. Dados da Secretaria Municipal de Coordenação das Regiões Administrativas apontam, ainda, para o índice de marginalização superior a 69% em comunidades como a Favela do Lixão ou grotas espalhadas por bairros como Benedito Bentes, Jacintinho ou São Jorge. A maioria dos moradores de favelas como a do Lixão, são vítimas da inexistência de oportunidades de permanência ou fixação, por exemplo, em zonas canavieiras. Desempregados em virtude da utilização da tecnologia na agricultura, encontram como única alternativa a migração para a vida nas favelas da capital que não lhes reserva grandes oportunidades de sobrevivência em virtude da absoluta ausência de escolaridade mínima ou mesmo de qualificação profissional, aponta a assistente social Ana Paula Silva dos Santos, da Fundação Municipal de Apoio à Criança e ao Adolescente. Estratégias Autora do trabalho As estratégias de sobrevivência dos moradores da Favela do Lixão, recentemente apresentado como projeto de conclusão do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), ela levanta informações, baseadas em pesquisa censitária com mais 750 pessoas, e que são uma amostra do perfil do cidadão habitante das favelas da capital alagoana. Os excluídos da favela do Lixão, em Maceió, provêm, em sua maioria, da Zona Canavieira e acabaram expulsos do campo em decorrência do elevado índice de desemprego (81%) ou ainda motivados pela absoluta falta de oportunidades de progresso social (13%). Em sua maioria oriundos do trabalho braçal, os excluídos passam a viver, segundo a assistente social, de forma tão degradante quanto à vida baseada no uso da enxada ou da foice. Em vez do progresso, passam a tirar o sustento da não menos degradante atividade da cata de lixo, onde também buscam o alimento necessário ao preenchimento do estômago, pouco acostumado à alimentação de qualidade. Ana Paula informa, ainda, que, diante da ausência do poder público no direcionamento de políticas essenciais de sobrevivência, os favelados acabam por reproduzir sua miséria e ainda sofrem com espertalhões que vivem da exploração dessa miséria. Eles repassam o lixo coletado nos entulhos aos nove atravessadores integrantes de um cartel e com atuação na favela. Estes, por sua vez, lhes impõem um valor muito reduzido para compra desse material, que rende até 200% de lucro ao mesmo atravessador, afirma Ana Paula. Segundo ela, a ação desenfreada do cartel do lixo impede o progresso socioeconômico dos catadores, que poderiam colher bons frutos a partir de associação comunitária fundada há alguns anos e que também sofre com a falta de apoio do poder público.