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Nº 5824
Cidades

Campanha pol�tica garante emprego informal a centenas de alagoanos

FÁTIMA ALMEIDA Todos os dias Lourinete Maria dos Anjos, 35 anos, quatro filhos, acorda às 5h, prepara o almoço da filharada, dá uma geral na casa e às 7h já está saindo para o emprego conquistado recentemente, após um ano e quatro meses desempregada. Tên

Por | Edição do dia 29/09/2002 - Matéria atualizada em 29/09/2002 às 00h00

FÁTIMA ALMEIDA Todos os dias Lourinete Maria dos Anjos, 35 anos, quatro filhos, acorda às 5h, prepara o almoço da filharada, dá uma geral na casa e às 7h já está saindo para o emprego conquistado recentemente, após um ano e quatro meses desempregada. Tênis no pé, boné na cabeça, bermuda e camiseta, e a pele queimada do sol compõem o visual que está mais para a praia do que para qualquer outra coisa. Só falta o principal instrumento de trabalho: a bandeira do seu candidato. Lourinete, Rosineide, Ana Paula, Fabrício, Alexandro... alguns jovens, outros nem tanto; alguns escolhidos pela beleza e simpatia, outros pela disponibilidade. Todos juntos, com suas diferenças e semelhanças, integram um verdadeiro exército que tomou as ruas de Maceió desde agosto, quando começou a propaganda eleitoral, anunciando um novo e temporário mercado de trabalho: os “bandeirinhas da política”. Forma física Como seus xarás (aqueles do futebol), eles têm que estar em boa forma física, bem situados à margem da pista e agitando suas bandeiras, de um lado para o outro, para os eleitores que passam. A jornada dos “bandeirinhas da política” não é tão grande, mas o trabalho é cansativo. Às 8h Lourinete já tem que estar instalada em algum ponto estratégico definido pelo comitê de campanha, agitando a bandeira, de maneira a chamar a atenção para o nome do seu candidato. Em pé, debaixo do sol quase sempre escaldante, ela cumpre diariamente uma jornada de 6 horas corridas. Não pode sentar nem sair do posto de trabalho. Vez por outra os fiscais do comitê passam para ver se tudo está funcionando direitinho. “Às vezes vem lanche, às vezes não. Não vou mentir”, diz ela. Mas Lourinete agüenta firme até a hora de largar, às 14 horas, e não reclama. No final do mês ela terá R$ 120,00 para ajudar na alimentação dos quatro filhos. Jornada Sua história é parecida com a de Ana Paula, 21 anos, mãe solteira de uma criança de 1 ano que, nas últimas semanas, tem ficado com a avó. Só que Ana Paula nunca trabalhou. Agora ela começa às 14h e larga às 20h. “Pelo menos estou podendo ajudar um pouco na alimentação de meu filho”, diz ela. A jornada de trabalho e as regras são as mesmas e a remuneração também. Diferente mesmo só o candidato. Difícil é saber quantas pessoas a movimentação das bandeirinhas abriga no período eleitoral. Pelo colorido das ruas, são milhares, mas os comitês revelam poucas. “Não temos mais que 130”, assegura José Helington, coordenador de marketing do candidato ao governo, Fernando Collor de Mello. O restante, segundo ele, são contribuições dos candidatos a deputado estadual e federal, o que dificulta a soma do total de pessoas nas ruas. “Nós temos uma faixa de 80 a 110 pessoas nas ruas, podendo aumentar, dependendo do evento”, diz Olavo Wanderley, do comitê de campanha do candidato Ronaldo Lessa, que também disputa o governo do Estado. Segundo ele, o restante são os simpatizantes, lideranças comunitárias e candidatos que mobilizam. Valores As conversas em relação aos números são parecidas. A diferença está nos valores que eles asseguram que pagam. Alguns comitês dizem que pagam um salário mínimo por pessoa. Outros chegam a R$ 10,00 a diária, mas nem sempre os “bandeirinhas” cumprem uma jornada diária, o que lhes asseguraria um rendimento de R$ 300,00 por mês. Além do pagamento, os comitês garantem a alimentação, o transporte, mas ninguém confessa o valor declarado pela maioria dos “bandeirinhas”: R$ 120,00 por mês.

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