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Nº 5811
Cidades

Alagoas na rota do tr�fico de aves silvestres - Parte II

“Além do levantamento das áreas onde o tráfico é mais freqüente, também há a proposta de se formar equipes mistas, com os fiscais do Ibama de cada Estado nordestino, para dificultar a identificação por parte dos traficantes”, disse o major Neudo Aroldo.

Por | Edição do dia 24/02/2002 - Matéria atualizada em 24/02/2002 às 00h00

“Além do levantamento das áreas onde o tráfico é mais freqüente, também há a proposta de se formar equipes mistas, com os fiscais do Ibama de cada Estado nordestino, para dificultar a identificação por parte dos traficantes”, disse o major Neudo Aroldo. O Ibama de Alagoas, para combater o tráfico de animais no Estado, vem fazendo convênios de parceria com as polícias Federal, Rodoviária Federal e Florestal. “Afinal, não compete especificamente ao Ibama investigar. Estamos fazendo nossa parte, não só no combate ao tráfico de animais, como também na fiscalização de danos à flora. Sabemos que temos a obrigação de combater isso, que é grave, mas não podemos fazer tudo sozinhos”, disse o major Neudo Aroldo. Mas, segundo os fiscais, o maior parceiro contra o comércio ilegal de papagaios e de outros animais é a sociedade. “A sociedade é a nossa grande parceira e deve ser conscientizada disso e convidada a participar dessa fiscalização. Se tivermos o apoio e a compreensão da população, com certeza nossa tarefa será mais fácil”, disse o fiscal Deraldo Omena. Colonização O fascínio provocado pelas aves silvestres fez com que os colonizadores do Brasil estimulassem a “cultura da captura”, da manutenção em cativeiro doméstico e da aquisição dessas aves como animais de estimação. Na primeira remessa de animais silvestres, feita para o rei de Portugal por Pedro Álvares Cabral (o suposto descobridor do País), quando chegou ao Brasil, encontravam-se alguns exemplares de papagaios. Assim começou um tráfico intenso de animais silvestres no País, que levou diversas espécies nativas, como a ararinha-azul por exemplo, à extinção. A espécie foi completamente extinta, depois que o último macho remanescente da espécie desapareceu, no final do ano passado, do sertão da Bahia, onde vivia. Esse aspecto cultural prejudica bastante o trabalho de fiscalização por parte do Ibama. Famílias Segundo o veterinário do Centro de Triagem de Animais (Cetas) do Ibama, Marcelino Weigmar, esse é um fator preocupante, pois as famílias adotam os papagaios como membros, criando uma afeição pela ave que pode ser perigosa, especialmente para crianças. Ele explica que essa afeição dá mais força ao tráfico. “O animal tem peculiaridades. Todo mundo acha o bicho simpático e acaba se afeiçoando, ficando conivente com a criação indevida. As pessoas só denunciam ao Ibama quando chama a atenção e começa a incomodar. Contudo isso é perigoso não só para o habitat, onde a ave faz parte de um ecossistema e controla possíveis pragas. Um papagaio, dentro de uma residência pode causar doenças respiratórias, como a asma por exemplo, principalmente em crianças. Manter um animal como esse em cativeiro é um erro, já que se trata de um animal silvestre como qualquer outro”, disse o veterinário. “O convívio humano com a animal é impraticável. É uma ingenuidade das pessoas pensar que pode conviver sem problemas com esse tipo de ave. Tem gente que nem sequer imagina isso”, adicionou. Doméstico Além disso, Weigmar explica que a convivência doméstica pode ser prejudicial ao próprio papagaio, até mesmo pelo excesso de cuidados indevidos . “As vezes, um alimento diferente, que é dado ao animal, acaba prejudicando o mesmo. Boa parte dos papagaios que recebemos apresenta esse problema”, revelou. A maior parte dos papagaios que chegam ao Cetas depois de apreendidos, conforme o veterinário, apresenta diversos problemas. “É um desastre. Quando são doados, geralmente chegam em boas condições. Mas quando são apreendidos, apresentam problemas como estresse, fome e sede, por exemplo. A situação é tão crítica que, de cada dez aves que chegam ao Ibama, oito morrem”, afirmou. Geralmente, de acordo com Weigmar, não aparecem doadores voluntários. “Há também casos mais graves ainda, onde cortam a laringe, quebram e cortam as asas, dão anestésicos e até bebida alcoólica para o papagaio. Geralmente, nesses casos, a morte é que ocorre com freqüência. Os que continuam vivos passam por períodos longos de recuperação, que duram em média dois meses”, acrescentou o veterinário. Apesar de todo esse quadro preocupante, Weigmar disse que o animal ainda não está na lista de extinção. Mas avisa que esse perigo não está distante.

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