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Nº 5759
Cidades

Alagoas na rota do tr�fico de aves silvestres - Parte I

O Instituto Brasileiro de Auxílio ao Meio Ambiente (Ibama) está montando uma estratégia de combate ao tráfico de papagaios em Alagoas e deverá lançar, ainda este semestre, uma campanha educativa contra o comércio ilegal do animal. Segundo informações do p

Por | Edição do dia 24/02/2002 - Matéria atualizada em 24/02/2002 às 00h00

O Instituto Brasileiro de Auxílio ao Meio Ambiente (Ibama) está montando uma estratégia de combate ao tráfico de papagaios em Alagoas e deverá lançar, ainda este semestre, uma campanha educativa contra o comércio ilegal do animal. Segundo informações do próprio órgão, apesar de não haver nenhuma espécie nativa deste animal no Estado, o território alagoano faz parte da principal rota do tráfico dessa ave silvestre, que passa entre os Estados da Bahia (origem) e Pernambuco. A informação é do responsável pela fiscalização do Ibama em Alagoas, major Neudo Aroldo. Segundo ele, o tráfico de animais, em especial de papagaios, já é uma das mais lucrativas, perdendo apenas para o comércio ilegal de armas e de drogas. “Eles possuem uma estrutura de organização muito boa. É muito difícil apreender os animais comercializados dessa forma, mesmo porque, graças a essa organização, eles já nos conhecem, já sabem quem somos. Eles sabem como fazer a coisa”, afirmou. De acordo com o major, a estrutura da qual dispõe o Ibama para fiscalizar o Estado é precária. “Nosso número de fiscais é reduzido. Temos 20 pessoas trabalhando nessa área, com 12 na capital e o restante dividido entre as cidades do interior alagoano”, revelou. “Isso facilita ainda mais a ação dos traficantes”, acrescentou Aroldo. Fiscalização O fiscal Deraldo Omena confirma isso, citando inclusive outros fatores que atrapalham o trabalho de fiscalização por parte do Ibama. “A identificação nos veículos é um outro fator que dificulta, pois os traficantes têm um sistema muito eficiente de comunicação. Além disso, temos normas fixas, que nos impedem, em alguns casos, de realizar ações mais rápidas e objetivas. Já os traficantes não têm regras pré-definidas e a estrutura de trabalho deles é muito eficiente”, disse. Além de um eficiente sistema de intra-comunicação, o fiscal do Ibama também acredita que os grupos por trás do comércio ilegal de papagaios não tenham um local fixo de atuação, apesar de reconhecerem que há pontos no Estado onde essa atividade ilícita é mais intensa. Eles não citaram cidades, mas disseram que os municípios onde isso ocorre estão localizados nos extremos sul e norte de Alagoas. Outro fator que dificulta a ação do Ibama, segundo os fiscais, seria a conivência de alguns motoristas de ônibus interestaduais e turísticos com os traficantes. “Se o animal for encontrado dentro de um ônibus de viagem, a responsabilidade é do dono do veículo”, disse o major Neudo Aroldo. Alguns motoristas da empresa Bonfim, segundo os fiscais, seriam suspeitos de estar acobertando os traficantes, e poderão ser indiciados. Traficantes Os traficantes de papagaio, além de comercializarem os animais ilegalmente, também são suspeitos em alguns casos, de acordo com a fiscalização do Ibama, de falsificação. “Em alguns casos, eles vendem jandaia (um pássaro parecido com papagaio) como se fosse papagaio. Para isso, mutilam e pintam essas aves, que também são silvestres. Em alguns casos, nós já encontramos até filhotes da espécie nessa situação”, revelou o fiscal Deraldo Omena. Além da Bahia, o Maranhão, o Ceará e Pernambuco são outros Estados nordestinos nos quais, segundo o setor de fiscalização do Ibama em Maceió, servem como ponto de origem para as rotas de tráfico, não só de papagaios, como de outras aves silvestres, como a Arara por exemplo. Os três Estados abrigam os habitats da maioria dessas aves. O período que compreende os meses de setembro a março é o mais suscetível para a ação dos traficantes de aves silvestres, já que se trata da época em que os filhotes, ainda no ninho, estão mais vulneráveis. Geralmente, conforme o Ibama, os que compõem a rede de tráfico desses animais os capturam ainda na fase em que são filhotes. Falta de estrutura Apesar da falta de estrutura, o Ibama apreendeu, no último mês, mais de 600 papagaios, entre os Estados do Piauí, Bahia, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. Os animais eram das espécies Amazona Festiva, Amazona Xanthopes e Amazona Aestiva (a mais comum no Estado, também conhecida popularmente como Papagaio Verdadeiro ou Baiano). Em Maceió, segundo a fiscalização do Ibama local, não há registro de apreensões. Este ano, não houve nenhuma ocorrência nessa área. Até hoje, os fiscais do órgão em Alagoas só conseguiram deter um traficante especialista no comércio ilegal de papagaios. “Ele foi conduzido à Polícia Federal, mas foi solto pouco tempo depois”, revelou o fiscal Deraldo Omena. “Segundo informações que chegaram até nós, ele continuaria a atuar como traficante”, adicionou. As pessoas que têm participação comprovada na retirada dos papagaios do habitat, e no transporte desses animais, são acusadas de crime ambiental e podem ser punidas com multa de R$ 500,00 por espécime apreendido e prisão de seis meses a um ano, de acordo com a Lei nº 9.605, de Crimes Ambientais. Além do tráfico, a posse do animal em cativeiro também pode ser enquadrada como crime contra a natureza. Para combater o tráfico, o responsável pelo setor de fiscalização disse que algumas estratégias e medidas estão sendo adotadas pelo Ibama em todo o País. Uma das propostas fala na formação de um setor na Polícia Federal destinado apenas ao combate ao comércio ilegal.

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