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Nº 5822
Cidades

Mais de mil crian�as permanecem nas ruas

WELLINGTON SANTOS O resultado do relatório sobre pesquisa feita a respeito dos meninos e meninas de rua em Maceió, em agosto deste ano, pelo Núcleo Temático da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), divulgado essa semana,

Por | Edição do dia 27/10/2002 - Matéria atualizada em 27/10/2002 às 00h00

WELLINGTON SANTOS O resultado do relatório sobre pesquisa feita a respeito dos meninos e meninas de rua em Maceió, em agosto deste ano, pelo Núcleo Temático da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), divulgado essa semana, revela que o índice de permanência deles nas ruas é muito alto. Outro dado importante e motivo de preocupação do Núcleo, ainda de acordo com a pesquisa, é que além do aumento da exploração do trabalho infantil constatado nas vias e semáforos da cidade, cresce assustadoramente o consumo de drogas entre essas crianças e jovens, principalmente do sexo masculino. O universo pesquisado foi de 1.019 crianças no turno da manhã, 310 à noite e 153 na madrugada. As situações encontradas pelos educadores para efeito de pesquisa foram a de trabalho na rua, esmolando (mendicância), brincando, dormindo, usando drogas e sem atividade. De acordo com a coordenadora do Núcleo, Cláudia Malta, o estudo foi desenvolvido nos turnos da manhã, noite e madrugada, sempre às sextas-feiras (dia de maior concentração de crianças nas ruas), em função da especificidade do fluxo e da permanência nos turnos referidos, adotando-se o roteiro 1, correspondente ao turno da manhã, e o roteiro 2, para a noite e a madrugada. Os itens referentes a trabalho e uso de drogas tiveram os maiores percentuais, somando-se todos os turnos. Em situação de trabalho no turno da manhã, de um total de 1.019 jovens, a pesquisa aponta que nesse item 79,6% são do sexo masculino e 20,4% do feminino. À noite, do universo de 310 pesquisados, 87,1% são do masculino e 12,9% do feminino. Na madrugada, ainda em situação de trabalho, 85% do sexo masculino e 15% do feminino. No item uso de drogas, o estudo mostra que a prevalência do sexo masculino é maior do que nos outros itens em relação ao feminino, com 81,1% a 18,9% no turno da manhã; com 77,4% a 22,6% (à noite) e 90% a 10% na madrugada. Desproteção social e violência “Isso vem mostrar à sociedade e aos órgãos públicos a permanência perversa dessas crianças nas ruas. Esses pequenos atores vêm desempenhando estratégias sem nenhum esquema imposto ou disciplina e muito mais ao sabor da insistência em lutar por trabalho ou ocupação de sobrevivência a partir das oportunidades que aparecem nas ruas, configurando-se em movimentos incertos, nos quais alternam atividades de trabalhos precários de mendicância e utilização de substâncias entorpecentes, de descanso e brincadeiras”, destacou, emocionada, a coordenadora Cláudia Malta ao apresentar o relatório. E acrescentou, ainda, a educadora: “Caracterizam-se, assim, situações de desproteção social e violência, de expropriação dos supostos direitos constitucionais e estatutários e de exploração de vida, por meio dos quais crianças e jovens vêm construindo nas ruas histórias pela supressão de processos sociais vitais de desenvolvimento. São meninos e meninas de rua em situação de risco e sem infância, que se apresentam de forma clara, mas invisíveis para os sistemas de garantias e direitos, ou seja, os programas sociais não chegam a eles”. Ela enfatizou, em relação ao uso de drogas, que o quadro é tão grave que ficou constatado na pesquisa, através da identificação dos educadores, que a maioria dos meninos usava entorpecentes freqüentemente acompanhados por jovens que já se eternizaram nas ruas. Portanto, acrescenta Cláudia, o relatório aponta para a manutenção da realidade e expressa a ausência de construção de alternativas políticas pelo poder público e pela sociedade. Segundo a professora Mariluce Veras, também integrante do Núcleo, o objetivo desse estudo era conhecer o quantitativo de meninos e meninas nas ruas que se encontram nos locais de maior concentração urbana de Maceió e subsidiar propostas governamentais e não-governamentais para crianças em situação de risco pessoal e social. Para isso, os setores foram mapeados e previamente divididos em oito setores nos eixos do Centro/Mercado, Poço, Farol e Orla Marítima subdividida em três grupos, que contou com a participação do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, Centro Erê, Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania e o Centro de Ressocialização de Menores (CRM). De acordo, ainda, com Mariluce, a técnica utilizada foi a da observação, que consiste na contagem do número de crianças e a identificação da situação em que elas se encontravam, não sendo utilizado o método da entrevista, que só será feita num trabalho mais amplo previsto para novembro. A coordenação da pesquisa contou, ainda, além das professoras Cláudia Malta e Mariluce Veras, com Maria Cristina (Centro Erê), José Reginaldo dos Santos (Centro de Defesa) e Edmilson Vasconcelos (Secretaria de Justiça). Para a execução teve apoio do Ministério Público, Secretaria de Justiça, do Instituto de Tecnologia e Informação (Itec) da Secretaria de planejamento, Secretaria Estadual da Assistência Social, Centro Erê, Juizado da Infância e da Adolescência e centro de Defesa Zumbi dos Palmares. Foram cedidos por esses órgãos veículos com motoristas e apoio logístico. As equipes de pesquisadores foram compostas por educadores do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, no total de 16, e 27 alunos do curso de Serviço Social da Ufal.

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