Cidades
Obra inacabada na orla exp�e popula��o ao perigo

Uma obra que nunca acaba e a falta de policiamento são algumas das preocupações dos adeptos de caminhadas que se utilizam da área ?urbanizada? das praias da Avenida e do Sobral. São pessoas que praticam o cooper num trecho de aproximadamente cinco quilômetros, por simples prazer ou para melhorar o condicionamento físico, mas existem também aquelas que necessitam caminhar por questões de saúde, os mais idosos, que mesmo se forçadas não poderão correr para escapar de um perigo iminente. São essas pessoas que buscam a praia mais cedo. Algumas chegam ao local antes das cinco da manhã. No trecho esburacado pelos trabalhos da Prefeitura (que pretendia terminar a reforma em 20 meses), as pessoas encontram dezenas de moleques, os ditos cheira-colas. Muitos ainda estão dormindo em bancos e calçadas, mas são os acordados, a maioria drogada, que ameaçam a integridade física dessa parcela da população. Eles se concentram em pontos determinados como, partindo da Praia da Avenida, a ponte do Riacho Salgadinho, o monumento em homenagem aos ex-pracinhas, próximo à Praça do Sinimbu, nas imediações das Lojas Americanas e próximo ao Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran), já na Praia do Sobral. Há relatos de senhoras que foram afrontadas, assediadas e assaltadas. Um cidadão, idoso, identificado por Esperon, foi agredido por ladrões, por volta das cinco da manhã. Os marginais levaram o seu relógio. Dona Carmelita dos Santos, de 70 anos, relata que, por orientação médica, precisa fazer caminhadas diárias. Como não tem filhos morando próximo e já está viúva há quase uma década, aventura-se pela praia sozinha contando, como diz, ?com os poderes e as graças de Deus?. Ela admite que certa vez ficou muito assustada com dois cheira-colas que chegaram perto dela para olhar o que trazia numa das mãos. Fugiram ao perceber que se tratava de um terço. Calçadão sem segurança Abandonados pelo setor de segurança pública, os usuários das praias da Avenida e do Sobral, por vezes, reúnem-se em grupos para se proteger dos perigos a que estão expostos durante as caminhadas. Apesar de não se conhecerem, optam por caminhar próximos uns dos outros para dificultar, por exemplo, a ação dos pivetes cheira-cola. Mas quem se aventura sozinho sempre tem uma experiência negativa para contar. Dona Sônia, uma funcionária pública de 38 anos, admite que foi assediada por um rapaz, de uns 18 anos, que aparentava estar drogado. ?Minha sorte é que não estou doente. Sai correndo, em disparada, até encontrar dois homens que caminhavam no sentido contrário?, completou. Fedentina e urubus Distantes de terem o mesmo tratamento de outros adeptos do cooper que moram em bairros nobres e procuram as praias de Jatiúca e Ponta Verde, recebendo proteção de policiais militares e civis (trajando, inclusive, ternos) e onde existem áreas para ginástica com médicos e enfermeiros; as pessoas que recorrem aos locais mais populares estão sujeitas a conviver com a fedentina do Riacho Salgadinho, os urubus do emissário submarino e a incômoda presença dos bandos de meninos de rua. ?Não posso aceitar que seja necessário pegar um ônibus para se deslocar até a Ponta Verde para que seja possível andar sossegado, sem receio de vir a sofrer uma agressão física ou moral. Estamos sendo atacados aqui diariamente e nenhuma autoridade faz nada?, protestou Miguel dos Santos, um funcionário público aposentado de 66 anos. Sem poder de mobilização ou financeiro capaz de sensibilizar as autoridades, restou aos praticantes de cooper das Praias da Avenida e do Sobral denunciar o descaso à imprensa e preparar um abaixo-assinado no sentido de mostrar quem e quantos são. Eles solicitam à prefeita Kátia Born que modifique o projeto inicial da inacabada urbanização e construa, pelo menos, um módulo esportivo, nos moldes dos que existem nas praias da parte rica da cidade. Acreditam que a desportista prefeita atenda ao anseio desses esquecidos munícipes. Quanto à falta de policiamento, é feita uma exigência: que seja dado tratamento igual em todo setor urbanizado hoje utilizado para caminhadas. Que uma viatura de qualquer que seja o batalhão da Polícia Militar apareça, não precisando ser homens de terno e gravata, mas que estejam uniformizados, visto que a polícia ostensiva é respeitada pelos moleques drogados que dividem as praias com o pessoal da caminhada. Também não é necessário que percorram o trajeto o tempo todo. ?O que é preciso, afirma Maria José dos Santos, é que passem pelos locais críticos por duas ou três vezes, entre 5 e 7 horas. A partir daí, os militares que se engajam nas caminhadas todo dia é o bastante para nos dar segurança?.