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Nº 5790
Cidades

Abrigos guardam hist�rias de vida

O portão de ferro do abrigo é pesado, separa dois mundos, o antes e o por vir. Do lado de fora, a juventude ficou num emaranhado de memórias, boas e doídas. Do outro lado do portão, é um lar de idosos. Sabedoria e maturidade convivem com muletas, cadeiras

Por | Edição do dia 01/12/2013 - Matéria atualizada em 01/12/2013 às 00h00

O portão de ferro do abrigo é pesado, separa dois mundos, o antes e o por vir. Do lado de fora, a juventude ficou num emaranhado de memórias, boas e doídas. Do outro lado do portão, é um lar de idosos. Sabedoria e maturidade convivem com muletas, cadeiras de rodas, remédios e lições de vida. Entre elas, o respeito, a humildade e a consciência do envelhecimento inevitável. “Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa”, explicou, certa vez, Machado de Assis. “A certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras”, completa o grande escritor. Em busca de vidas antigas e novas, a Gazeta visitou o Lar São Vicente de Paulo, na Cambona, e a Casa do Pobre, no Vergel. Qualquer pessoa que atravessa aqueles portões tem muito a aprender, seja com o ex-marinheiro e fundador da Escola de Samba Unidos do Poço ou com o relojoeiro que passou a vida olhando ponteiros, mas não viu o tempo passar. Deitada na cama, sem enxergar muito, nem ouvir direito, Ofenísia Cavalcante Moraes diz que não tem dor, não sente problema nenhum e assim vai vivendo. “Já vivi 101 anos, nunca pedi vida longa e não tenho prisão de ventre. Já pedi muito a Deus, mas agora não peço mais nada”, ensina a mulher, que viveu os últimos 31 anos no abrigo.

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