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Nº 5822
Cidades

Uma fam�lia condenada pela fome e o abandono

São José da Tapera - Eliane, 7, e Lúcia, 5, juntas não pesam 40 quilos; raquíticas, são os exemplos da miséria que ainda respiram, falam e andam, mas estão condenadas à tuberculose, doença que retornou a engrossar as estatísticas macabras de Alagoas como

Por | Edição do dia 01/12/2002 - Matéria atualizada em 01/12/2002 às 00h00

São José da Tapera - Eliane, 7, e Lúcia, 5, juntas não pesam 40 quilos; raquíticas, são os exemplos da miséria que ainda respiram, falam e andam, mas estão condenadas à tuberculose, doença que retornou a engrossar as estatísticas macabras de Alagoas como prova de que o Estado é mesmo o segundo mais miserável do País. Se não bastassem esses exemplos vivos, os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por si só, remetem a população alagoana à condição de subraça, onde 95% das causas da mortalidade infantil são a fome e os 5% restantes a contaminação pela água ingerida. “Essa é a nossa situação. A gente ouve e vê muita mentira na televisão, quando dizem que a situação em Tapera melhorou. Se melhorou, foi graças ao trabalho dos particulares. Quem disser que foi por causa das ações do governo está mentindo e a prova está aqui para quem quiser ver. A creche que assistia a setenta crianças está fechada há um ano e o posto médico também foi fechado. E do que adianta o médico, se o povo não tem dinheiro para comprar remédio?”, denunciou Metódio Rodrigues. O Clamor Até mesmo o marido da vereadora Iraldete (PSDB), líder do povoado Caboclo, admite que a fome em Tapera está fora do controle. Não posso dizer que está sob controle, porque não está. Aqui muita gente morre de fome mesmo e nós não podemos fazer nada, porque é muita gente, reconheceu Chiquinho, como é mais conhecido no povoado. Ele garante fazer o que pode para amenizar a situação, mas alerta que tem muitas crianças sem assistência, fora da escola, porque os pais não têm condições de mantê-las nas salas de aula. Quem não ficou de fora do Programa Bolsa-Escola enfrenta a dura realidade de ter de dividir o dinheiro para manter toda a família. É o caso, por exemplo, de dona Cícera, que tem nove filhos, mas há o limite para o recebimento da bolsa, que só pode ser paga a, no máximo, três crianças por família. “O que é que eu faço com as outras seis? Mando para a rua, arranjar comida. Não posso fazer nada. Três estão na escola e seis estão na rua, porque é preciso arranjar alimento”, justifica. O clamor dessas famílias ainda está longe de ser ouvido. Nenhuma desistiu de lutar, mas nota-se entre todas a resignação ; é como quem se sente culpado. Até mesmo o programa habitacional no município de São José da Tapera está sob suspeita; as vinte e cinco casas prometidas para acabar com a favela no povoado viraram pesadelo. “Eles deram 300 reais a um, 400 reais a outro e disseram que não poderiam mais construir as casas, porque o governo federal suspendeu a verba. Eu não acredito nisso”, denunciou dona Cícera, uma das que receberam dinheiro em troca da casa. A prefeitura ainda preparou o terreno e até os buracos para os postes da rede de iluminação chegaram a ser abertos, mas ficou nisso. No lugar do conjunto residencial para acabar com as moradias de taipa e os casebres que ameaçam desabar, a prefeitura está fazendo o calçamento do acesso ao povoado. Mesmo assim, não vai atingir os 80 mil metros de calçamento propostos no projeto, mas apenas 8 mil metros. Para uma comunidade que necessita de alimento, remédio, emprego e esperança, a obra não tem serventia alguma. “Veja bem: a tubulação da adutora passa na pista, a 500 metros daqui, mas a água em Caboclo é a coisa mais difícil. Muitas vezes passamos até sessenta dias para ter água nas torneiras. Não precisamos de calçamento”.

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