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Nº 5759
Cidades

O amor atr�s das grades

Uma só sentença e todos sofrem a mesma pena: o amor atrás das grades. Pais e filhos ficam presos a distância, ao vazio da saudade e às regras do sistema carcerário, com celas, muralhas, rifles e rebeliões. Do lado de fora, a família enfrenta o veredito di

Por | Edição do dia 09/08/2015 - Matéria atualizada em 09/08/2015 às 00h00

Uma só sentença e todos sofrem a mesma pena: o amor atrás das grades. Pais e filhos ficam presos a distância, ao vazio da saudade e às regras do sistema carcerário, com celas, muralhas, rifles e rebeliões. Do lado de fora, a família enfrenta o veredito diário de um lar incompleto, sem o homem da casa, sem o principal homenageado do dia de hoje. Esta semana, a reportagem da Gazeta ultrapassou os limites de um presídio alagoano para constatar que não há ferro nem concreto neste mundo capazes de deter ou aprisionar o amor paterno. Pelo contrário, o sentimento só aumenta e passa a ser mais valorizado do que nos tempos de liberdade. É um dote sagrado, indo e voltando, de pai para filho e de filho para pai. Vence qualquer barreira, distância ou tempo, do fim da cadeia ao resto da vida. O Dia dos Pais soa como música aos ouvidos do pedreiro George Moura, condenado por um crime que prefere não citar. Canção que sai dos lábios das duas filhas, com timbre afinado e o gosto de sal da lágrima: “Pai, foi muito chato crescer/ Passei a não ter você, contando histórias para eu dormir/ Mesmo o mundo querendo me derrubar/ Ao meu lado você sempre está/ Pra me levantar quando eu cair”. Elisabete Beatriz, de 16 anos, e Jéssica Caroline, 13, ensaiam há mais de uma semana a música de Lucas Lucco para apresentar na festinha dos pais do Núcleo de Ressocialização do sistema penitenciário. Elas olham uma para outra, respiram fundo, libertam tudo que está atravessado na garganta e soltam a voz: “Pai, eu sei que o tempo é implacável/Afasta nossos corpos, mas aproxima o coração”. Ainda sem saber da surpresa que terá hoje, George olha as paredes da cela e parece ouvir o canto das meninas. “Eu estou perdendo a juventude delas”, reflete o reeducando. A homenagem será um momento raro, a rasgar de alegria o castigo dos pais, cada qual com seus filhos no dia de visitas. Mas, ao cair da tarde, as crianças e as esposas vão embora. O pátio esvazia, o céu escurece e as celas se trancam. A noite de domingo é a mais longa da semana.

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