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Nº 5810
Cidades

Estudo mostra crescimento da viol�ncia contra a mulher

A Delegacia Especial da Defesa da Mulher registrou, no ano passado, o recorde de 2.222 ocorrências, entre lesão corporal, estupros e ameaça contra a mulher, só em Maceió. No ano 2000, a delegacia havia registrado cerca de 900 casos de lesões corporais

Por | Edição do dia 08/03/2002 - Matéria atualizada em 08/03/2002 às 00h00

A Delegacia Especial da Defesa da Mulher registrou, no ano passado, o recorde de 2.222 ocorrências, entre lesão corporal, estupros e ameaça contra a mulher, só em Maceió. No ano 2000, a delegacia havia registrado cerca de 900 casos de lesões corporais contra mulheres. Os números constam do trabalho que a estudante Cacilda Sampaio, do Curso de Direito do Cesmac, produziu para mostrar a escalada da violência contra a mulher em Alagoas. “Parece número cabalístico”, disse a universitária, estarrecida com o que descobriu. Economista formada pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Cacilda Sampaio não esperava encontrar realidade tão cruel. Mas o pior é que a Delegacia da Mulher trabalha sem estrutura. “Se não fosse a abnegação da delegada Maria Aparecida, que equipou por conta própria a delegacia, talvez não se pudesse sequer saber desses números absurdos”, denunciou. Na Delegacia da Mulher, segundo a universitária, faltam pessoal, viatura e até material de expediente. “O computador pertence à delegada. Sem poder estabelecer plantões como antes, a delegacia não tem como funcionar nos finais de semana e a delegada Maria Aparecida se vira como pode” - afirma. O estudo que vem realizando levou Cacilda Sampaio a afirmar que, “se a delegacia contasse com estrutura, as mulheres alagoanas estariam mais protegidas”. Cacilda visitou a delegacia e foi mais longe. “Só vendo para acreditar. Contando ninguém acredita. Se a situação em Maceió é essa, imagine no interior do Estado”, concluiu. Os números da violência contra a mulher, de acordo com o levantamento, revelam verdadeiros campeões de ocorrências, como, por exemplo, a lesão corporal. No ano passado, das 2.222 ocorrências registradas pela Delegacia da Mulher, a universitária descobriu que 1.220 se referem às lesões corporais; em seguida vêm as ameaças (morte e agressão) com 735 casos, estupros com 60 casos, injúria 51 casos e calúnia 41 casos. Segundo Cacilda, as mulheres solteiras são as mais vulneráveis. “Das mulheres agredidas, 1.156 são solteiras, 506 casadas, 54 separadas, 51 divorciadas e 34 viúvas”, acrescentou. No trabalho que realizou, Cacilda destacou também a faixa etária, concluindo que as mulheres com idade entre 29 e 40 anos são as mais agredidas. “Foram 701 casos, ou seja, das mulheres agredidas em Maceió, no ano passado, 701 têm idade entre 29 e 40 anos”, observou, revelando os outros números: “692 mulheres têm entre 18 e 29 anos; 121 mulheres têm entre 12 e 18 anos; 204 entre 40 e 51 anos; 54 entre 51 e 62 anos e 15 têm mais de 62 anos de idade, o que significa dizer que a violência contra a mulher cresceu em todas as faixas etárias”. Outro dado que chamou a atenção da estudante, é a escolaridade. Ela concluiu, chocada, que das mulheres agredidas em Maceió, no ano passado, 142 têm diploma de nível superior, 403 possuem segundo grau e 983 têm o primeiro grau. Do total, 283 não são alfabetizadas. “Veja o crescimento da violência contra a mulher alagoana, apesar de toda a propaganda com a qual se pretende mostrar a imagem falsa de que o problema está sob controle. Não está mesmo e os números da própria Secretaria de Defesa Social mostram a verdade e desmentem a propaganda”, alertou. Cacilda descobriu, através de pesquisas realizadas na Delegacia da Mulher, o crescimento em progressão geométrica da violência contra a mulher em Maceió. Em 2000 foram registradas 1.553 ocorrências, no ano passado o número pulou para 2.222 e, este ano, pelas expectativas dos policiais, chegará perto dos três mil casos. “Essa é a realidade fria dos números e ninguém deve se iludir, porque não se está fazendo nada de concreto para reduzi-lo. A prova disso é o descaso com a Delegacia da Mulher, que funciona graças à delegada Maria Aparecida, que paga para trabalhar. Se alguém duvida do que estou falando, pode comprovar, visitando o prédio da delegacia”, desabafou. Outra comprovação, citada pela universitária, ilustra a preocupação com o futuro. Cacilda descobriu que, em 2000, das 1.553 ocorrências, 72 envolviam mulheres com nível superior. O número de mulheres com diploma universitário, agredidas pelos maridos ou companheiros, vem aumentando a um percentual aproximado de 50% por ano. “Se essa tendência for mantida, no fim do ano, quando for feito o balanço, vamos ter quase 200 mulheres, com nível superior, agredidas em Maceió. Isto é alarmante, porque serve de parâmetro. Imaginem o que não ocorre entre as mulheres sem instrução escolar”- disse a estudante. Avanços – Cacilda Sampaio relata que a violência contra a  mulher não está apenas nas agressões físicas que ela sofre, mas também na falta de oportunidades  para a maioria delas poder sobreviver dignamente. “Claro que  muita coisa avançou nos últimos anos, mas muita coisa ainda tem de ser feito para que Alagoas possa, por exemplo, finalmente, comemorar a indicação de uma mulher para o governo do Estado, para o Tribunal de Justiça e para o Tribunal de Contas”. Embora paraibana de nascimento, Cacilda destaca a cidade alagoana de Palmeira dos Índios pela presença decisiva da mulher nos diferentes setores da administração pública e privada.

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