Queima de fogos leva 40 mil à festa da virada, segundo a PM

Quando os fogos de artifícios começaram a iluminar o mar da Ponta Verde anunciando a chegada do novo ano, nos primeiros minutos dessa segunda-feira, 1º, o catador de latinhas Mizael Dantas da Silva, 42 anos, repousou o saco cheio de latas no chão e ficou contemplando espetáculo no céu de Maceió. Sua admiração, no entanto, durou menos do que os 12 minutos que demorou o show pirotécnico ? ou, como a Prefeitura de Maceió batizou, piromusical, já que os fogos pipocavam no céu ritmados por músicas. Espalhadas em cinco balsas colocadas no mar, a cem metros de distância da faixa de areia por medida de segurança, as cinco toneladas de fogos que custaram aos cofres públicos R$ 650 mil hipnotizaram a multidão espalhada pela enseada da Pajuçara, no antigo Alagoinhas, em frente aos hotéis Ponta Verde e Maceió Mar e nas imediações do Banco do Brasil. Para Mizael, no entanto, o som de uma lata vazia jogada por alguém no asfalto chamou mais atenção. Era o seu sustento. E era para isso que ele estava ali, entre as mais de 80 mil pessoas ? na estimativa da Prefeitura; 40 mil, na da Polícia Militar. O catador precisava transformar as latas em dinheiro para comprar comida. Tinha saído às 8 horas de domingo, 31, do Clima Bom, onde mora sozinho numa casa alugada, e estava há 15 horas sem se alimentar. Sua última refeição ? um prato de arroz com algumas sardinhas enlatadas ? era o que lhe mantinha em pé até então. Antes de sair de casa, Mizael pediu a Deus que o levasse e o trouxesse em paz. Fechou a porta da morada ? um cubículo que lhe consome R$ 130 mensais de aluguel ?, pendurou a chave no pescoço, dando ao objeto um certo ar de amuleto, e pegou o ônibus para a área nobre da capital alagoana. Gastou R$ 3,50 de passagem, o equivalente a um quilo de latinhas, ?se a venda for feita sem atravessador, que só paga R$ 3?, ele esclarece.