Cidades
Eu sou mãe e pai até hoje, relata cobradora

Maria Célia da Silva tem uma jornada de trabalho semelhante à de Bruna Waléria no emprego, ao atuar como cobradora de ônibus, das 7h às 16h. Aos 46 anos, a cobradora começou a atuar de aos 26, quando seu filho tinha três anos. ?Separei quando tinha 9 meses de idade e o pai dele não ajudava em nada. Eu sou mãe e pai até hoje?, explica. Atualmente com o filho adulto, Maria Célia divide os cuidados domésticos entre duas casas, o lugar em que mora e a casa dos pais. ?Hoje, quando saio de trabalho, vou cuidar da casa dos meus pais?, conta. Hora do descanso? Após segundos de silêncio, responde: ?Olho algo na internet e vou dormir. Não lembro do tempo em que vi mais televisão, principalmente agora que cuido de duas casas. Canso muito. Até quando sento, não consigo mais me manter acordada?, relata. ?As vezes penso: ?Vou levantar mais tarde?, mas lembro que preciso fazer feira. Vou para o supermercado, quando vejo, já acabou metade da minha folga?. Trabalhando desde cedo, Maria Célia parou os estudos ainda na época da escola. ?Deixei no segundo ano do ensino médio, para trabalhar e ajudar a família?, diz, garantindo que pensa em voltar às aulas para, pelo menos, terminar o segundo grau. Segundo a diretora da Mulher do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Alagoas, Maria José Ferreira, há um total de 250 mulheres rodoviárias ? entre motoristas e cobradoras ? para um número geral de 780 homens. Através de vários esforços, as mulheres conseguiram espaços maiores na profissão e dentro do sindicato, entretanto, segundo a sindicalista, o desafio ainda é grande. Pessoalmente, e mesmo se dedicando exclusivamente às atividades sindicais, de modo a ter uma jornada menos cansativa, Maria José conta que não consegue desacostumar a acordar no horário em que se habituou ao longo de 29 anos de profissão. ?Hoje posso acordar às 6h, mas quando dá 3h30, 4h, já estou acordada. O hábito não sai da cabeça?, diz. * Sob supervisão da editoria de Cidades