Cidades
Dom Mauro Morelli questiona causas da fome

BLEINE OLIVEIRA O bispo de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Dom Mauro Morelli, está em Maceió participando do II Seminário Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, promovido por entidades da igreja católica. Aqui, o religioso voltou a reafirmar os princípios que tem defendido, nos últimos dez anos, de que alimentação é um direito do cidadão que deve ser assegurado pela família, pela sociedade e pelo governo. Crítico do programa Fome Zero, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está implementando nos municípios do semi-árido brasileiro, dom Mauro disse que a sociedade precisa pensar sobre o que faz o Brasil, um país de tamanha extensão territorial e grande produtor de alimentos, ter tanta gente passando fome. ?Que progresso é esse com 40 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza??- indaga o bispo carioca. Ele lembrou que o Fome Zero é resultado do trabalho de inúmeras pessoas que há mais de um década estão envolvidas na luta pela garantia do direito à alimentação e a uma vida digna. Para isso, dom Mauro e os demais envolvidos formaram o Comitê Ação e Cidadania contra a Fome e pela Vida. Esse trabalho é reconhecido internacionalmente, a ponto de levá-lo ao cargo de coordenador do Comitê Permanente de Nutrição da Organização das Nações Unidas (ONU). Na sua caminhada pelo Brasil para ajudar no processo de conscientização popular, dom Mauro tem apresentado alguns temas para questionamento da sociedade. O primeiro é para que se pense como um país de dimensões continentais pode ter tanta gente sem acesso ao que comer. Outra indagação do religioso é: o que fazer para mudar isso? Se a sociedade se obrigar a discutir esses temas, muito se terá avançado em termos de cidadania. ?Qual o modelo de economia que pode acabar com a fome??, indaga o bispo diante de uma platéia atenta e disposta a se transformar em multiplicadora desses ensinamentos. Na sua palestra, o bispo mostrou que é preciso discutir o direito à alimentação como uma obrigação e não como um favor do governo. Ele propôs, também, que se discuta o valor nutricional dos alimentos e o desperdício onde há mesas fartas. Dezenas de lideranças católicas participaram da abertura do seminário, ontem, na sede dos Cursilhos, no bairro do Farol, onde ouviram, além de dom Mauro, o procurador federal Délson Lyra, que mostrou aos participantes que a população deve conhecer as leis para se organizar e cobrar do governo políticas públicas capazes de atender aos chamados direitos básicos do cidadão, entre eles, o direito à alimentação. O seminário prossegue, hoje e amanhã, quando serão eleitos os integrantes do Conselho Estadual de Segurança Alimentar.