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Rede de prostituição infantil abala União

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BLEINE OLIVEIRA IVAN NUNES Repórteres União dos Palmares - Um escândalo que pode atingir proporções inimagináveis começa a tomar conta da cidade de União dos Palmares, a 80 quilômetros de Maceió. Aqui, crianças com 12 anos estão sendo exploradas sexualmente, diante de pais estarrecidos e impotentes e da falta de estrutura policial para conter a ação criminosa. Na última quarta-feira, 27, três menores foram detidas na casa de um homem identificado como Sérgio Santos, 20 anos, com quem praticavam sexo e eram exploradas como domésticas. Segundo C.S.P., de 13 anos, elas passavam dias na casa de Sérgio, que se diz músico (tecladista) para lavar roupa e arrumar a casa. Em troca apenas a promessa de pagamento em dinheiro e participação, como dançarinas, no grupo musical denominado Serginho e banda. Mas o músico, que nega a acusação, não é o único responsável pela exploração sexual das menores. As meninas A.C.M.S., de 14 anos, e J.F.S., de 12 anos, disseram à delegada regional de União, Kátia Emanuele Cavalcante, que eram chamadas sempre por uma mulher de nome Walkíria e um homem que conhecem apenas como Eudes para irem a festas em chácaras e num motel da cidade. O caso chegou ao conhecimento da delegada quando a namorada de Sérgio, identificada como Joeli, tentou arrombar a porta da casa do músico, localizada no bairro Roberto Correia de Araújo, mais conhecido como Os Terrenos. Ele não estava e havia orientado as menores a não abrirem a porta. Irritada, Joeli recorreu a dois amigos para forçar sua entrada na casa. A discussão entre ela e as meninas se agravou. Como não conseguiu entrar, Joeli chamou a polícia. Dois policiais foram a casa e encontraram A., J. e C., que foram levadas para a delegacia. Informado do que ocorrera, Sérgio se dirigiu à delegacia onde acabou preso. Vários casos Na verdade, são vários os casos de exploração sexual de menores registrados em União dos Palmares. O próprio juiz da Comarca, José Lopes Netto, que é titular da 1ª Vara, onde está o juizado da Infância e da Juventude, revela que a situação é grave e exige, além de políticas públicas de natureza social, reforço na estrutura policial do município. A delegada Kátia Emanuele disse que o caso das menores C. A. e J. é o mais recente. Hoje ela vai intimar as pessoas citadas nos depoimentos das menores para iniciar um novo processo. As meninas, que relataram detalhes do aliciamento, foram submetidas a exame de conjunção carnal no Instituto Médico Legal Estácio de Lima, em Maceió. Orgias No depoimento, elas confirmaram que faziam programa, levadas por Walkíria e Eudes, pessoas que a polícia já identificou e serão chamadas a depor. Os homens que participaram das orgias também serão chamados para depor. Já estão prontas várias notificações para que compareçam à delegacia onde vão depor sobre a acusação de pedofilia. Não posso adiantar detalhes da investigação. Os passos que vamos seguir dependerão dos depoimentos das pessoas citadas pelas menores - disse a delegada. Ela confirma que as meninas citaram alguns nomes, que evita citar temendo prejuízos ao trabalho policial, entre eles, o de comerciantes da cidade. Além dos apontados como aliciadores e fregueses das meninas, a investigação pode chegar aos proprietários de duas chácaras, também identificadas pela polícia onde ocorreriam orgias com a participação de menores. Para a delegada Kátia Emanuelle, o envolvimento de crianças nessas redes de prostituição se dá em decorrência da miséria social em que vivem. ### Juiz e promotor ficam de mãos atadas O promotor da comarca de União dos Palmares, Tácito Yuri Barros Melo, disse que há vários anos crianças do município vêm sendo vítimas de exploração sexual. São vários os inquéritos sobre essa modalidade de crime, o que torna a cidade alvo de inúmeras redes de prostituição. Um dos mais recentes foi aberto a partir da fuga de uma menina de 13 anos de um motel onde estava sendo seviciada. Há inúmeros prostíbulos escondidos em atividades comerciais lícitas, que abrem à noite usando essas meninas como chamariz - afirma ele. A dificuldade de combate está na inexistência de políticas públicas voltadas para o resgate de crianças e adolescentes pobres, que vivem na periferia da cidade, e na falta de estrutura policial. Segundo o promotor, cuja declaração é a mesma feita pelo juiz José Lopes Netto, a delegacia regional carece de condições humanas e material para investigar as denúncias feitas. Falta carro, pessoal e condições de trabalho - diz o juiz, que pede que o governo do Estado atenda à delegada Kátia Emanuelle que solicita um computador, uma motocicleta e mais agentes civis para trabalhar. As investigações têm esbarrado na falta de estrutura e de condições para fiscalizar, por exemplo, o acesso de menores a bares e demais locais proibidos. Para José Lopes Netto, se a delegacia tivesse estrutura, teríamos muito mais casas de prostituição identificadas. O promotor Tácito Yuri discute com autoridades estaduais e municipais a criação de uma delegacia especializada em crimes contra crianças e adolescentes. |BL E IN ### Meninas não recebem por programas União dos Palmares - As meninas C.S.P., de 13 anos, e J.F.S, de 12 anos, são duas das mais recentes vítimas da exploração sexual infantil em União dos Palmares. Para elas, pouca coisa mudou desde que perderam a virgindade até recentemente quando passaram a ser exploradas como prostitutas na esperança de receber algum dinheiro. Só que, pelo que disseram, nada receberam desde o primeiro programa, quando praticaram sexo com um grupo formado por cinco homens cuja idade varia entre 20 e 39 anos. Elas não sabem o que significa estar sendo explorada por uma rede de prostituição infantil, e, na inocência da pouca idade, não entendem que o que está sendo feito com elas é crime. Quando falam sobre os programas, a expressão delas revela um misto de vergonha, medo e deslumbramento por estarem sendo assediadas por homens que lhes prometem tudo e as tratam com atenção. O afeto que não recebem em casa é encontrado na rua, no grupo de amigos, nas festas. fazem de tudo Elas são induzidas a beber, dançar e, em seguida, a ficarem à vontade. Tirar a roupa para serem bolinadas é o caminho que antecede o abuso sexual. Aqui elas evitam entrar em detalhes, mas, com a expressão constrangida, admitem que fazem de tudo. A primeira vez, J. não vai esquecer jamais. Segundo seu relato aos 10 anos foi violentada pelo padrasto, em Arapiraca, onde vivia com a mãe e mais quatro irmãos. A mãe, que ela prefere não revelar o nome, mandou-lhe viver com a avó, de 80 anos, em União. Na cidade conheceu A. e C., com as quais passou a andar por aí. Sem condições físicas para mantê-la em casa, a avó se surpreendeu na manhã da última quarta-feira, 27, ao ser chamada na delegacia para receber a neta que fora detida na casa de um homem que não conhecia. A história de C., 13 anos, não é muito diferente. Ela vive com a mãe e um irmão, também menor, no bairro Roberto Araújo. Cursou até a quarta série do ensino fundamental e abandonou a escola por razões que não sabe explicar. Não gostava. Preferia estar na rua - diz a bela morena, sob o olhar de crítica da cortadora de cana Eliane Martins da Silva, mãe de A., de 14 anos, também vítima da exploração sexual. A filha de Eliane está vivendo num bairro próximo, pois foi expulsa de casa pelo pai, também cortador de cana, Heleno da Silva, que não quer uma quenga dentro de casa. A mãe não sabe explicar as razões que levam a filha a se prostituir. Chorei de vergonha na delegacia. Acho que a culpa é dessas meninas que saem de casa pra ir atrás dos homens - diz Eliane. BL e IN ### Garotas são ameaçadas para ficarem caladas Depois do depoimento, as menores passaram a receber ameaças. As meninas disseram que estavam no bairro Roberto Araújo, onde moram, quando dois homens num Fiat Uno, de cor escura, aproximaram-se de uma delas perguntando se havia transado com o Dagoberto. O nome citado seria do empresário Dagoberto Lourenço, dono da loja CD Mania, na Praça Antenor Uchoa. A menor respondeu afirmativamente e os dois homens lhe convidaram a entrar no carro. Assustada, A. gritou pela mãe, que estava dentro de casa, e os homens fugiram. Depois disso, as menores C. e F. receberam recados para calar sobre as denúncias. Nos disseram que o Dagoberto vai dar uma surra em cada uma se falar o nome dele e de outros - diz C. Segundo ela, outras menores participavam das orgias, entre estas as que identificou como T., G., M. e G., com idade entre 12 e 16 anos. Outros nomes citados pelas meninas foram o do dono de uma loja de peças de motocicleta, Laércio Motopeças, e de um mototaxista chamado Jaelson. Uma das farras ocorrera no motel Êxtase, na BR-104, de acesso à cidade.

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