Cidades
Banho de bica faz a festa dos domingos

FÁTIMA ALMEIDA Repórter Dia de folga; manhã de sol e calor. O clima perfeito e um convite tentador para um banho natural, nas famosas, e outras desconhecidas, bicas de Alagoas. Vinda de bairros de Maceió e municípios vizinhos à capital, uma multidão parece se movimentar numa só direção: o caminho da praia, do rio, do lazer gratuito e coletivo. A Gazeta foi conferir e mapear para seus leitores os caminhos da delícia e do prazer, onde a água doce e friinha desce de fontes naturais escondidas em retalhos da Mata Atlântica, às vezes livre, se esparramando no leito de rios como Niquim, na Barra de São Miguel; e do Meio, em Cachoeira do Meirim; às vezes represada por intevenção do homem, formando piscinas naturais que se derramam em bicas e cascatas, para deleite dos visitantes, como no Lago Azul, em Marechal Deodoro. Alguns são tradicionais, como o Broma e o Lago Azul, ou já viveram seus momentos de glória, como a Bica da Pedra e o banho do Catolé. Outros, nem tanto, como o Rio do Meio, em Cachoeira do Meirim. Alguns têm uma boa estrutura, com bar e restaurante, campo de futebol, brinquedos infantis; outros são espaços abertos para a autêntica farofada. Mas todos têm em comum o que realmente interessa: sombra e água fresca. As motivações dos freqüentadores desses lugares são as mais variadas. O contato com a natureza viva, a tranqüilidade para o lazer em família e o custo baixo são alguns atrativos fundamentais. Na maioria desses recantos a entrada é gratuita e dá até para levar a bebida e o tira-gosto de casa, o que alivia o bolso. Nesses lugares, ninguém tem o menor constrangimento de viver seu dia de Farofeiro. No Lago Azul, em Marechal Deodoro, a família e os amigos de Eliel Ribeiro se divertem. Pais, avós, irmãos, crianças, vizinhos, e até um amigo que veio de São Paulo, conquistado pela Internet. Aqui dá para todo mundo curtir, independentemente de idade. Não é em todo lugar que a gente encontra essa beleza e a tranqüilidade oferecidas pela natureza. E as crianças brincam tranqüilas, é só impor limites na água, diz Eliel. A mesa é farta: arroz, feijão tropeiro, bebidas, sururu, peixe, carnes. O violão companheiro de farra veio na bagagem, mas não encontrou ambiente. Duas caixas de som em alto volume obrigavam todos a ouvir as mesmas músicas, ao gosto do dono do som, mas nem sempre ao agrado dos visitantes. O acesso ao Lago Azul é uma verdadeira aventura. Um quilômetro e meio de trilha aberta por dentro do canavial, depois de deixar o asfalto, a dez quilômetros de Marechal Deodoro, mas nada que desanime. Ir para o Francês ou Barra de São Miguel, dá quase no mesmo, só que não é como aqui, garante Eliel. ### Piquenique na linda Cachoeira do Meirim O acesso a esses lugares nem sempre é tão fácil como chegar à praia. Mas dá-se um jeito. O carro do vizinho faz a lotação: adultos sentados, crianças no colo, e os excedentes vão se arrumando, dividindo espaço na mala com o isopor de cerveja, os recipientes de comida, o saco de carvão, a churrasqueira, e até o colchonete para o repouso dos pequeninos. A caninha com limão tem espaço garantido na bagagem. Não é à-toa que em alguns desses caminhos encontramos placas de advertência do tipo: Cuidado! Pode vir nego bêbado por aí!, colocada numa das curvas da estrada de barro que leva ao Broma e à Bica da Pedra. Tem razão de existir a recomendação. Para boa parte dos adeptos desse tipo de lazer, a farra só termina quando a bebida acaba. O problema é que o estoque sempre é preparado para não faltar. ÁGUA LIMPINHA Um roteiro dos banhos de água doce freqüentados pela coletividade pode começar pela periferia de Maceió. No Tabuleiro, depois do Benedito Bentes, já no caminho da Usina Cachoeira do Meirim, o Rio do Meio faz a festa de muitos banhistas. A água que sai da mata é limpinha, garantem os moradores da região. É lá onde o carpinteiro Ismael de Oliveira Chaves, que mora no Village Campestre, gosta de relaxar com a família nos dias de folga. A água é boa e não preciso pagar transporte. É mais seguro para as crianças, e uma tranqüilidade para os adultos, diz ele. As imagens confirmam: idosos mergulham, crianças e jovens pulam por todos os lados, dão cambalhotas na água e correm de um lado para outro. Lá, tudo é improvisado. As barracas são montadas nos fins de semana e feriados, com cobertas de lona. A carroça de burro que transporta a bagagem de Rosineide Gomes e Valmir Vicente logo se transforma num balcão de bar improvisado, com variedade de bebidas quentes e frias, refrigerantes e tira-gosto. O isopor e o fogareiro são aliados fundamentais. O caldeirão de mocotó e a panela de galinha velha são tradicionais. O prato custa R$ 5. É desse comércio na beira do rio que o casal tira o sustento da família há pelo menos 10 anos, trabalhando aos sábados, domingos e feriados. Como chegar: depois do Benedito Bentes, entra à esquerda em direção à Usina Cachoeira do Meirim. Depois da primeira ladeira, passa a ponte e entra à esquerda. Fica bem pertinho da pista. O acesso pode ser de carro ou a pé. |FA ### Saudades da Bica da Pedra e dos banhos do Catolé! Como na famosa e antiga canção do compositor Lourival Passos - Ai! Ai! que saudade, ai que dó, viver longe de Maceió... que saudade da Bica da Pedra e dos banhos lá do Catolé - os alagoanos continuam tomando seus banhos nesses locais, apesar do avanço da poluição de seus mananciais e do acesso restrito. Hoje, as águas do Catolé, que passam por Satuba e abastecem parte de Maceió, também se oferecem em bicas e piscinas naturais de água fria e transparente, como opção de lazer para muita gente, a poucos metros da BR-316, em direção à Mata Atlântica. Na primeira parada, do lado direito do Batalhão de Polícia Ambiental, a mata se abre numa vereda por quase um quilômetro, em estrada de barro, até chegar ao Balneário da Casal, um dos mais antigos de Maceió. O acesso não é dos melhores, sobretudo no período de chuva, mas depois de se embrenhar no meio da beleza do lugar, fica difícil desistir. O balneário não é para todos. Só entram sócios e convidados, explica o diretor Roberto Rodrigues. Lá dentro tem campo de futebol, bar, restaurante, barracas, banho de bica e de imersão nas piscinas de água corrente. Cícero José da Silva é freqüentador assíduo há pelo menos seis anos, desde que adquiriu o título de sócio-contribuinte. Vai toda semana. Aqui o contato com a natureza é completo e tem lazer para toda a família. Além disso, todo mundo é amigo. Nunca teve confusão, diz ele. FA ### Dona Nina do Catolé oferece banho a R$ 1 Mas fora do Clube da Casal, o tradicional banho do Catolé mais parece o piscinão de Ramos, com freqüentadores de vários lugares e de todas as idades. Era uma área de lazer do grupo Othon Bezerra, depois cedido ao DNER, mas há pelo menos 13 anos quem cuida e fatura com o local é Cordélia Silva de Castro, conhecida como Nina do Catolé. Ela acha que adquiriu direito ao lugar, pelo tempo que está lá. Já tentaram tomar de volta o recanto, mas ela resiste e está disposta a lutar. Tenho uma vida aqui dentro. Já considero isso meu. Para me tirar daqui vai ter que ser na Justiça, avisa ela. O acesso é pago, mas o preço é quase simbólico: R$ 1,00 por pessoa. Mas é de lá que Nina tira seu sustento e de toda a família. Com o ingresso cobrado, Nina oferece som ao vivo, garante a limpeza e o atendimento, com cinco funcionários. No bar tem de tudo, mas ela fecha os olhos para quem entra levando alguma comida, desde que a bebida seja comprada no local. A água vem do Rio Catolé, represada numa enorme piscina de cimento, e renovada com o curso do próprio, pela vazão de duas bicas. Para chegar ao local do banho, o visitante deve pegar a BR-316, que liga Maceió a Satuba, no final da Ladeira do Catolé, em frente ao posto de gasolina e depois de passar pelo Batalhão de Policiamento Ambiental entrar à direita. É logo ao lado da pista. ### Broma e a Bica da Pedra têm belo cenário Entre os mais tradicionais banhos de água doce da Grande Maceió estão, certamente, o Broma e a Bica da Pedra, às margens da Lagoa Mundaú, em Marechal Deodoro. Ambos são de difícil acesso e na mesma direção, mas cada um, do seu jeito, compôs a sua história ao longo dos anos, como vizinhos, ou parentes das mesmas fontes de água que brotam da mata; como se fossem primos: um rico e um pobre. O Broma esbanja organização e infra-estrutura. Por todos os lugares, placas de conscientização sobre a preservação da natureza e recados bem-humorados para a clientela. Um deles está logo na entrada: Proibido trazer comida em panela, caixas de bebida ou isopor. Aqui tem de tudo. Não seja olhado como farofeiro!. O resultado desse cuidado está na limpeza e preservação do ambiente. Nas piscinas, corre água natural. Nos arredores, a mata é bem cuidada e preservada. Esse é o segredo do sucesso do clube dos associados do Motonáutica. Por lá passam sócios, convidados, ônibus de turistas e outros pagantes. O ingresso custa R$ 10 por pessoa (inclusive crianças a partir dos 10 anos), com direito a usufruir do clube das 9h às 17h. No final da tarde, as piscinas são esvaziadas diariamente. É o bota-fora, senão as pessoas não vão embora, confessa uma funcionária. O funcionamento do Broma é de terça a domingo. ### Lago Azul atrai visitantes no coração da Mata Atlântica Mais adiante do Broma, a cerca de 500 metros, está a famosa, mas decadente, Bica da Pedra. A piscina de água corrente é abastecida por outra fonte de água que brota de um pedacinho da Mata Atlântica, e virou domínio público. Duas barracas e alguns ambulantes oferecem o apoio mínimo aos visitantes. Geralmente, quem vai para a Bica da Pedra leva a famosa farofada que não entra no Broma, mas o intuito é o mesmo: diversão com tranqüilidade, quase sempre interrompida por alguns carros que chegam com o som no mais alto volume. Mesmo assim, a Bica da Pedra tem seus encantos. A água é limpa e boa, e as crianças se divertem à vontade. Na praia é mais difícil controlar. Além disso, sai mais barato. Não tem todas aquelas coisas que tem na praia. A gente traz de casa e gasta pouco, diz Maria do Carmo Barbosa, que sai do Jacintinho, onde mora, para curtir a Bica da Pedra. Como chegar: pela AL-101 Sul, entra no trevo que vai para o Pólo Cloroquímico, e pega a primeira entrada à esquerda, depois da ponte sobre o canal da Lagoa Mundaú. Segue por cerca de dois quilômetros por uma estrada de barro, até o Broma. Mais adiante, a cerca de 500 metros, tem a Bica da Pedra. Lago Azul Quem busca mais tranqüilidade e contato com a natureza, basta seguir do trevo do Francês, na direção de Marechal Deodoro. São sete quilômetros até a cidade, mais dez quilômetros até uma entrada do lado direito da pista, e seguir por mais 1,5 km por dentro do canavial. Encravado num pedacinho da Mata Atlântica que sobreviveu à cultura canavieira, o lago faz jus ao nome. A água é azul e se mantém a uma temperatura média de 13 graus centígrados, mesmo no verão. A área é particular e o acesso pago: R$ 10 por carro pequeno, independente da quantidade de pessoas. Ônibus e Vans pagam R$ 2,00 por pessoa. No local tem um barzinho com refrigerante e cerveja, mas é recomendável levar tira-gosto ou almoço. Além do ambiente paradisíaco, a bica e a cascata do Lago Azul são as mais abundantes e, sem sombra de dúvidas, as mais atrativas de todas as bicas que circundam a Grande Maceió. Ainda na região de Satuba, seguindo pela BR-316, depois de passar pelo perímetro urbano do município e pela entrada de Santa Luzia do Norte, logo depois da segunda curva à esquerda, um novo banho atrai os moradores da região. É aberto a quem chegar, e do jeito que chegar, mas não tem o mesmo charme e nem se compara com a infra-estrutura do vizinho, o antigo Lyndoia, hoje um hotel-fazenda, que abre suas portas para quem quer passar o dia usufruindo de suas 10 piscinas e bicas. O preço é bem mais seletivo: R$ 20 por pessoa, mas tem seu público fiel, atraído pelo ambiente rural e pela infra-estrutura do local. |FA