Cidades
União guarda casa de Jeanne Morreau

| IVAN NUNES Repórter União dos Palmares - O latifúndio da cana-de-açúcar e o coronelismo retratam fielmente o poderio de uma época que inspirou o cineasta alagoano Cacá Diegues a escrever e dirigir o filme Joana Francesa, rodado em União dos Palmares em 1971. As cenas foram gravadas no centro de União dos Palmares, mas a locação principal do filme - estrelado pela atriz Francesa Jeanne Morreau, com a participação do estilista francês, Pierri Cardin - foi na Fazenda Anhumas, a dez quilômetros de União dos Palmares. Além do belo casarão edificado em 1892, a fazenda tinha um engenho de cana-de-açúcar, uma pequena vila de moradores e verde por todos os lados, inclusive um pedaço de mata atlântica preservado até hoje. A Gazeta esteve em Anhumas a semana passada e conferiu que o cenário natural é o mesmo, mas não existe mais nada de registro do filme. Na casa os móveis centenários permanecem os mesmos, os candelabros, os sofás. Dona Helena Baia foi quem cedeu o local para que o filme pudesse ser rodado. Mas quem reside na casa hoje é a sua nora, Izabel Padilha Maia Gomes, poetisa, mãe de 8 filhos. Ela diz que todos os móveis serviram de cenário para os filme. Segundo ela, foram seis meses de filmagens entre os municípios de Branquinha e União dos Palmares. Filme trouxe a luz Com 103 anos de edificada a casa-grande da fazenda Anhuma ainda não tinha energia elétrica, até quando Cacá Diegues resolveu gravar imagens do seu interior e do pátio da residência da fazenda construída em 1931. Mas um entendimento com a produção do filme definiu levar até a localidade luz elétrica, que funciona e ilumina até hoje. ### Historiador lamenta falta de divulgação A trama de Joana Francesa retratou o poder do coronelismo de 1848 onde o senhor de engenho da época visitava o Rio de Janeiro e de volta para Alagoas trouxe Joana Francesa para se tornar a sua esposa, pois a legítima se encontrava à beira da morte, e foi o que aconteceu, conta Jairo Viana. Ele lembra de um trem que conduzia o coronel e sua amante, vindos do Rio de Janeiro. Pena que não existiam à época recursos para transformar Joana Francesa numa grande fita, conta o historiador. Viana também lamenta que essa parte da história de União dos Palmares esteja excluída da população palmarina. Poucos ou quase ninguém têm esse filme em casa, muito menos quem difunde o turismo local que podia contar sobre tudo isso nesse legado de Zumbi e sua saga, completa. Ficha Escrito e dirigido pelo cineasta alagoano Carlos Diegues e produzido pela Zoom Cinematográfica e Nei Sroulevich, Joana Francesa contou com a participação de grandes atores como Carlos Kroeber, Lília Abramo, Eliezer Gomes e com a presença especial de Jeanne Moreau e Pierre Cardin. Na trilha sonora, Raimundo Fagner canta em duo com Chico Buarque a canção título. Enredo Em 1930, Jeanne é a dona de um prostíbulo em São Paulo. Um cliente alagoano, apaixonado por ela, a leva para sua fazenda de cana-de-açúcar onde Jeanne entra em contato com costumes que acabam por arrebatá-la a um mundo ético e cultural que nunca havia conhecido antes. Ela acaba assumindo a liderança da família, em plena decadência. Com direção musical de Chico Buarque e Roberto Menescal, no filme Joana Francesa todos os temas são cantados por Jeanne Moreau, Nara Leão e Raimundo Fagner. Na trilha instrumental ouve-se o violão e os gemidos característicos do cearense. A casa A casa-grande senzala da fazenda Anhumas passou por três donos; o primeiro deles foi Rocha Cavalcante, poderoso homem do saber numa época difícil de conhecimentos; depois veio a família Cansanção; Almeida e agora, desde 1937, a família de Dona Helena Baia, esposa de Benon Maia Gomes e que forneciam naquela época para uma Usina de cana-de-açúcar da redondeza mais de 20 mil toneladas de cana nos mais de 1.200 hectares de propriedade. |IN