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Nº 5859
Cidades

Inca alerta sobre aumento do número de casos de câncer de mama

Ministério da Saúde estima para 2019 mais de 59 mil casos no Brasil e cerca de 560 novos registros da doença em Alagoas

Por junior chagas | Edição do dia 10/10/2019 - Matéria atualizada em 11/10/2019 às 17h10

Às vésperas do Natal de 2016, a comerciante Nadja Rodrigues Araújo, 41 anos, descobriu que tinha câncer de mama. Também já tinha retirado há algum tempo o útero, que estava comprometido por miomas e mais recentemente – ainda fragilizada por causa dos procedimentos médicos – contraiu uma bactéria que a deixou bastante debilitada. Mas a dor maior veio dois anos antes de iniciar a maratona para frear o tumor já detectado nos exames: perdeu a mãe para a mesma doença.

O Ministério da Saúde estima para 2019 mais de 59 mil casos de câncer de mama no Brasil e cerca de 560 novos registros da doença em Alagoas. Depois do câncer de pele não-melanoma, o de mama é o mais comum e que causa mais mortes em mulheres, com mais de 16,7 mil vítimas fatais em 2017.

A comerciante Nadja retirou as duas mamas – uma delas por prevenção – fez oito sessões de quimioterapia e 28 de radioterapia. “Mesmo depois de descobrir a doença, continuei com a mesma vida, com a mesma alegria. Imediatamente quando peguei o resultado, marquei consulta. Sempre tive a cabeça erguida, nunca me abalei não. Saía careca nas festas. Como o fato da minha mãe foi muito rápido, recebi a orientação de ficar atenta. O médico desconfiou de uma mutação genética e numa consulta identificou um caroço irregular pequeno de um centímetro e já pediu logo a ressonância”, lembra.

“Descobri que tinha câncer em dezembro de 2016 e em março de 2017 retirei as mamas. As duas de uma só vez. Vejo como um ensinamento, vejo que Deus usa as pessoas da forma que ele quer, porque nunca baixei a cabeça. Existe a doença sim, mas quando a gente se entrega ela é mais forte. Não se assustar, não desistir”, lembra a comerciante. Após vencer o câncer foi diagnosticada mais recentemente com bactéria nos pulmões, mas essa etapa também foi vencida.

Regina Carvalho

Repórter
Regina Carvalho Repórter - Foto: Fábio Costa
 


A campanha Outubro Rosa chega a mais um ano com a importante missão de mostrar às mulheres que a descoberta do câncer de mama não é uma sentença de morte, que o avanço no tratamento da doença aponta que um em cada três casos pode ser curado. Mas o medo e a desinformação acabam retardando o diagnóstico. “A cabeça comanda o corpo, se a gente colocar o problema maior do que ele é, ele vai superar a gente. Fiquei muito abalada com a morte da minha mãe, porque eu acreditava que ela ia ser curada, mas o que aconteceu é que o câncer me deixou muito mais forte do que eu já era”, declara a comerciante Nadja Rodrigues Araújo.

Qualidade de vida

O cirurgião oncológico Aldo Barros, que atende na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, conversou com a Gazeta de Alagoas sobre o atendimento de casos de câncer de mama. Questionado se nos últimos anos houve avanço no diagnóstico e tratamento da doença, confirma as melhorias implantadas e exalta a qualidade de vida de mulheres como importante passo. “Ao longo da última década vários avanços ocorreram tanto no diagnóstico quanto, principalmente, no tratamento dos pacientes com câncer de mama. Evoluções tecnológicas nos exames de imagem, como mamografia digital e ressonância magnética, proporcionaram o diagnóstico cada vez mais precoce de lesões suspeitas, assim como as realizações de biópsias mais precisas e menos invasivas”, explica Aldo Barros.

Foto: Fábio Costa
 


Na avaliação do médico, “o grande avanço ocorreu no cenário terapêutico, com a realização de cirurgias menos mutilantes e conservadoras, mantendo a segurança oncológica; equipamentos de radioterapia modernos com direcionamento preciso do tratamento, reduzindo ao máximo os efeitos colaterais; e no setor da oncologia clínica com novas medicações de imunoterapia e terapia alvo proporcionando um tratamento individualizado, com ganho substancial de sobrevida e qualidade de vida”, completa Aldo.

O oncologista confirma as informações do Instituto Nacional de Câncer (Inca) sobre o aumento do número de casos. “Infelizmente a incidência do câncer de mama tem aumentado nos últimos anos na população brasileira, segundo informações do INCA/MS. Provavelmente um reflexo da maior informação pelos meios de comunicação, principalmente as mídias digitais, assim como campanhas de mobilização populacional, como o Outubro Rosa, que aumenta a busca para a realização de exames e consequentemente aumento do número de diagnóstico. Mas outros fatores também estão influenciando neste aumento do número de casos como principalmente os hábitos sociais e alimentares”, detalhou Aldo Barros.

Ainda há estigma, afirma médico

O médico Aldo Barros exalta que as reações durante a descoberta do câncer de mama ainda são reflexos do estigma sobre a doença, ainda vista como uma sentença de morte. “Vivemos em uma sociedade que o estigma do diagnóstico de câncer ainda tem uma grande influência emocional e a reação de muitos é o medo e a fuga para busca desse diagnóstico. Consequentemente isso influencia no prognóstico da doença, pois muitas vezes esse diagnóstico deixa de ser realizado em estágios iniciais, o que elevaria as taxas de cura. Por esse mesmo motivo a terapêutica também pode ser influenciada, pois o retardo no início desta ou ainda o abandono do tratamento compromete todo o planejamento com consequências desastrosas”, confirma o oncologista.

Para o oncologista da Secretaria de Estado da Saúde, João Aderbal, o avanço no tratamento do câncer de mama foi grande nos últimos vinte anos e hoje há formas de preservar a mama. “Também têm as drogas novas que se tem e tudo isso contribuiu para uma melhor sobrevida das pacientes. Existe o medo sim quando se faz o diagnóstico, mas varia de pessoa para pessoa e também como é levada a informação por parte do profissional médico à paciente sobre como vai ser o tratamento e as possibilidades de cura. A quantidade de casos tem aumentado mas em termos percentuais os casos no Nordeste são menores do que no Sul e no Sudeste”, declara o médico João Aderbal.

Inca estima 59 mil casos em 2019

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) informa que não dispõe de dados de casos de câncer efetivamente diagnosticados, há apenas estimativas de novos casos. “Para o Brasil, estimam-se 59.700 casos novos de câncer de mama para 2019, com um risco estimado de 56,33 casos a cada 100 mil mulheres. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, esse tipo de câncer é o primeiro mais frequente nas mulheres das regiões Sul (73,07/100 mil), Sudeste (69,50/100 mil), Centro-Oeste (51,96/100 mil) e Nordeste (40,36/100 mil). Na região Norte, é o segundo tumor mais incidente (19,21/100 mil)”, explica o Inca, em nota enviada à Gazeta de Alagoas.

Em 2019, a campanha do Inca no Outubro Rosa – celebrado desde a década de 1990 – tem como tema “Câncer de mama: juntos, sem medo”. Não é à toa a escolha desse tema. As mulheres precisam ficar atentas, seguindo as recomendações para o rastreamento e diagnóstico da doença. Estatísticas do Ministério da Saúde revelam que foram 16.724 mortes por câncer de mama feminino no Brasil em 2017. No mesmo período, foram 203 mortes por câncer de mama masculino.

A campanha Outubro Rosa teve início com as ações desenvolvidas pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, que desencadeou o movimento internacional.

Incidência cresce após os 50

“É o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, respondendo por cerca de 28% dos casos novos a cada ano. Relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta idade sua incidência cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos. Estatísticas indicam aumento da sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Existem vários tipos de câncer de mama. Alguns evoluem de forma rápida, outros, não. A maioria dos casos tem bom prognóstico, explica a assessoria do Inca.

O portal do Ministério da Saúde esclarece que o câncer da mama ocorre quando há um desenvolvimento anormal das células da mama, que multiplicam-se repetidamente até formarem um tumor maligno e que o sintoma mais fácil de ser percebido pela mulher é um caroço no seio, acompanhado ou não de dor. “A pele da mama pode ficar parecida com uma casca de laranja; também podem aparecer pequenos caroços embaixo do braço. Deve-se lembrar que nem todo caroço é um câncer de mama, por isso é importante consultar um profissional de saúde”, diz publicação do MS.

Procurada pela Gazeta de Alagoas, a assessora técnica do Programa Estadual de Prevenção ao Câncer, Fernanda Santos, se comprometeu a enviar os dados sobre os casos da doença em Alagoas. Entretanto, até o fechamento desta edição, ela não encaminhou as informações e não atendeu as ligações.

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