Alagoas é o segundo estado com o maior registro de animais oleados em decorrência do derramamento criminoso de petróleo nos mares do Nordeste. Em vista da alta demanda, até a próxima quinta-feira institutos ambientais do Estado vão começar a realizar a despetrolização dos animais resgatados; até então o procedimento era feito em Aracaju, na Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA).
O novo ponto de recebimento de animais oleados já está localizado na sede do Instituto Biota de Conservação, em Guaxuma, no Litoral Norte de Maceió, mas está em processo de finalização da devida instalação. O tratamento será realizado por veterinários do Biota e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que nos primeiros 15 dias devem receber treinamentos de veterinários da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e do Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos (Ipram), do Espírito Santo.
“Recebemos o contêiner de despetrolização da Petrobras para realizarmos o tratamento. No sábado iniciamos a instalação dele e, ainda nesta semana, devemos começar a atuar na recuperação total do animal oleado, desde o resgate a despetrolização. Até agora fazíamos apenas a estabilização e o enviávamos para a FMA, em Sergipe”, disse Cynira França, analista ambiental e responsável pelo centro de animais Silvestres do Ibama/AL.
PESCADO
Apesar do impacto ambiental, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) coletaram 25 peixes carapebas - entre a cidade de Maceió e Paripueira - e, após estudos, apontam que não foram encontrados vestígios de óleo nos animais analisados.
O resultado do levantamento da universidade se dá após uma queda drástica no consumo de pescado em Maceió, que passa de 80% nos principais pontos de venda. Consumidores temem que o pescado esteja contaminado. O resultado do estudo foi divulgado nesta terça-feira (29) pelo Grupo Técnico de Acompanhamento (GTA), formado por órgãos federais, estaduais e municipais.
ANIMAIS ATINGIDOS
O boletim de monitoramento do litoral nordestino, divulgado pelo Instituto Biota revela que o estado com maior registro de animais oleados é a Bahia, com 41 casos; sem seguida aparece Alagoas, com 22 registros; depois aparece o Rio Grande do Norte, com 14 animais. O boletim conta com dados de o início de setembro, quando surgiram às primeiras ocorrências do óleo, até a última segunda-feira, dia 28. Diariamente os dados são atualizados.
Dos 22 registros da fauna oleada em Alagoas, 16 animais estavam mortos e, apenas, 6 estão vivos. Porém o número pode ser ainda maior, visto que nem todos os animais mortos receberam a biópsia dos institutos que fazem o monitoramento e o cuidado dos animais. Pois não há agentes o suficiente para a expressiva demanda do momento. Dos 15 municípios litorâneos de Alagoas, 13 deles foram atingidos pelo óleo.
A maior ocorrência no estado é de tartarugas marinhas, que no total de ocorrências, representam 15 casos; depois aparecem às aves, com 5 registros; mamífero marinho com 1; e mais um caso de animal de espécie não identificada no boletim; totalizando às 22 ocorrências. “Por exemplo, em um dos monitoramentos aéreo que o Ibama fez, em apenas uma manhã, na extensão das praias do Gunga a Piaçabuçu, no Litoral Sul do estado, averiguamos nove carcaças de tartarugas que não passaram por necropsia. Não podemos afirmar que elas foram atingidas pelo óleo, embora acreditamos que, de uma forma ou de outra, elas foram afetadas”, disse a analista ambiental do Ibama, esclarecendo que o instituto atua, apenas, com animais vivos.
PERDAS
Cynira França, responsável pelo centro de animais Silvestres do Ibama, disse que ainda não dá para estimar a perda de crustáceos do litoral alagoano, mas que, até então, toneladas foram afetados. “Animais de pequeno porte, como caranguejo, siri, peixe e camarão, geralmente quando oleados vem a óbito, não temos muito o que fazer, pois são animais pequenos, não conseguimos despetrolizar e eles continuarem vivos. Nestes casos estamos reportando ao Ministério da Pesca para que seja avaliada a questão de consumo, pois existe apenas uma orientação para que às pessoas não consumam, mas ainda não existe uma proibição pois temos noção dos riscos à saúde”, disse Cynira França.