Desastre ambiental
Marinha e Ibama rebatem hipótese de vazamento de óleo no sul da Bahia
Possibilidade foi levantada por pesquisadores da Ufal e UFRJ com base em imagens de satélite

A possível descoberta da origem do óleo que mancha as praias do Nordeste causou alvoroço ontem. A informação já era difundida logo nas primeiras horas da manhã. Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) observaram, por meio de imagens de satélite, uma mancha com formato de meia-lua, com 55 km de extensão e 6 km de largura, a uma distância de 54 km da Costa do Nordeste. O fato indicaria um possível vazamento abaixo da superfície do mar. No entanto, a hipótese foi logo negado pela Marinha do Brasil e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) poucas horas depois. Em nota, a Marinha foi categórica: “Não se trata de óleo”. O órgão informou ainda que foram feitas quatro avaliações para confirmar que não era óleo. O primeiro passo, segundo a Marinha, foi consulta a especialistas da Federação Internacional de Poluição por Petroleiros (ITOPF, na sigla em inglês) , depois monitoramento aéreo, por navios e por meio de satélite. Ainda assim, a Marinha não divulgou imagens desses monitoramentos aéreos e por navio. Segundo o pesquisador da Ufal Humberto Barbosa, a mancha foi detectada na última segunda-feira,28, a partir de satélites, e tem um padrão característico de manchas de óleo no oceano.
O local onde a mancha foi detectada fica no Sul da Bahia, nas proximidades dos municípios de Itamaraju e Prado. A imagem da mancha foi feita pelo satélite Sentinel SAR (Radar de Abertura Sintética), no último dia 28, às 12h.
“Ontem tivemos um grande impacto, pois, pela primeira vez, encontramos uma assinatura espacial diferenciada. Ela mostra que a origem do vazamento pode estar ocorrendo abaixo da superfície do mar. Com isso, levantamos a hipótese de que a poluição pode ter sido causada por um grande vazamento em minas de petróleo ou, pela sua localização, pode ter ocorrido até mesmo na região do Pré-Sal”, explicou Barbosa. Segundo Barbosa, o trabalho foi como a montagem de um quebra-cabeça, com peças muito dispersas, que são as manchas muito espalhadas pelas correntezas no Litoral do Nordeste do Brasil, principalmente nas faixas costeiras. “De repente, você encontra uma peça-chave, mais lógica, foi o que ocorreu ontem ao encontrar essa imagem. Foi a primeira vez que observamos, para esse caso, uma imagem de satélite que detectou uma faixa da mancha de óleo original, ainda não fragmentada e ainda não carregada pelas correntezas”, contou Barbosa. De acordo com Barbosa, pela localização do óleo, é “algo muito maior do que um mero derramamento acidental ou proposital de óleo, a partir de um navio, é um vazamento que está abaixo da superfície do mar, consequência de perfuração”. A imagem também permite detectar três navios no entorno da grande mancha, que podem tanto estarem passando pelo local quanto monitorando alguma situação extraordinária ocorrida na área.
“FALSO POSITIVO”
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse ontem, em Belém (PA), que acha “difícil” que a mancha identificada tenha relação com os casos do Nordeste devido às características do óleo encontrado nas praias, que é mais pesado e não flutua na superfície. “É muito difícil, porque é um óleo grosso, que se desloca por meio das correntes marítimas, mas que fica a ‘meia água’. Por conta disso, os radares e satélites não identificam as manchas. Mesmo visualmente, as nossas aeronaves têm dificuldade de identificar”, afirmou Silva. Uma nota técnica do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) afirma que a análise da imagem descarta relação com as manchas de óleo. “(...) Não foi considerada uma feição suspeita de poluição por óleo pelos Analistas Ambientais, sendo apenas mais uma feição de falso-positivo, por não apresentar padrões texturais e técnicos apropriados”, diz um trecho da nota técnica.