Cidades
Alagoas � segundo no ranking de exclus�o social

FERNANDO ARAÚJO Depois do Maranhão, Alagoas é o Estado que tem o maior índice de exclusão social do País, segundo revela o volume 2 do Atlas da Exclusão Social no Brasil, lançado na Bienal do Livro, no Rio, quinta-feira última. Realizado por uma equipe de pesquisadores da USP, Unicamp e PUC-SP, o trabalho avaliou sete variáveis: indicadores de pobreza, emprego, escolaridade, analfabetismo, desigualdade total de jovens e violência, para compor o que os técnicos chamam de ?nova?? exclusão. Explicam que a ?velha?? exclusão está associada à baixa renda e escolaridade, a famílias migrantes e numerosas, enquanto a ?nova?? se refere aos nascidos nos grandes centros, em famílias menores, com maior grau de escolaridade e desempregados e ao índice de violência. O novo índice adotado pelos pesquisadores da Unicamp é mais abrangente que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), usado pela ONU para calcular a qualidade de vida nas cidades. Com esse novo parâmetro de avaliação, a pesquisa revela a exclusão social e a qualidade de vida de 5.500 municípios de todo o País e constata que o total de excluídos é de 47,3% da população brasileira, mas em Alagoas esse índice chega a 50%. As regiões Norte e Nordeste concentram 86% dos municípios que vivem em condições de extrema exclusão social. Para o economista alagoano Cícero Péricles, a vantagem desse novo índice está na incorporação de parâmetros até então não utilizados por outros medidores, o que ampliou o conceito de qualidade de vida. Dos 100 municípios brasileiros com maior grau de exclusão social ? relacionados pela pesquisa ? 15 deles estão em Alagoas, a maioria na região do Semi-árido, sendo Canapi a cidade que registra as piores condições de vida da população. Depois vêm São José da Tapera, Inhapi, Senador Rui Palmeira, Monteirópoles e Poço das Trincheiras. Por esses indicadores, metade da população alagoana vive na mais completa indigência social, verdadeiro exército de miseráveis. Ao analisar a nova forma de medir a qualidade de vida, o economista alagoano lembra que os números do Atlas denunciam os mesmos e crônicos problemas: nos municípios onde há baixos índices de escolaridade, por exemplo, há também os maiores graus de exclusão social. ?Esse tipo de pesquisa termina explicando por que um cidadão nascido nas áreas deprimidas tem uma perspectiva de ascensão social muito menor do que aqueles que vêm de áreas ricas??, destaca Cícero Péricles, que também é professor da Ufal. O estudo da Unicamp revela, ainda, que as condições sociais da população brasileira sofreram um retrocesso nos últimos 20 anos, com maior ênfase para o Nordeste. No caso de Alagoas, o economista atribui esse caos social à política clientelista que tem suas bases nos recursos federais, alimentando, assim, o ciclo de pobreza. Ele defende um novo padrão de política social combinado com desenvolvimento econômico e geração de renda e lembra que as conseqüências dessa política social estribada no clientelismo estão, por exemplo, nas ruas de Maceió sob a forma de famílias sem-teto, prostituição infantil, menores abandonados e outras desgraças sociais. São os chamados párias da sociedade, deserdados do poder público. Para o economista alagoano, os dados dessa nova pesquisa refletem um problema antigo e já conhecido dos alagoanos, que é o extremo subdesenvolvimento do Estado. ?Nessa campo ? diz ele ? a discussão não pode ser centrada apenas no crescimento econômico, à medida que isso vem acontecendo, mas como romper o ciclo da pobreza que inviabiliza a existência de um amplo mercado consumidor capaz de criar dinâmica econômica?. Como toda desgraça sempre produz algum bem, Cícero Péricles vê algo de positivo nesse quadro de miséria que assola o Estado. ?As prioridades do governo Lula estão dirigidas para duas frentes: atenuar as diferenças regionais e diminuir a pobreza através do combate às desigualdades sociais. Essa é uma lógica que privilegia estados como Alagoas, pela sua fragilidade econômica e por sua reconhecida assimétrica distribuição de renda??. Péricles entende que a falta de um mercado consumidor inibe o crescimento econômico e, portanto, não se pode falar na implantação de novas indústrias sem antes resolver o drama da exclusão social.