Caminhar pela principal via do Dique-Estrada, entre a Favela Mundaú e a Sururu de Capote, a Avenida Senador Rui Palmeira, localizada no bairro de Vergel do Lago, em Maceió, é sinônimo de conhecer novas histórias sobre o sururu de capote - Patrimônio Imaterial de Alagoas. Desta vez, a Gazeta de Alagoas descobriu que a história aponta - sem bússola, sem mapa e sem nenhuma expectativa de final feliz - a redução na venda do molusco e uma tendência a despencar ainda mais, segundo os relatos dos vendedores, marisqueiros e pescadores. De forma unânime, os atingidos pela redução na venda afirmam, nos dias que antecedem as festas de fim de ano, que a queda foi de 99%, devido ao óleo que atingiu praias de Alagoas e de outros 526 locais do Brasil, sendo 111 municípios do Nordeste e Sudeste. Os consumidores, conforme o pescador e marisqueiro João Lima dos Santos, estão com medo de consumir o sururu. “Antes eu trabalhava cinco dias. Hoje, minha carga de trabalho é de quatro ou três dias porque não há mais saída como antes. Fora o prejuízo na redução do preço”, desabafou acrescentando que “não recebemos nada dos governos”. João Lima trabalha há 22 anos na mesma região. Ao lado do irmão e de mais cinco pessoas, ele conta que o trabalho para a captura do molusco começa de madrugada. “Saímos 23 horas, iniciamos os trabalhos dentro da lagoa por volta de meia noite. Retornamos para terra firme às quatro ou cinco horas da manhã. Durante a manhã colocamos para cozinhar e à tarde fazemos a limpeza para depois repassar”, contou. Ele relata que o sururu separado é enviado para a Bahia. Outra marisqueira que, há 20 anos trabalha na limpeza do sururu para vender e assim sobreviver dignamente, é Maria de Fátima, de 63 anos. Antes do surgimento das manchas, o molusco era vendido a R$ 10. “Estamos vendendo entre três e quatro reais. Tem sido muito complicado a saída, se enviamos para a Bahia, a saída é quase nula, os restaurantes estocando, e muitos já deixaram de comprar. A todo momento a mídia divulga as manchas e isso acaba deixando nossos clientes, e consumidores com medo de consumir”, disse Maria de Fátima acrescentando que “considero o atual cenário um dos piores dos últimos anos”. Fabíola Sarmento diz, com o semblante emocionado, que tem esperança de voltar a vender o sururu como “antigamente”. “Antes das manchas nós vendíamos bem. Dava pra tirar em média um salário mínimo por mês. Agora nem conseguimos chegar perto”. Ela, que trabalha a aproximadamente 15 anos na região do Dique-Estrada, relata que depende apenas do sururu para sobreviver. “Minha história é aqui. É o meu trabalho, meu sustento e de muitas outras famílias. Tudo o que tiramos da lagoa é limpo. O óleo não atingiu a Lagoa Mundaú e precisamos que as pessoas tenham conhecimento desse fato. Apenas pedem para que as pessoas não façam o consumo de peixes dos mares, mas não explicam que nossas lagoas não foram atingidas, que nosso molusco está próprio. Precisamos vender”, clama.