Cidades
Viol�ncia dom�stica: m�e � principal agressora

FÁTIMA ALMEIDA A violência doméstica contra crianças e adolescentes é um tema bastante atual e cada vez mais presente nas discussões sociais. Ela está na grande maioria dos lares brasileiros e alagoanos e se expressa, na maioria das vezes, com o intuito de disciplinar e de corrigir comportamentos julgados inadequados, traduzindo a linguagem do poder do adulto sobre a criança, ou seja, do mais forte contra o mais fraco. A materialização da violência aparece quando o diálogo acaba, ou quando nunca existiu. Aí ganha dimensões numa escala crescente que vai do ?psicotapa? (a palmada de efeito moral), safanões, chinelada, surra de cinturão, até o espacamento fatal. O que mais impressiona é que, segundo pesquisa realizada pela USP em várias cidades brasileiras, incluindo Maceió, a principal agressora nesses casos de violência ?disciplinar? é a mãe (mais de 70%). ?Talvez porque geralmente ela passe mais tempo em casa e, culturalmente, ainda se atribui à mulher, na maioria dos lares, a responsabilidade pela educação dos filhos?, explica o psicanalista e teólogo Robson Alves de Lima e Silva, aluno do curso de especialização sobre Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, da USP, e um dos responsáveis pela pesquisa na parte que abrange a capita alagoana. Na maioria dos casos, os agressores estão dentro de casa com as crianças. São familiares ou pessoas próximas: mãe, pai, tio, irmão, a babá... mas, segundo o pesquisador, ela acontece também no ambiente escolar, com mais freqüência do que os pais imaginam. Ele observa que a violência contra as crianças é generalizada, está em todas as classes sociais, em praticamente todos os lares, independentemente de raça ou religião. Mais é maior e mais freqüente nos lares de baixa renda, onde o nível de conhecimento dos pais é geralmente menor. Segundo Robson Lima, as pessoas, na maioria das vezes, não imaginam o quanto a agressão física e moral afeta a criança. Várias expressões dessa dor ele tem numa coletânea de desenhos de crianças, feitos durante um concurso ?Crescer sem Palmada?, iniciativa do Laboratório de Estudos da Criança (Lacri), Instituto de Psicologia (IP) e Universidade da São Paulo (USP), onde foi pedido que as crianças mostrassem como se sentem quando recebem uma palmada. Tipos de violência O pesquisador observa também que a violência doméstica tem várias modalidades, além daquela que é justificada como ?disciplinadora?. A violência física, caracterizada por toda ação que causa dor numa criança, desde um simples tapa até o espancamento fatal; a sexual; a psicológica, também designada como tortura psicológica, quando os pais ou responsáveis depreciam constantemente a criança, bloqueiam seus esforços de auto-aceitação, causando-lhe sofrimento mental; a negligência, que se configura quando há falhas no provimento das necessidades físicas, de saúde, educacionais, higiênicas das crianças, ou na supervisão de suas atividades como modo de prevenir riscos; e ainda a violência fatal, que são atos e ou omissões dos pais, parentes ou responsável, causando-lhes danos de ordem física, sexual e ou psicológica capazes de causar ou contribuir para a morte da criança. Conscientização A pesquisa, assim como o concurso de desenho e um programa de palestras sobre Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, fazem parte de uma ampla campanha, que envolve o Lacri, o IP e a USP, visando conscientizar os pais de que é possível educar os filhos sem castigos; sensibilizar as pessoas sobre a importância da prevenção da violência doméstica e alertar sobre as suas conseqüências. O ciclo de palestras, em Maceió, começa neste domingo, às 9h, no Centro Comunitário Nossa Senhora dos Prazeres, no Jacintinho. ?Percebemos a importância dessas palestras comunitárias, já que as estatísticas de Maceió apontam várias incidências de violência doméstica. Com esses debates acreditamos que podemos contribuir com os conselhos tutelares e envolver a comunidade na discussão de um tema tão importante?, observa Robson Lima. A campanha realiza também uma coleta de assinaturas para uma ?Petição por uma Pedagogia não Violenta?, que será encaminhada à Assembléia das Nações Unidas, para que se manifeste publicamente condenando todas as formas de violência na educação das novas gerações. O texto da petição diz que toda criança tem direito de ser educada sem violência física, psicológica ou sexual, precisa aprender com palavras e atitudes de compreensão e respeito e não com empurrões, safanões, tapas e humilhações. A campanha parte do princípio de que, ?se queremos um mundo não violento, devemos começar educando sem violência as futuras gerações!?.