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Nº 5695
Cidades

Museu de História Natural precisa de R$ 1 mi para comprar equipamento contra incêndio

Prédio centenário não dispõe de recursos próprios para sua manutenção

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 14/12/2019 - Matéria atualizada em 14/12/2019 às 06h00

Os pesquisadores de diversos países ainda se emocionam quando se lembram da destruição do Museu Nacional, que fica na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Por causa de um possível curto-circuito, no dia 2 de setembro do ano passado o fogo dizimou mais de 90% do acervo de um dos museus mais importantes do mundo. Até hoje, ainda não se tem, totalmente, definido o tamanho dos prejuízos nem o volume de pesquisas consumidas pelo sinistro que ocorreu por falta de manutenção. Um dos equipamentos de pesquisas de Alagoas tão importante como o do Rio, o Museu de História Natural da Universidade Federal de Alagoas, que funciona num prédio centenário da Praça da Faculdade, no bairro do Prado, corre risco semelhante.

Para evitar prejuízo daquele porte, o museu alagoano precisa de investimentos da ordem de R$ 1 milhão em equipamentos contra incêndio. A estimativa é do próprio diretor do museu da Ufal, professor-doutor Juiz Luiz Lopes da Silva, ao admitir que aquele prédio de 130 anos ainda não tem um sistema eficiente de combate ao fogo.

Um acidente elétrico naquele imóvel, hoje, seria, inicialmente, combatido com extintores do modelo antigo e métodos paliativos, admite o diretor do museu. “O que ocorreu no Museu Nacional foi uma lição dura, triste e que ninguém gostaria que fosse daquela forma. Causou um grave e enorme prejuízo à pesquisa brasileira em diversos campos”, lamentou Jorge Luiz.

“Nada mudou”

Apesar do duro golpe que até o momento não se sabe a dimensão nem como resgatar boa parte do acervo, das pesquisas que estavam arquivadas ali e das relíquias perdidas, pouca coisa mudou nos equipamentos culturais brasileiros. “A maioria dos museus passa por grandes dificuldades para garantir a preservação e manutenção de seus acervos”, admitiu o professor Jorge Luiz, ao acrescentar que “Alagoas enfrenta problema semelhante. A maioria dos nossos equipamentos (Museus e Casas de Culturas Públicas) enfrenta sérios problemas. Eles não têm recursos próprios e específicos destinados somente à preservação, no sentido de garantir segurança e a prevenção de incêndio”.

Se um problema da natureza que ocorreu no Rio de Janeiro se repetir em Alagoas, o diretor do Museu de História Natural explicou que dispõe de extintores de incêndios e outros equipamentos para ações paliativas num momento de emergência. Reconheceu, contudo, que os paliativos podem auxiliar o início do combate ao fogo, mas não resolvem. “Um sistema de segurança específica e exigida pelos órgãos de segurança ainda não temos. Estamos aquém do necessário”.

Custo

Para ter um sistema eficiente de prevenção a um sinistro de proporções como aconteceu no Museu Nacional, o professor Jorge Luiz estima que seriam necessários investimentos da ordem de R$ 1 milhão. Dinheiro de que, neste momento, a instituição mantenedora- Ufal - não dispõe, revelou uma fonte da universidade e confirmou o diretor do museu ao revelar que a instituição que dirige não tem orçamento próprio.

Ao ser questionado a respeito do que o Museu de História Natural guarda e precisa ser preservado, adiantou que os setores do museu estão aumentando seus acervos porque as pesquisas avançam positivamente e com novas descobertas em diversas frentes. “Alguns acervos têm destaques internacionais como a herpetologia (setor da zoologia que estuda anfíbios e repteis) que completou 30 anos (a idade do museu) e guarda mais de 20 mil espécimes (vários exemplares de espécies raras) coletados no Brasil, em regiões do Nordeste e particularmente em Alagoas”.A coleção de anfíbios e repteis é contemporânea.

Espaço adequado

As coleções mais antigas guardadas no museu são de Arqueologia e a de Paleontologia, que vão desde o período Devoniano e até o Pleistoceno, ou seja, de 400 milhões de anos para cá. Inclusive, alguns foram coletados em Alagoas. Ao ser questionado se esse acervo de valor inestimável para a ciência corre risco de ser extinto por falta de investimento em segurança, o diretor do museu considerou que o risco hoje é pequeno. Adiantou que foram adotadas medidas preventivas para preservar as coleções mais importantes e significativas para a ciência.

“Os acervos mais importantes foram colocados num espaço que já está adequado. Esse espaço conta com um sistema elétrico novo e externo”. Segundo Jorge Luiz, no novo espaço não tem sistema elétrico embutido. A fiação tem bitola adequada e própria para suportar a variação de carga de energia elétrica que acontece constantemente na cidade. No entanto, nem assim ele arrisca a afirmar que tudo está em segurança. “Sem dúvida que precisamos de uma proteção maior e mais moderna. Estamos caminhando para minimizar os riscos de incêndio em nossa estrutura que é centenária”.

Museu não tem orçamento para manter prédio de 130 anos

O Museu de História Natural é um dos equipamentos culturais da pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal de Alagoas, bastante procurado pelo público, a exemplo da Pinacoteca, do Museu Téo Brandão, do coral da Ufal e da Orquestra Sinfônica. O museu guarda um imenso acervo de fósseis de espécies raras no mundo. Mesmo assim, não tem dotação orçamentária e muito menos uma rubrica que destina verba mensal para as necessidades e manutenção do prédio que completou 130 anos.

O custo para continuar aberto está baseado na necessidade de cada mês. Para chegar, o dinheiro obedece ao trâmite burocrático da universidade, que enfrenta problemas orçamentários, já que também depende da sensibilidade do Ministério da Educação. O diretor do museu, professor Jorge Luiz Lopes da Silva, quando precisa de recursos para manutenção, comunica à retoria da universidade.

A instituição, por sua vez, encaminha o pessoal técnico da manutenção e obviamente o material necessário. Sabe-se, porém, que o custo é alto porque o museu funciona num prédio muito antigo, de arquitetura de 1871. Os gastos são constantes. “Não consigo estimar o custo anual nem mensal, porque a gente faz a solicitação quando precisa”, revelou o diretor do museu.

As despesas de manutenção ficam sob a responsabilidade da Superintendência de Infraestrutura da Ufal. O setor tem o controle do orçamento para reparos e recuperação dos equipamentos da Universidade.

Prédio abrigou antiga Faculdade de Medicina de Alagoas

A linguagem moderna evidenciada pelas primeiras edificações de ensino superior no estado de Alagoas, a partir de Maceió, nem sempre se apresenta focada no que havia de mais inovador dentre as premissas deste movimento, abrigando por vezes tendências conciliatórias com formas arquitetônicas mais conservadoras. Esse parece ser o caso do estilo adotado na construção da antiga Faculdade de Medicina, instituída em aspecto neocolonial. Assim descreve o Portal da Arquitetura Alagoana ao ser descrever o prédio que hoje abriga o Museu de História Natural da Universidade Federal de Alagoas.

Segundo o Portal, é no trabalho da arquiteta Vanine Amaral (2009) que encontraremos maiores referências nesse âmbito. O neocolonial aparece em Maceió, seguindo uma tendência regionalista, com um retorno ao uso de elementos tradicionais, como telha canal, pátios, varandas e detalhes em azulejos decorados. No entanto, não se reveste de um ímpeto contraditório com o modernismo. A maioria de seus arquitetos praticantes, logo tornam-se adeptos do movimento moderno, revestindo estes elementos tradicionais de uma tônica moderna e atualizada.

Construído em 1871 pelo governo federal para abrigar a sede do Quartel do 20° Batalhão de Caçadores, o prédio se tornaria a sede do Quartel do Exército, trazendo composição volumétrica e fachada em estilo neoclássico, assim permanecendo até a década de 1940, quando todo o contingente militar seria transferido para uma nova construção na parte alta da cidade, entrando o imóvel em estágio de arruinamento.

É nessa mesma década que começaria a nascer a ideia da criação da Faculdade de Medicina, mais precisamente no ano de 1949, pelo Dr. Abelardo Duarte. Ao empreendimento agregaram-se outros 16 médicos, que, ao longo do ano, se reuniriam para tratar de sua organização, deliberar sobre a estruturação institucional e formação do corpo docente. O esforço conjunto teve êxito: em 3 de maio de 1950 fundava-se a Faculdade de Medicina de Alagoas. No entanto, somente em janeiro de 1951 seria obtida a autorização do Ministério da Educação para seu funcionamento.

Assume a diretoria, o doutor Ib Gatto Falcão, que, junto com os outros membros, dá início à busca por instalações físicas próprias.

Ainda conforme a descrição do Portal da Arquitetura Alagoana, o espaço interior é bem compartimentado, possui dois pavimentos e um pátio interno ajardinado, proporcional em relação à área ocupada, ornamentado com espelhos d’água, trazendo a caracterização da alvenaria edificada em estilo mais sóbrio, atestando o antigo neoclássico.

Em 10 de dezembro de 1956 seria formada a primeira turma de médicos alagoanos. A faculdade se manteria como instituição particular até a década de 1960, quando é incorporada para a criação da Universidade Federal de Alagoas, vindo a integrar o Centro de Ciências Biológicas – CCBi, mantendo-se em funcionamento no prédio original mesmo com a criação do novo Campus A. C. Simões da Ufal na década de 1970 e recebendo nova denominação como Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), agora uma Unidade Acadêmica, já na primeira década do século XXI. Em 2011, quando são comemorados os 50 anos da universidade, o prédio recebe um projeto de restauro que visa transformá-lo em Memorial da Ufal, sendo a maior parte dos cursos transferida para o campus.

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