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Nº 5759
Política

E ASSIM NASCEU A GAZETA DE ALAGOAS

Fundado por Luiz Magalhães da Silveira, matutino viria a ser o 1º veículo da Organização Arnon de Mello

Por Da Redação | Edição do dia 25/02/2023 - Matéria atualizada em 25/02/2023 às 04h00

A Gazeta de Alagoas saiu às ruas pela primeira vez no dia 25 do segundo mês do quarto ano da convulsionada década de 30 do século 20. Um domingo. Quis assim Luiz Magalhães da Silveira, seu criador, um bravo jornalista e deputado federal, que vinha combatendo o oligarquismo e havia lançado, em 31 de maio de 1908, o Jornal de Alagoas, que manteria e dirigiria com a mesma finalidade até desfazer-se dele, em 1933, “por circunstâncias políticas”, como ele próprio afirmara. Às 14h do sábado imediatamente anterior, acontecera a solenidade mais que apropriada para tão memorável acontecimento, e na qual, segundo testemunho de um cronista, não faltaram bebidas, petiscos, fogos de artifício e aplausos dos convidados mais ilustres às pessoas simples. Naquela ocasião, visivelmente emocionada, Maria Luiza, filha única de Silveira, proclamou, em voz alta, que estavam inauguradas a redação e oficinas do novo matutino, em sede própria, na Rua do Comércio da capital dos alagoanos. O gesto de Maria Luiza antecedeu ao desatamento, por ela própria, de um laço de fita verde e amarela atado à porta de acesso à secção gráfica que acabava de ser equipada “com duas linotipos, cavaletes de composição, caixetas e magnífica rotativa de impressão”. O lançamento da nova folha do incansável Silveira, apelidado carinhosamente de “Catitinha”, que logo contou, para essa outra empreitada, com a colaboração da família, principalmente do irmão José na parte financeira, foi saudado entusiasticamente. As felicitações chegavam de diversos cantos do território alagoano. De outros estados e de outros órgãos de imprensa. Como o mencionado Jornal de Alagoas, que já não lhe pertencia, que assim se expressou: “Nossa confreira, pelo renome de seu diretor, virá certamente marcar um luminoso halo de fulguração em nosso meio jornalístico”. Sobravam razões para essas manifestações de contentamento e otimismo. Pelo que foi dito, como também devido ao fato de Luiz Silveira inaugurar, com o segundo jornal de sua propriedade, nesse meio, uma nova e alvissareira etapa do periodismo alagoano: a da introdução da composição mecânica. Esta nasceu, portanto, já de forma pioneira. A poucos dias do último como dono e diretor do Jornal de Alagoas, o combatível jornalista, que ficou conhecido como “paladino da democracia e terror das oligarquias”, pegou o navio em Jaraguá. Foi direto comprar o que poderia encontrar de melhor no Rio de Janeiro para a futura GAZETA. Tudo terminou acontecendo como planejara. Como comprovam os elogios publicados no dia seguinte ao do lançamento desta publicação e em outras oportunidades, pelos primeiros e mais importantes concorrentes do jornal que seria, nos anos 50 do mesmo século, o veículo-embrião da primeira empresa produtora de notícias e publicidades da Organização Arnon de Mello (OAM).

DÉCADA MAIS QUE CONTURBADA E A POLITICA COMO FATOR FUNDAMENTAL

Quando a década de 30 chegou ao nosso Estado, praticava-se ainda um jornalismo que tinha o fato político como preocupação fundamental. Não exatamente a política, em sua ampla e profunda percepção, mas o fato político, o fato que ocorre em área restrita, a área ocupada pelos políticos, por aqueles que estão ligados ao problema do poder. Como bem lembraria o jornalista Joarez Ferreira, em numa das conferências promovidas pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) nos 50 anos do Grêmio Literário Guimarães Passos, “vivia-se era do jornalismo individual e das mais agitadas do País, politicamente falando. Nas redações, sobretudo”. O jornalista Floriano Ivo Júnior guardaria na mente detalhes do ambiente e acontecimentos dos anos 30, que lembraria no livro autobiográfico Crônicas e Depoimentos (Recife, 1992). Ele ingressou no jornalismo alagoano em 1938, colaborando na seção de Esportes do Jornal de Alagoas, com o editor José Batista dos Santos, cobrindo os jogos da Segunda Divisão e o chamado “esporte menor” (do futebol de pés descalços) praticados no Vergel do Lago, “cujas rendas eram maiores do que os jogos da Primeira Divisão, nos estádios da Pajuçara e do Mutange”. Segundo o saudoso Floriano, nessa era praticava-se o jornalismo romântico, diletante. “Os jornalistas tinham liberdade de escrever o que pensava. Eram autênticos literatos e tinham escola de vocação. Os trabalhos nas redações começavam, efetivamente, às 8 da noite e entrava-se madrugada adentro. Durante o dia, pesquisava-se o fato e formavam-se opiniões sobre eles para transformá-los em notícia já com uma consciência formada”. A segunda metade do século XX começou com a GAZETA não mais pertencendo ao velho Silveira – que, bastante doente, cego, deixara a militância no jornalismo e na política partidária, iniciada antes da proclamação da República, por meio de O Debate – e, sim, à Cooperativa Publicitária Gazeta de Alagoas Ltda, à beira da falência. Consta-nos que, já circulando como veículo dessa mesma cooperativa, sob a orientação de um grupo de políticos, à frente o então governador Silvestre Péricles, este mesmo matutino – cuja primeira sede era localizada em um prédio de primeiro andar edificado na esquina da antiga Rua Augusta, também conhecida como Rua das Árvores e Ladislau Neto, com a Rua do Comércio, chegou ao ponto de não vender mais de 300 exemplares diários, por ter sido transformado “em verdadeiro boletim político e trazer em suas páginas termos impublicáveis, entre os quais palavras de calão”.

RENASCIMENTO

A Gazeta passou a ser o mais lido jornal do Estado na segunda metade do século passado, poucos meses depois de ser adquirida em leilão público. Em 1954, a Gazeta passou a viver uma nova fase, sendo diretor-proprietário o jornalista e deputado federal José Afonso Casado de Mello. Em seguida, ela tornou-se a pioneira das empresas da Organização Arnon de Mello, que, já em 1955 era providenciada a compra do imóvel de sua nova sede, na mesma rua da primeira. Começou exatamente aí a ressurreição do mais antigo jornal de iniciativa privada em circulação no Estado atualmente. Várias colunas que vinham sendo mantidas havia vários anos continuavam nas páginas da Gazeta, como Vida Mundana, Porto e Aeroporto, Ronda Policial, A Propósito, de Luiz Lavenére, já atuante como jornalista em Maceió ainda no Império, Boletim Internacional, assinada por J. Silveira (professor José Camerino da Silveira) e outros redatores e colaboradores dos primeiros anos de vida, e outras colunas diárias e antigas. A exemplo dos espaços reservados às notícias dos municípios ainda no tempo de Luiz Silveira e da primeira sucursal do interior instalada na cidade de Penedo, então chefiada pelo jornalista Áureo Alcides de Castro.

Essa empresa gráfica também cuidou em preservar vários dos mais antigos funcionários da redação – sendo um deles o veterano Oséas Rosas, o sempre lembrado precursor alagoano das crônicas na área de Polícia; o filho deste, Renan Rosas – trabalhava no Setor Comercial e fazia matérias de esportes. Também do Setor Gráfico, começando pelo chefe Zacarias Santana, que entrou na Gazeta quando ainda aprendiz de tipógrafo, dirigiria o Setor Gráfico da Imprensa Oficial do Estado e presidiria, por vários anos a Sergasa, que viria a ser a empresa editora do Diário Oficial do Estado, e chegou a assumir a vice-presidência da Gazeta antes de aposentar-se no jornalismo após exercer, nesta mesma empresa, o cargo de diretor industrial, quando ela começou a surgir entre as mais modernas das congêneres espalhadas pelo país.

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