app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5694
Cidades

E ASSIM NASCEU A GAZETA DE ALAGOAS...

Jornal fundado por Luiz Magalhães da Silveira viria a ser o primeiro veículo da Organização Arnon de Mello

Por VALMIR CALHEIROS/REPÓRTER (N MEMORIAM) | Edição do dia 22/02/2020 - Matéria atualizada em 22/02/2020 às 06h00

Reprodução do primeiro número da Gazeta de Alagoas, publicado em 25 de fevereiro de 1934
Reprodução do primeiro número da Gazeta de Alagoas, publicado em 25 de fevereiro de 1934 - Foto: Reprodução
 

A Gazeta de Alagoas saiu às ruas pela primeira vez no dia 25 do segundo mês do quarto ano da convulsionada década de 30 do século 20. Um domingo. Quis assim Luiz Magalhães da Silveira, seu criador, um bravo jornalista e deputado federal, que vinha combatendo o oligarquismo e havia lançado, em 31 de maio de 1908, o Jornal de Alagoas, que manteria e dirigiria com a mesma finalidade até desfazer-se dele, em 1933, “por circunstâncias políticas”, como ele próprio afirmara.

Às 14h do sábado imediatamente anterior, acontecera a solenidade mais que apropriada para tão memorável acontecimento, e na qual, segundo testemunho de um cronista, não faltaram bebidas, petiscos, fogos de artifício e aplausos dos convidados mais ilustres às pessoas simples. Naquela ocasião, visivelmente emocionada, Maria Luiza, filha única de Silveira, proclamou, em voz alta, que estavam inauguradas a redação e oficinas do novo matutino, em sede própria, na Rua do Comércio da capital dos alagoanos.

O gesto de Maria Luiza antecedeu ao desatamento, por ela própria, de um laço de fita verde e amarela atado à porta de acesso à secção gráfica que acabava de ser equipada “com duas linotipos, cavaletes de composição, caixetas e magnífica rotativa de impressão”. O lançamento da nova folha do incansável Silveira, apelidado carinhosamente de “Catitinha”, que logo contou, para essa outra empreitada, com a colaboração da família, principalmente do irmão José na parte financeira, foi saudado entusiasticamente. As felicitações chegavam de diversos cantos do território alagoano. De outros estados e de outros órgãos de imprensa. Como o mencionado Jornal de Alagoas, que já não lhe pertencia, que assim se expressou: “Nossa confreira, pelo renome de seu diretor, virá certamente marcar um luminoso halo de fulguração em nosso meio jornalístico”. Sobravam razões para essas manifestações de contentamento e otimismo. Pelo que foi dito, como também devido ao fato de Luiz Silveira inaugurar, com o segundo jornal de sua propriedade, nesse meio, uma nova e alvissareira etapa do periodismo alagoano: a da introdução da composição mecânica. Esta nasceu, portanto, já de forma pioneira. Ao mesmo tempo, seu fundador deixava registrado à posteridade, no artigo de fundo, estampado na primeira página da edição número um do mais antigo diário de empresa privada em circulação atualmente no Estado, a mensagem que transcrevemos a seguir, preservando a ortografia da época: “Embora um pouco tarde, mas ainda assim, e felizmente, em tempo, senti que a minha existência estava irremediavelmente ligada à imprensa, não podendo como quiz fazer, deixa-la subtrahir-me definitivamente. Cumprindo, pois, o meu destino, eu tinha mesmo que retornar à atividade jornalística. E volto, agora, convencido de que hei de ir até os meus últimos dias entre as canseiras e as seducções dessa profissão. Do meu afastamento, mezes atrás, logrei a irrefragável certeza do que venho de anunciar (...) Esta folha, órgão independente que é, não tem partido, mau grado seja dirigida por um homem de partido. Também não está sujeita a dependências, ou a influência de qualquer natureza (...) A nação empobrecida, sente-se cansada de meizinhas e panaceas que nada adiantam nem curam nossos males. Há impaciências claras, insophismáveis, justíssimas, exigindo sinceridade política, bôa fé política, legítimo patriotismo. Temos que sahir – seja lá como for - desse mau estar e inquietude (...) Uma sobrinha de Luiz Silveira e filha do professor Faustino da Silveira, um de seus irmãos que o ajudava como secretário do tradicional matutino da antiga Rua Boa Vista, em Maceió, a médica Nise da Silveira – que se tornaria uma das personalidades de renome internacional no campo da Psiquiatria –, contaria, muitos anos depois, que o tio passou a sofrer com depressão assim que decidiu vender aquela sua primeira empresa. Mais preocupado com o futuro de Maria Luiza, colocou na Caixa o dinheiro que adquirira da negociação. Vendo o sofrimento do pai, Maria Luiza teve a ideia de levá-lo a montar um outro jornal. Daí para o surgimento do que seria a nova fábrica de jornal de Luiz Silveira, as providências demoraram poucos dias. A poucos dias do último como dono e diretor do Jornal de Alagoas, o combatível jornalista, que ficou conhecido como “paladino da democracia e terror das oligarquias”, pegou o navio em Jaraguá. Foi direto comprar o que poderia encontrar de melhor no Rio de Janeiro para a futura GAZETA. Tudo terminou acontecendo como planejara. Como comprovam os elogios publicados no dia seguinte ao do lançamento desta publicação e em outras oportunidades, pelos primeiros e mais importantes concorrentes do jornal que seria, nos anos 50 do mesmo século, o veículo-embrião da primeira empresa produtora de notícias e publicidades da Organização Arnon de Mello (OAM).

Mais matérias
desta edição