Cidades
Infectologistas alertam para período crítico do novo coronavírus


O período mais crítico da pandemia do novo coronavírus - que pode elevar o número de pessoas infectadas - deve começar nas próximas semanas. O alerta é de infectologistas que atuam na linha de frente no combate ao Covid-19. Ao longo dos meses de abril e maio, o estado terá de oferecer unidades e equipes preparadas para o atendimento de doentes, do contrário os hospitais ficarão à beira do colapso.

Infectologista da rede pública e privada, Fernando Maia reforça a atenção dos alagoanos para continuarem seguindo os procedimentos adotados até agora. "É preciso manter como está sendo feito até agora, com o isolamento social e a lavagem das mãos. Nós devemos ter um aumento do número de casos na segunda metade de abril e início de maio, que é a época do ano que a gente sempre tem o aumento das gripes, dos resfriados e das viroses respiratórias de uma maneira geral", explica.
Fernando Maia completa que no caso do coronavírus, como há transmissão respiratória, provavelmente, o número de registros vai aumentar. Então agora é mais importante do que nunca manter o isolamento e as medidas de afastamento social. O decreto de emergência - em vigor desde a segunda quinzena de março e já prorrogado - proíbe o funcionamento de grande parte dos estabelecimentos comerciais e escolas - para evitar aglomerações.
"Os cuidados que as pessoas devem ter em casa e nos espaços públicos é o mesmo: nos espaços públicos, a pessoa deve evitar aglomerações sempre que possível e manter-se longe das outras pessoas em pelo menos um metro de distância. Esse é o ideal. Ao chegar em casa lavar as mãos, antes de comer lavar as mãos, depois de ir ao banheiro lavar as mãos com água e sabão. Se não tiver disponível, pode ser álcool em gel, mas é muito importante esse hábito. Chegar em cada da rua toma banho e troca de roupa para não trazer contaminação da rua para dentro de casa", completa Maia.
Não se sabe quem está doente

Para o infectologista José Maria Constant, há uma tendência de aumento do número de pessoas infectadas pelo Covid-19 em Alagoas e que a subnotificação de casos é um desafio, porque não se sabe exatamente quem está doente, já que muitos terão apenas sintomas leves. "Logicamente, o comportamento da pandemia está diferente em vários lugares. A gente não pode dizer que aqui vai acontecer a mesma coisa que está acontecendo em São Paulo ou mesmo em Fortaleza, mas a medida que o tempo vai passando a tendência é haver uma expansão do vírus, felizmente o que não houve até agora foi explosão. Há uma subnotificação, mas não intencional, porque uma grande característica desse vírus é ele infectar muitas pessoas que aparecem com sintomas leves, que evidentemente não fazem teste e então escapam do diagnóstico", avalia José Maria Constant.
Como o vírus tem se propagado de forma diferente nas localidades, o melhor é prevenir, reforçar o isolamento social. "A gente tem uma estimativa, não com base na experiência brasileira que é pequena, mas na chinesa que de cada cem pessoas infectadas pelo vírus, 80 não apresentam sintoma nenhum ou sintomas leves. Então o estado de Alagoas tem mais pessoas infectadas. Não houve explosão ainda, a tendência é haver um aumento porque afinal de contas o vírus está circulando entre nós. Supomos que haja um aumento agora no mês de abril e na medida que ele circular mais intensamente nós vamos ter um pico de infecção. E eu repito, não é igual ao que está acontecendo nos outros estados porque o comportamento da doença tem sido diferente em vários locais. Tem estado brasileiro que não foi afetado ainda", explica o infectologista.
Não há motivo para pânico, mas para preocupação
O infectologista Fernando Maia lembra que existe a recomendação do Ministério da Saúde sobre o uso de máscara caseira de tecido duplo e que isso ajuda a limitar a transmissão do vírus por pessoas que estejam portando a Covid e não apresentam sintomas. "Isso é interessante para a população para tentar diminuir o número de casos gerais dessa nova virose. Não há motivo para pânico, mas há motivo para preocupação. Então as pessoas devem manter as medidas que são muito importantes, principalmente agora. Sei que muita gente já está cansado de isolamento, mas é importante renovar o ânimo e manter. Foi muito importante também a medida de suspender as aulas nas escolas porque são locais que as crianças ficam todas juntas, circula um grande número de pessoas, por isso havendo alguém doente a disseminação do vírus se tornaria muito mais rápida", explica.
Na avaliação de Maia, até agora são importantes as ações desenvolvidas pelo poder público, como o isolamento social. "Estão de acordo com as regras da boa ciência, pelo que se tem visto. O que está faltando fazer é testar mais pessoas para que a gente saiba o número real de casos da doença. Enquanto a gente não consegue testar, na dúvida vai mantendo o isolamento para evitar maior número de casos", finaliza.
Vírus sobrevive mais tempo na temperatura fria
O infectologista José Maria Constant ressalta que a temperatura dificulta a transmissão do vírus de forma indireta, apenas isso. Não dá então para afirmar que o clima do Brasil pode ajudar a combater a pandemia. "Por exemplo, alguém tosse aqui e alguém tosse no Norte da Itália e uma maçaneta de porta é contaminada por essa tosse. O vírus vai conseguir sobreviver um pouco mais no meio exterior na temperatura mais fria. Essa é uma das influências da temperatura, mas o meio exterior influi pouco sobre a temperatura interna, em qualquer parte do mundo. Outra coisa também, é que no clima frio as pessoas tende a se aglomerar em ambientes fechados e isso facilita a transmissão", avalia.
O fato de Recife e Fortaleza terem uma disparada de casos, em relação a Maceió, deve-se - na opinião de José Maria Constant - também que ambas as cidades têm aeroportos com muito movimento, muita circulação de pessoas de fora. "Isso não tem nem comparação com o nosso (aeroporto) aqui. Metrópole tende a sofrer mais. É aguardar para ver, tem que se esperar. A população alagoana não tem imunidade contra o vírus, porque é um vírus novo", acrescenta.
Abril e maio devem ter mais casos
A previsão é de que entre abril e maio os casos aumentem e em junho comece a declinar, segundo Constant. "Certamente nós seremos infectados de uma forma mais maciça do que atualmente. Essa medida de isolamento social que as vezes é tão criticada não é uma medida para eliminar o vírus do nosso meio não, é uma medida de contenção para que a gente ganhe tempo para poder preparar as estruturas para os casos mais graves que poderão acontecer. Essa medida não vai impedir, vai retardar. Evitar um grande número de casos de atendimento em curto espaço de tempo quando não tínhamos ainda uma estrutura, mas agora já está se armando essa estrutura".
"Esse vírus tem alta infectividade e causa doença em poucas pessoas, o grande problema é que uma pessoa sem sintoma pode estar transmitindo o vírus. O ideal era testar todo mundo, mas assim mesmo não dava porque a pessoa testada hoje teria de ser testada daqui um mês de novo, por exemplo. Na realidade nós não temos disponibilidade para fazer tantos testes e consequentemente perdemos muitos diagnósticos", finaliza José Constant, convidado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) para compor a equipe que atua nas ações de combate ao Covid-19 em Alagoas.
Estrutura para atender casos

Sobre a estrutura que está sendo disponibilizada pelo governo do Estado para a fase mais aguda da pandemia, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) explicou que vem preparando a rede hospitalar para atender os casos de Covid-19. "Estão em pleno funcionamento 70 leitos de UTIs, distribuídos no Hospital da Mulher e Hospital Veredas, em Maceió; Hospital de Emergência do Agreste, em Arapiraca; e Hospital Carvalho Beltrão, em Coruripe. Com a inauguração do Hospital Metropolitano, em 15 de maio, Alagoas vai dispor de 250 UTIs abertas exclusivas para atender as pessoas que tenham sido infectadas pelo novo coronavírus em Alagoas. São as principais prioridades que estão sendo colocadas em prática diariamente em Alagoas", afirma a Sesau.
A reportagem pergunta à Sesau sobre a disponibilização de respiradores, ponto crítico da maioria dos estados que enfrentam o novo coronavírus. A pasta informa que Alagoas dispõe, atualmente, de 77 respiradores distribuídos nos hospitais que estão atendendo pacientes com Covid-19 nas unidades contratualizadas em Maceió, Coruripe e Arapiraca.
Para desafogar as unidades de saúde, estão sendo erguidos hospitais de campanha, no Centro de Convenções, em Jaraguá, e iniciada a montagem da estrutura no Ginásio Presidente Fernando Collor, no Trapiche da Barra, em Maceió.
Sobre o que será feito para reforçar o número de profissionais que estão atuando na linha de frente, como garantia da proteção, a Sesau explica que já existem equipes da área de saúde no enfrentamento ao novo coronavírus nos hospitais Veredas, da Mulher, localizados em Maceió e, no interior, no Hospital de Emergência do Agreste, em Arapiraca. Além do Hospital Carvalho Beltrão, em Coruripe. "A Sesau também lançou um edital de chamamento público para contratar mais de 550 profissionais da área da saúde para trabalhar na rede estadual. Os profissionais terão os equipamentos de proteção individual (EPIs) à disposição", enfatiza a assessoria de comunicação da Sesau.