O Cemitério São José, no Trapiche da Barra, é provavelmente o mais conhecido da população alagoana nos tempos recentes. O que muita gente não sabe é que sua origem se deu em meio a uma pandemia, a primeira que se tem notícia culminando em isolamento social: a gripe espanhola, nome popular da Influenza A (H1N1). A doença fez cerca de 500 milhões de vítimas em todo o mundo. Como é costume, a história se faz presente para tentar evitar que a sociedade cometa erros do passado, baseada em fatos. Quem contou mais desses acontecimentos que envolveram a construção do Cemitério de Caju, como era nomeado inicialmente o Cemitério São José, por causa dos muitos cajueiros que existem no local, foi o jornalista e pesquisador em História Edberto Ticianelli. “Ele foi construído, de forma urgente, para resolver, a partir de 1918, a quantidade de mortos que não suportava mais o cemitério do Estado, que era o Cemitério Nossa Senhora da Piedade. Ele foi escolhido naquela área, no Trapiche, provisoriamente, foi desapropriado o terreno para o que seria hoje a Pecuária e o Quartel do Exército, que era uma área de isolamento de saúde já. Somente em 1924, ele foi murado, preparado, digamos assim, tratado como cemitério”, disse Ticianelli, em entrevista ao repórter Pedro Ferro, da TV Gazeta. Segundo anotações obtidas à época, entre o dia 1º e 10 de dezembro de 1918, Alagoas contabilizou 126 mortes ocasionadas pela Influenza A. De acordo com o historiador, apesar de ser o dado, ele é impreciso. “Anotou-se as quantidades no Cemitério São José, no Trapiche, e no Cemitério de Piedade. Os outros cemitérios, como de Bebedouro e do Jaraguá, não tinham anotação. Do interior do estado, muito menos. Então, esse número é muito impreciso, mas a gente deve ter perdido milhares de pessoas em Alagoas nesse período”, explica.
A DOENÇA
A gripe espanhola é um subtipo da Influenza A ou H1N1, hoje bastante conhecida pela população. As aglomerações já eram comuns àquela época; porém, era inédita a necessidade de isolamento social, quase como nos dias atuais, em que não se via ou sequer se imaginava a possibilidade de distanciamento físico entre as pessoas - imagine, então, uma intensa campanha para que todos fiquem em casa. De volta ao passado, 35 mil pessoas morreram pela gripe espanhola no Brasil, em poucos meses, incluindo o então presidente da República, Rodrigues Alves, que tinha acabado de ser reeleito. O vírus havia chegado ao país pelo navio inglês Demerara, que partiu de Liverpool, e passou por Lisboa, Dakar, Recife e Salvador, até chegar ao Rio de Janeiro, em 16 de setembro de 1918. As primeiras mortes no país foram conhecidas na capital de Pernambuco, no Recife. Rapidamente, muitas pessoas começaram a morrer. Os pacientes com sintomas mais graves eram caracterizados pela pele azulada, devido à falta de oxigênio, e hemorragias internas severas. Os leitos de hospitais, em todo o Brasil, ficaram lotados.