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Garotas de programa relatam sumiço de clientes durante pandemia

Elas também contaram quais escolhas tiveram que tomar para se proteger da Covid-19

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Imagem ilustrativa da imagem Garotas de programa relatam sumiço de clientes durante pandemia
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Rafaela Cardoso tem 27 anos e trabalha há quatro como garota de programa nas ruas de Maceió. Em todo esse tempo, relata que, “difícil era os clientes não entrarem em contato para ter seus serviços sexuais”. Porém, com a pandemia, a realidade vem sendo outra. O movimento despencou e, quem a procura, pede desconto no final.

“Nunca imaginei que meu trabalho seria afetado devido à crise. Sei que tem todo esse problema de contágio e o correto é manter a distância. Porém, como já tenho clientes fixos, a minha certeza era de que eles iam continuar me procurando, mas não é isso o que vem acontecendo. Sem falar que querem desconto, algo que acho descabível, já que eles continuam exigindo o serviço completo”, falou.

Ela diz também que, para não deixar as ruas, adotou uma série de medidas preventivas para diminuir o risco de contágio pela Covid-19. Máscaras, álcool em gel e até luvas agora fazem parte do kit que usa em cada programa.

"Eu tenho aqui álcool na bolsa e também estou com máscara. Em alguns casos uso até luva. Além disso, quando vou atender o cliente peço pra ele tomar banho e passar álcool em gel na mão", relatou Rafaela.

Byanca Ferraz* - nome artístico -, de 24 anos, também é uma profissional do sexo e já sente no bolso o efeito da pandemia. Acostumada a apurar cerca de R$ 1.000 por semana com seus serviços, agora tem que se virar com pouco mais R$ 300. Ela conta que a baixa quantia vem trazendo problemas, visto que usa o dinheiro para ajudar a família.

“Eu moro sozinha, mas mando dinheiro para minha mãe frequentemente. É um trabalho duro, difícil, mas o único que me permite fechar a conta no final do mês”, frisa.

Perguntada sobre os riscos de estar junto a outra pessoa, o que pode propagar o vírus com mais facilidade, Byanca é direta: “Continuo trabalhando porque é o único meio que tenho de arrumar dinheiro. Se eu parar, passo fome. Sei que é arriscado se encontrar com clientes por agora, mas, quando avaliamos o que faço, percebemos que, desde sempre, minha profissão é e foi perigosa”, comenta ela, se referindo a alta possibilidade de ser contaminada por uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST).

Cobrando R$ 150 a hora e R$ 1.000 a diária, a jovem relata o sofrimento de exercer o que faz. “A pessoa tem que engolir muito sapo, pois há muito homem esperto, que faz graça e que não quer pagar o que é cobrado. Sem falar que, o preconceito, é grande por parte da sociedade. Porém, coloquei na minha cabeça que julgamentos existem em todas as profissões. Não estou matando e nem roubando, então minha consciência é tranquila”, salientou.

Atendimentos online

Luíza, de 25 anos é transexual e afirma que está há 13 dias sem atender clientes pessoalmente e que vem procurando formas de se proteger sem deixar de trabalhar. Uma delas, no entanto, é o sexo por videochamada.

“Tive a ideia de atender por videochamada para não ficar sem dinheiro nenhum. É uma forma de ter uma renda mínima no meio do caos", explicou.

Os valores, no entanto, são bem diferentes. Nos atendimento online ela cobra muito menos do que presencialmente, e a renda do mês não deve chegar nem a metade do que normalmente consegue.

Mesmo com as orientações de isolamento social por riscos de contágio, Luíza diz que muitos clientes fixos a procuram pelo celular e perguntam se haverá um desconto no valor do programa. "Querem saber quanto é o valor de maneira presencial, na certeza que terei que baixar o preço por causa da pandemia."

A escolha de Luíza de trabalhar pela internet vai de encontro com cartilha feita pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, comandado por Damares Alves, que recomenda o trabalho virtual a profissionais do sexo durante a pandemia do coronavírus.

Destinado ao público LGBT, o material traz orientações sobre como se proteger da Covid-19. Segundo a cartilha, "trabalhadores autônomos, profissionais do sexo e pessoas sem renda fixa infelizmente são mais prejudicados durante as recomendações de quarentena".

O documento também sugere que o público tenha boas ideias para não ficar parado. "Mas não é na crise que nascem as boas ideias? Se tiver que trabalhar, converse com seus clientes, tente a opção do serviço virtual", diz.

Além disso, a cartilha ressalta a importância de manter o isolamento social e contraria a retomada das atividades, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro. Utiliza, ainda, o Ministério da Saúde como fonte oficial de informação.

Privilégio de escolha

Já outra garota de programa, que prefere ser chamada de Priscila, conta que teve a sorte de não precisar se arriscar durante a pandemia. Ela vive hoje com parte do dinheiro que ganhou nos primeiros dois meses do ano.

Priscila interrompeu os atendimentos e diz que não é adepta do sexo virtual.

"Sempre fiz atendimento pessoal e eu prefiro, não gosto de vídeo. No momento, estou parada, pois tenho como e me sinto privilegiada por isso", disse.

"Tenho uma amiga que está muito preocupada e pensa em viajar para outras cidades. Ela não parou, está tentando trabalhar normalmente, mas não está tendo procura”, completou ela.

Priscila acredita que, por conta da quarentena, muitos clientes não estão podendo sair de casa e acabam ficando sem dinheiro.

Sexo x Covid-19

De acordo com a ginecologista Bárbara Borges Souto, não há nenhum estudo que comprove a transmissão da Covid-19 através da relação sexual. "Não é uma doença de transmissão sexual como, por exemplo, Aids, Sífilis e Gonorreia. Se for, ainda vamos descobrir".

Por outro lado, existem outros perigos de transmissão do coronavírus através da relação sexual. "O problema é a proximidade física das pessoas, qualquer proximidade é fator de risco para a transmissão. O beijo, por exemplo", afirmou.

Para a médica a dica é ficar atento aos sintomas do vírus. "Qualquer pessoa que estiver com sintoma de gripe ou teve contato com pessoas que tiveram estes sintomas, tem que ficar de quarentena de 14 dias e quem está de quarentena não pode ter relação sexual porque estará em isolamento social", concluiu.

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