Cidades
"Não subestimem a doença", afirmam recuperados da Covid-19
Alagoanos revelam como passaram a enxergar a vida depois de conviver com a doença


Era domingo, 8 de março, quando Alagoas tomou conhecimento do primeiro caso confirmado de Covid-19. Daquela tarde até este final de semana, muita coisa mudou e o cenário muda a cada hora, com a divulgação do Boletim Epidemiológico, emitido pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) do Ministério da Saúde. Entre os registros, existe o número crescente de casos confirmados, os sob investigação, de mortes, e há o de recuperados, que crescem conforme o avançar dos dias. A Gazeta de Alagoas conheceu pessoas recuperadas e que retratam a rotina ao conviver com a doença e a recuperação, até chegar a cura.
Sem sair de casa, mesmo cumprindo o isolamento social, a servidora pública Andressa Costa, de 32 anos, relata que ela, os filhos, de 3 e 7 anos, a mãe, de 66, e o marido, de 44 anos, foram diagnosticados e/ou apresentaram sintomas da Covid-19. O primeiro infectado foi o marido de Andressa, Manoel Messias da Silva, de 44 anos, que trabalha com plantas medicinais no Mercado da Produção, em Maceió.
Com o resultado em mãos, Andressa conta como se sentiu quando recebeu o diagnóstico positivo. “Me deu uma caída, eu fui lá pro final do poço, depois juntei os caquinhos e voltei porque essa doença mexe muito com o psicológico. Como a gente sabe de muitos casos tristes, o primeiro pensamento é ‘pronto, eu vou morrer’. Eu olhava para meus filhos, chorava. Olhava para minha mãe, chorava. Poxa, ela é idosa. Quadro de risco. Nos dois dias após o resultado, que eu fiquei completamente de cama e só conseguia mexer o olho, entrei em desespero. Acredito que foi psicológico”, disse.
Do fundo do poço ao recomeço no vale da esperança, a alagoana Andressa, assim como centenas de milhares de pessoas ao redor do Mundo que venceram a Covid-19 afirma que o psicológico também contribui para o melhor resultado do tratamento.
“Não encare a Covid como sinônimo de morte. O primeiro passo, ao se contaminar, é não entrar em desespero porque é uma doença que afeta o psicológico e te deixa debilitado rapidamente. Uma das formas da cura depende do próprio infectado, pois é necessário se ajudar”, conta.
A servidora pública diz que muitas pessoas subestimam a doença e classifica o novo coronavírus como traiçoeiro.
“Para os que se consideram imbatíveis, não subestimem a doença. Ela [a Covid-19] é traiçoeira, pois vc pode não ter tido sintomas graves, mas você sendo o portador do vírus, vai contaminar outras pessoas, que não terão a mesma sorte. Então, ao apresentar os sintomas, se isole por respeito ao próximo. Lembre-se que nem todos terão a mesma resistência”, enfatiza acrescentando que “as pessoas precisam ter mais conscientização sobre as diversas maneiras de contágio para assim evitá-las”.
O aposentado Adriano Leão Maia, de 58 anos, que faz diálise há 9 anos por ser renal crônico, também é um dos recuperados. Na contramão da estatística, Maia carrega uma história de resiliência e de profunda esperança. Mesmo cumprindo o isolamento e saindo apenas para fazer a diálise, Adriano foi infectado.
Ele fez o exame após relatar para os médicos, que o acompanham há anos, que estava sentindo a barriga inchada, gases, diarreia, olhos queimando, garganta doendo, cansaço e o corpo muito debilitado. Não deu outra, na segunda-feira, 6 de abril, dia que saiu de casa, no bairro Jardim Petrópolis, para a clínica UniRim, no Hospital do Coração, onde faz o tratamento, realizou o exame e, no sábado, 11 de abril, recebeu o resultado: positivo para Covid-19.
"Quando recebi o resultado fiquei muito assustado por causa do meu problema renal porque qualquer coisa pega pneumonia. No passado, eu passei uma semana na UTI por causa de uma sinusite. Quando recebi o resultado, já havia passado o pior, uma semana. E fiquei um pouco mais tranquilo", reflete.
Adriano Leão Maia diz que o momento é propício para angustias. "Eu quero que as pessoas se alimentem bem, se hidratem, não se desesperem, e que tentem buscar ajuda em algum posto de saúde, com médicos e enfermeiros. Sei que todos estão lotados, mas que busquem informação com paciência. Já tá todo mundo aperreado, meio deprimido e receber uma notícia do resultado positivo pode complicar ainda mais o quadro psicológico", aconselha.
O aposentado por invalidez, durante a entrevista, disse que "isso vai passar logo, com muita fé" e que "a pandemia passe logo, que descubram vacina, que as pessoas tenham muita fé e que todos fiquem em casa".
"Fiz dialise durante 15 dias isolado. Faço o tratamento de rotina nos dias de segunda, quarta e sexta. Além do meu tratamento, tomei medicação para curar a Covid-19
Eduardo da Silva Nascimento, 44 anos, era empresário e decidiu fechar o estabelecimento após contrair o novo coronavírus. "É uma doença que vinha afetando as pessoas, com risco de morte. Quando recebi o atestado positivo, eu fiquei preocupado. As pessoas têm que se prevenir, a doença é real".
Em casa, após receber alta, ao lado da esposa, que também foi infectada, e dos filhos, Adriano diz que é só gratidão.
"A primeira coisa é ter muita fé em Deus porque foi o que me segurou bastante. É uma doença que está acontecendo, mas a probabilidade de cura é muito maior do que a de morte. Muito grande, 99%. No hapvida me senti completo. Então me senti seguro. Médico, enfermeiros, medicação eu me sentia melhor", comemora.
CONTAMINAÇÃO E SINTOMAS

A servidora pública Andressa Costa conta que, por vezes, ficou com falta de ar, sendo uma mistura de sintoma do novo coronavírus e a ansiedade por medo da doença. “Quando eu recebi o resultado, eu sabia que tava com a Covid porque os sintomas são bem diferentes e bem mais pesados do que uma gripe comum. Eu só tive a comprovação, fiquei arrasada porque, poxa, transmiti pra minha mãe”.
Andressa conta que acha que o vírus chegou em sua residência através do marido porque ela, a mãe e os filhos estavam cumprindo o isolamento. “Mas, infelizmente, meu marido por ser comerciante. O primeiro infectado foi o meu esposo, mas ele achou que era uma gripe comum. Ele teve dor no corpo, febre, tossiu bastante e congestão nasal. No caso dele, o organismo dele reagiu diferente. Cada pessoa tem uma reação. Ele ficou quatro dias, no máximo, com os sintomas. Quando ele melhorou, eu apresentei os sintomas”.
Ela diz que o marido saia por necessidade, tendo em vista que ia banco ou resolver alguma necessidade do comércio na rua. “Agora, ele nunca deixou de sair de máscara, nem de lavar as mãos ou de usar álcool em gel. Só que, aí, por ser comerciante e lidar com o público, deve ter se contaminado e trazido o vírus para dentro de casa”.
A servidora pública conta que os sintomas foram bem mais intensos na mãe, Maria Helena, de 66 anos, e nela. “A forma de contágio é muito rápida. No quarto dia que ele já apresentou melhora, eu e minha mãe já estávamos de cama com muita dor no corpo [peito, costas], febre. E ao mesmo tempo meus filhos adoeceram, Não conseguimos levantar. Foi bem difícil porque ninguém podia vir em nossa casa para ajudar e eu precisava ajudar minha mãe e meus filho”.
“Como ele lida com o público, mexe em dinheiro, e tava saindo para trabalhar, ele foi infectado. E olha que ele saia com máscara, tomava todos os cuidados, sempre”.
Atualmente, na casa de Andressa todos estão curados e de alta. Mas, às sequelas da doença insistem em abatê-la. "Eu tenho sintomas até hoje [24 dias depois]. É o que chamam de sequelas. O ciclo é de 14 dias ou ciclo de 21 dias. Tem secreção, dor na garganta, congestão nasal. É como se fosse uma gripe mau curada".
“Eu tenho sintomas até hoje. É o que chamam de sequelas. O ciclo é de 14 dias ou ciclo de 21 dias. Tem secreção, dor na garganta, congestão nasal. É como se fosse uma gripe mau curada.
O tratamento de Andressa, de Manoel e das crianças foi feito com paracetamol. Já o da mãe, por ser idosa, foi com hidroxicloroquina.
Saindo do bairro da Ponta Grossa, onde a servidora pública mora, em direção ao Jardim Petrópolis, à casa de Adriano, a esposa do aposentado, Maria Auxiliadora Leão Maia, de 59 anos, também foi infectada com o coronavírus. “Acabei infectando minha esposa, que sentiu muito mais que eu. Só temos uma filha, que mora em Belo Horizonte. Quando ela soube que estávamos doentes, ela se preocupou bastante e todos os dias nos ligava via whatsapp”.

Adriano relata que para evitar que mais alguém fosse infectado, antes mesmo de ser acometido, deu férias para a secretária da casa, que está grávida. “Tem dois meses que demos férias para a secretária. Não podíamos arriscar”.
Já Eduardo conta que teve falta de ar, febre e muitas dores. Quando percebeu que estava com sintomas, buscou ajuda na Unidade de Emergência do HapVida.
"Não foi feito o teste porque poderia dar falso-negativo. Voltei lá depois de cinco dias para realizar o teste, mas o médico também fez uma bateria de exames e decidiu me internar. Passei quatro dias no apartamento. Nesses dias que fiquei no hospital, com falta de ar, precisei de oxigênio. Do segundo dia em diante fui apresentando melhora respiratória, o que fez com que eu não precisasse toda hora de oxigênio", relata.
A esposa de Adriano registrou sintomas leves da Covid-19. No Hapvida, na última quarta-feira (6), quatro pessoas tiveram alta: José Italo Alves da Silva; Flora Maria Botelho Arruda; Gilvânia Lira dos Santos; e Hedilene de Aquino Costa. A equipe da linha de frente da unidade [médicos, enfermeiros, maqueiros, serviços gerais, recepcionistas e outros profissionais da saúde] preparou, com todo carinho, uma despedida para nossos bravos clientes que, mesmo em alta, a depender do caso, desde o dia 05 de maio, o Sistema disponibiliza, gratuitamente, a medicação para os pacientes que possuírem a prescrição médica para o uso da hidroxicloroquina em casa.
A novidade, de acordo com o presidente do Sistema Hapvida, Jorge Pinheiro, é uma forma de garantir a saúde dos clientes, evitando que a doença se agrave, pois as pessoas que tiverem indicação médica poderão realizar seu tratamento com as dosagens indicadas pelo médico nas próprias residências.
“A percepção clínica de nossos médicos é de que o uso da hidroxicloroquina, em associação com outras drogas, na fase inicial da doença, tem sido um elemento essencial para evitar a gravidade da Covid-19 em nossos pacientes. Dessa forma, para cuidar do nosso paciente e contribuir para que a sua situação não se agrave, estamos doando a medicação, desde que tenha prescrição médica. Quando ele se consultar em nossas unidades, e o médico entender que ele possui condições de ficar em casa e precisa da medicação, daremos acesso à hidroxicloroquina, já que muitos pacientes têm nos relatado dificuldades de encontrar a medicação na rede farmacêutica do País como um todo. Já temos, no momento, tratamento para 20 mil pessoas, mas estamos trabalhando para ampliar essa quantidade”, explica Pinheiro.