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Cidades

PROFESSORES E ALUNOS RELATAM DIFICULDADES DO ENSINO VIRTUAL

Nem todos dispõem de equipamentos adequados e acesso à internet para viabilizar as aulas online

Por GREYCE BERNARDINO REPÓRTER | Edição do dia 23/05/2020 - Matéria atualizada em 23/05/2020 às 06h00

A pandemia do novo coronavírus mudou a rotina muitas pessoas. Com o alto risco de contaminação em situações que há aglomerações, o isolamento social se tornou uma medida benéfica para diminuir o número de infectados que, no Brasil, já é grande. Sendo assim, serviços não essenciais passaram a ficar de portas fechadas e escolas adotaram o ensino a distância, por meio da internet. No entanto, essa última modalidade não vem agradando professores, pais e alunos, principalmente da rede pública de todo o país. Aqui em Alagoas, por exemplo, poucos são os jovens que possuem, sequer, um computador ou navegação no próprio aparelho celular, escancarando a desigualdade e as dificuldades enfrentadas por muitos. Jonathan dos Santos, de 17 anos, é um dos que enfrentam obstáculos com a educação remota. Estudante do segundo ano do Ensino Médio da rede estadual, ele não possui computador nem Wi-Fi em casa, o que impossibilita qualquer ação de estudar, sem contar que a unidade de ensino em que é matriculado não vem disponibilizando as aulas nas plataformas online. Jonathan teme ser prejudicado. “É horrível ficar parado. Nós, alunos, entendemos a gravidade da pandemia e que devemos ficar em casa, mas também sabemos que as unidades de ensino devem se esforçar para manter o ano letivo de modo normal. Estou ansioso para se formar logo, mas creio que vou perder este ano. É lamentável”, falou. O adolescente também tinha um desejo para esse ano: realizar o Enem, porém, segundo ele, essa realidade só será possível no próximo ano. Sem está seguindo uma rotina de estudos, ele confessa que será difícil se sair bem na prova - que foi adiada, mas que ainda deve ocorrer em 2020. “Sei que se eu tentar este ano, ano que vem posso fazer de novo e, quem sabe, passar. Mas não me sinto preparado, sabe? Está tudo parado e eu sem conseguir estudar, já que nem internet em casa tenho”, desabafou. Contudo, para não esquecer os assuntos que iniciou ainda no início do ano, quando não havia casos de Covid-19 e tudo seguia normal, Jonathan vem lendo, com frequência, suas anotações no caderno, com o intuito de aprender ainda mais. “A pessoa tem que fazer o que pode. Por vez, no entanto, vou na casa de um amigo para poder estudar com ele, mas não é a mesma coisa. Me falta atenção e, também, não existe uma professora para nos guiar”, detalhou. E por falar em atenção, o adolescente conta que, mesmo se estivesse tendo aulas de forma online, conhecida, também, como Educação a Distância, seria difícil aprender os assuntos. “Não é a mesma coisa. Creio que, no meu caso, esses estudos seriam perca de tempo. Prefiro estar dentro de uma sala de aula”, concluiu.

AJUDA DA MÃE

Emily Emanuele, de 15 anos, é estudante do nono ano do Ensino Fundamental da rede municipal e também não vem tendo aulas de forma remota. Por outro lado, a jovem conta com a ajuda da mãe, professora de matemática, mas que há três anos não exerce a profissão. “Minha mãe vem sendo minha base e sou muito grata a ela, que vem mantendo minha rotina de estudos firme e forte. Mas também fico triste pelos meus amigos, que não contam com esse apoio que tenho. Conheço alguns que estão há um mês sem revisar um assunto sequer”, disse ela, sem esconder a frustração. A mãe da jovem, Eva Cordeiro, conta que, por estar parada há alguns anos, foi difícil encontrar o ritmo para ensinar e de se inteirar aos assuntos, mas, que agora está tudo se saindo bem. Ela precisou, no entanto, reproduzir a rotina da filha em papéis, que estão colados por toda a casa. Assim, Emily sabe quais os dias em que vai estudar determinadas matérias, assim como seus respectivos horários. “Nunca fui adepta a criar rotina, mas não pude correr de tal ação. No começo achava que não ia dar conta, pois estava muito enferrujada, mas Emily me deu forças e eu retribuir. Tem assuntos de algumas matérias que eu fico com dúvidas, mas daí acesso a internet e tudo se resolve. Sei que não é um ensino igual ao que ela tinha na escola, mas vamos fazendo o que está ao nosso alcance. O importante, entretanto, é que minha filha vem estudando e se empenhando”, frisou.

FALHAS NO ENSINO

Um balanço realizado cin exclusividade pelo portal de notícias G1 nacional mostra que escolas da rede pública de Alagoas e mais 14 estados decretaram recesso ou férias para ganhar tempo e encontrar alternativas para que professores ensinem de forma virtual. Alagoas também não planeja considerar atividades remotas como carga horária do ano letivo, assim como os estados de Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Sergipe e Tocantins. Para o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal), a solução encontrada pelos governos, de determinar o Ensino a Distância sem assegurar condições para implementação, está colocando em risco o direito constitucional ao ensino das crianças e jovens do país, principalmente dos que não possuem condições de comprar um computador, um telefone inteligente ou adquirir um plano de acesso à Internet. As autoridades da área da Educação, ainda segundo o Sinteal, também não levaram em conta o fato dos pais e mães que precisam trabalhar home office, se preocupar com o vírus e ainda ajudar os filhos em casa que, em geral, têm apenas um computador, quando têm.

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