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Nº 5881
Cidades Brasília- DF. 09-10-2019- Ministro Ricardo Salles na \rCOMISSÃO DE MEIO AMBIENTE E DES. SUSTENTÁVEL\rESCLARECIMENTOS DOS NÚMEROS CRESCENTES DE DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA. Foto Lula Marques

AMBIENTALISTAS REPUDIAM FALA DE SALLES

Declarações do ministro durante reunião causaram polêmica

Por regina carvalho | Edição do dia 27/05/2020 - Matéria atualizada em 27/05/2020 às 06h21

Para os que atuam em defesa do meio ambiente, a fala do ministro Ricardo Salles, na reunião do último dia 22, causou perplexidade e revolta. Quando sugere ao presidente Jair Bolsonaro e aos colegas que o momento é de “ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, na verdade, é defendida nesse momento uma política de destruição, avaliam entidades.

Sobre as declarações do ministro, o professor do Ifal de Piranhas Claudemir Martins, doutor em Geografia e tecnólogo em Recursos Hídricos e Irrigação, avalia que “a leitura que faço como professor da área é que temos um país com recursos naturais imensos e com essa crise que vem se arrastando há uma corrida de investimento no Brasil e nossos potenciais naturais são a bola da vez nesse capital mundial que precisa acumular sem parar. O governo Dilma já tinha feito umas questões que a gente criticava como a reforma do código florestal, mas era um governo que não escancarava de todas as formas como foi feito na fala do ministro”, declara.

Martins explica que é preciso contextualizar que antes da fala do ministro do Meio Ambiente foram constatados invasores em terras indígenas e que isso é histórico no Brasil. No caso, a grilagem de terras, principalmente pela mineração e pelo agronegócio.

“E esses servidores do Ibama que planejaram ação de fiscalização coibindo a invasão de terra, que é ilegal, foram demitidos. Veja que ponto nós chegamos. Isso desaguou na fala do Salles quando ele diz ‘vamos aproveitar a pandemia para passar a boiada, ou seja, vamos aproveitar que a mídia só fala de pandemia. Um desprezo total e naquele momento mais de 3 mil pessoas já haviam morrido no Brasil. Uma falta de preocupação total com a pandemia. Passar a boiada, ele mesmo disse, flexibilizar o que puder com uma canetada. Liberar por exemplo a PL da grilagem (projeto de lei 2633/2020), que são terras ocupadas ilegalmente. Isso é um exemplo de passar a boiada. Em síntese, um misto de revolta não só brasileira, mas mundial. E utilizar retrocessos na agenda ambiental”, avalia o professor.

Na reunião ministerial, Ricardo Salles sugeriu uma grande oportunidade para o governo federal: “como a imprensa estava focada em acompanhar os casos de covid-19 no Brasil, o governo poderia simplificar normas ambientais na canetada”. O professor Paulo Lima Lopes, do corpo técnico do departamento de Geografia e Meio Ambiente da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) lamentou a fala do ministro Ricardo Salles. “Acompanhei essa fala e fiquei estarrecido. Ainda falou que a imprensa só pensava em pandemia. Não tenho nem um adjetivo para uma situação dessa. Estou estarrecido com o governo atual”.

Já a Rede de Organizações Não Governamentais da Mata Atlântica (RMA), avalia que a população brasileira ainda se mantém atônita frente ao conteúdo do vídeo da reunião ministerial, repleta de episódios lamentáveis, com pronunciamentos incompatíveis com o que se exige como padrão moral mínimo daqueles que ocupam cargos públicos.

“Assumindo que a administração pública federal precisa se aproveitar da oportunidade, criada com o estado de emergência decorrente da pandemia da covid-19 que passa a ocupar a maior atenção dos veículos de comunicação, para promover a desregulamentação no setor ambiental, o Ministro Ricardo Salles se coloca numa posição incompatível com as obrigações legais de quem assume a direção da pasta do meio ambiente”, destaca em nota a RMA, que congrega 148 entidades civis afiliadas.

Por sua vez, a Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público do Meio Ambiente (Abrampa), entidade civil que reúne promotores de Justiça e procuradores da República com atuação na defesa jurídica do meio ambiente, destacou que “vem a público expressar seu veemente repúdio a mais um inaceitável capítulo do desmonte do arcabouço normativo e do aparato institucional de tutela do Meio Ambiente no Brasil, que foi evidenciado com a manifestação do Ministro do Meio Ambiente, Sr. Ricardo Salles, ao revelar sua intenção de se aproveitar de momento propício em que a imprensa brasileira estava concentrada na cobertura da pandemia da covid-19 para “deixar passar a boiada”, de modo lamentável e obscuro, e afrouxar regras ambientais, dentre elas a legislação especial protetiva da Mata Atlântica”.

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