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Nº 5694
Cidades

POPULAÇÃO NEGRA É A MAIS AFETADA PELO CORONAVÍRUS

Mesmo sendo a Covid-19 uma doença que não enxerga classe social ou faz distinção de raça, o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesau) revelou a realidade lamentável de que a população negra é a mais acometida pela

Por Clariza Santos | Edição do dia 29/05/2020 - Matéria atualizada em 29/05/2020 às 06h00

Mesmo sendo a Covid-19 uma doença que não enxerga classe social ou faz distinção de raça, o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesau) revelou a realidade lamentável de que a população negra é a mais acometida pela Covid-19 em Alagoas. A letalidade da doenças no estado também é maior entre esta população. O Insituto Negro de Alagoas diz que não há ações públicas voltadas para população negra e que o diálogo com secretarias de saúde não tem acontecido. Em um cenário nacional a situação não é diferente, sendo a população negra também maioria entre os afetados. O boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde no último dia 18 de maio mostra que, entre os infectados por Covid-19 que tiveram seus dados de raça/cor coletados, a população negra contabiliza cerca de 25%, sendo considerada os de raça/cor parda e preta, população branca registrou 20% entre os infectados, indígenas registraram 0,2% e indivíduos que não tiveram seus dados de raça/cor registrados somou 51,3%. O registro de afetados por Covid-19 segundo raça/cor em Alagoas é recente e foi fruto de uma ação de representantes do INEG/AL. Após tentativas frustradas de diálogo com as secretarias de saúde do estado e do município de Maceió, o grupo entrou com ação no Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL), onde conseguiu que essas informações passassem a ser divulgadas no boletim epidemiológico da Sesau. Para Bruna Moraes, porta-voz do INEG/AL a divulgação destes dados é de extrema importância para que seja possível fazer uma análise aprofundada e posteriormente desenvolver ações voltadas para a população negra do estado. “Quando se tem estes dados sendo coletados e computados, é possível fazer uma análise econômica e sociológica do por que essa população está sendo a mais afetada. Agora, a partir destes dados, estamos montando um grupo para realizar essa análise e, posteriormente, elaborar propostas e tentar um diálogo com as secretarias”, disse Bruna.

Em Alagoas, mais de 57% dos acometidos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 são pardos ou preto, já entre a população branca este número é pouco mais de 9%. Entre os óbitos por Covid-19 no estado, a população negra também é a maior vítima, somando 59% entre os óbitos. Para Bruna, os números não são uma surpresa. “Quando víamos que a população das comunidades mais pobres estavam entre os mais afetados por Covid-19 em Alagoas, já prevíamos que a população negra estaria, também, entre os mais afetados”, contou.

Alberto Jorge, presidente da Comissão de Defesa da Igualdade Social da Ordem dos Advogados do Brasil de Alagoas (OAB) também não vê os números com surpresa. “A população negra lidera o número entre os desempregados no país, mais de 70% depende do SUS, em Alagoas 80% desta população mora nas periferias, 75% da população carcerária no Brasil é composta por negros, não é surpresa que estejam entre os mais acometidos pela doença” disse Alberto. Vulnerabilidade, falta de acesso à informação, necessidade de sair de casa mesmo em meio aos decretos governamentais que recomendam o isolamento social, segundo Bruna, são algumas das causas dos altos índices de contaminação pelo coronavírus entre a população negra. “Conseguimos interpretar esses dados a partir do conceito de acessibilidade à saúde. É uma população vulnerável, com menos acesso a informação e que precisa sair de casa para ir atrás de recurso para sobreviver, não conseguindo cumprir em absoluto o isolamento social. É preciso que haja um olhar especial para as comunidades mais pobres, que continua não sendo alvo de nenhuma ação que efetive esse isolamento social entre essa população em situação de vulnerabilidade”, concluiu. Nos próximos dias será realizada encontro online entre Comissão de Defesa da Igualdade Social da Ordem da OAB e segmentos do movimento negro em Alagoas para que sejam discutidas ações efetivas para se tratar da vulnerabilidade da população negra durante a pandemia do novo coronavírus e que minimizem as consequências para esta população através do diálogo com as forças governamentais. Até o fechamento desta reportagem, a Sesau não havia respondido o contato.

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