app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5693
Cidades

COVID-19 AVANÇA DE FORMA PREOCUPANTE NO INTERIOR DO ESTADO

Boletins epidemiológicos da Sesau mostram que quase todos os municípios já têm casos confirmados da doença

Por regina carvalho | Edição do dia 30/05/2020 - Matéria atualizada em 30/05/2020 às 06h00

Os últimos estudos realizados por um grupo de pesquisadores que monitora a evolução da pandemia em Alagoas aponta ritmo crescente, com um preocupante avanço da doença no interior do estado. A situação pode ser ilustrada pelos boletins epidemiológicos da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) que revelam que quase todos os municípios alagoanos têm casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus. “O isolamento social cresceu nos últimos dias chegando a 56%, mas ainda não é suficiente para controlar o avanço da epidemia em Alagoas”, explica o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Sérgio Lira, que integra o Grupo de Modelagem Científica e Simulação do Surto de Covid-19 em Alagoas, que conta com pesquisadores da Ufal das áreas de Computação, Física e Matemática. A reportagem pergunta ao pesquisador se é possível identificar o pico da doença em Alagoas, enfim, se a fase mais crítica está passando ou se o estado vai amargar números ainda mais preocupantes de casos nas próximas semanas. “O pico depende de nossas ações. Seguindo com o nosso ritmo atual e nossas tendências de ações, nossas simulações indicam que em Alagoas ele ocorreria em julho. Mas isso pode ser alterado de acordo com a resposta da sociedade”, avalia Sérgio Lira.

FALTA DE CONSCIENTIZAÇÃO

Sobre o avanço de casos no interior do estado, o presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Alagoas (Cosems/AL), Rodrigo Buarque, explica que os desafios mais enfrentados nessas cidades passam pela falta de conscientização da população e a divergência de dados apresentados. “Identificamos como principais problemas a conscientização da população, pois mesmo desenvolvendo várias estratégias como barreiras sanitárias, meios de comunicação e monitoramento da população, as orientações de biossegurança não são devidamente cumpridas. O que também gera grande dificuldade para as secretarias é a divergência de dados no município e no estado, já que as informações não são atualizadas na mesma velocidade”, explica. Rodrigo Buarque, que é secretário de Saúde de Jundiá, acrescenta que o município divulga determinado número de casos e o boletim estadual apresenta um balanço diferente. “Isso gera insegurança na população e descrédito à Secretaria Municipal de Saúde, como também a demora para resultados dos exames realizados, que muitas vezes só saem quando o paciente já está curado, considerando que o Estado só tem o Lacen para atender todos os municípios”, explica. O secretário lembra outro gargalo no atendimento a pacientes com covid-19 no interior. “Outro grande problema é a fragilidade da rede hospitalar com insuficiência de leitos adequados, sobretudo no interior do estado, levando os gestores a encaminhar os pacientes para os grandes centros, a exemplo de Maceió e Arapiraca, que também já possuem a maior demanda para outras patologias”, lamenta. A reportagem pergunta ao gestor o que, na avaliação dele, precisa ser feito pelo governo do Estado para melhorar o atendimento nas cidades. “Pensar numa estratégia junto ao Estado com relação a outras possibilidades de laboratórios para aumentar a capacidade de realização e resultados de exames em tempo hábil e atualização mais rápida das informações para que não haja diferença nos dados”. Outra alternativa que vai ajudar muito aos gestores, na avaliação de Rodrigo Buarque, “é fomentar a Segurança Pública na prevenção do coronavírus, conscientizando a população de que deve adotar as medidas propostas pela Secretaria de Saúde para evitar a propagação do vírus. Vale ressaltar que o estado vem centrando todos os esforços para ampliar a oferta de leitos na capital e nos municípios, porém entendemos que esta pandemia tem seu foco na prevenção e isso permanece como um dos maiores gargalos”, completa.

LOCKDOWN

Foto: Ascom
 


Em relação aos levantamentos mais atualizados sobre a evolução da doença, se há necessidade de bloqueio total (lockdown), o professor Sergio Lira diz que algumas considerações precisam ser feitas, que podem ser importantes para impedir o colapso da rede hospitalar, por exemplo. “Depende do que definimos como lockdown e depende do nosso objetivo com o lockdown. Se consideramos que lockdown é uma restrição dura de pelo menos 70% da mobilidade urbana e que nosso objetivo com ele é impedir o colapso do sistema hospitalar (a saturação na ocupação dos leitos), então a resposta é sim, temos que adotar o lockdown para evitar o colapso. Obviamente, há as questões de se a população irá realmente aderir ao fechamento, como fazer a logística da fiscalização e quais os impactos socioeconômicos; estas não tenho como avaliar bem”, afirma.

MAIS LEITOS

O aumento do número de leitos em Alagoas nas últimas semanas pode ajudar a amenizar o impacto da doença, mas apenas com essa medida não será possível evitar o esgotamento dos leitos hospitalares. “A expansão do número de leitos é muito importante porque dá fôlego ao sistema hospitalar. No entanto, isso por si só é insuficiente para evitar o colapso. O que acontece é que um crescimento descontrolado da epidemia leva a um número exponencialmente crescente de demanda de leitos que nenhum sistema hospitalar no mundo é capaz de suprir”, explica o pesquisador. Na opinião de Sérgio Lira, é preciso complementar a expansão de leitos com medidas de isolamento social e forte monitoramento da cadeia de contágio, colocando em quarentena as pessoas infectadas antes que possam contagiar as outras. O professor Sérgio Lira, do Grupo de Modelagem Científica e Simulação do Surto de Covid-19 em Alagoas realiza junto a outros nove integrantes previsões numéricas e simulações computacionais sobre a doença.

SUBNOTIFICAÇÃO

Foto: Reprodução
 


Na avaliação do infectologista Renee Oliveira, o número de casos está dentro do esperado e retrata a realidade das ações implementadas até agora. “Acredito que estamos chegando num patamar de equilíbrio, mas sobre o pico da doença isso é relativo, porque tem a questão do distanciamento social, o andar com máscara, higienização das mãos e há muita subnotificação e muitas pessoas não procuram o serviço de saúde. Se já era difícil, piorou mais ainda. E agora chegou no interior, com quase todas cidades com casos”, disse o infectologista. Renee Oliveira lembra que a mortalidade no interior não foi ainda tão alta como na região Metropolitana e também por isso há resistência da população desses municípios em aderir ao isolamento social. “Quando aumentar o número de óbitos as pessoas vão tomar consciência e isso vai mudar. Com 300 mortos parece que não está tão próximo. Acho que vamos passar de 1 mil mortos. 300 óbitos não é pouco não. Se não fosse o coronavírus essas pessoas não estavam mortas. Só vamos perceber mais adiante, quando olharmos para trás”, lamenta. Para implantação do lockdown, na avaliação do médico, é necessária uma centralização de decisões, situação não vista no país. “Agora não dá mais não, porque a população está cansada. Deveria trabalhar medidas pontuais, bairros mais atingidos, decretar em algumas regiões. Têm dias que não tem onde colocar pessoas nos hospitais. Tem que abrir mais vagas, não tem mais jeito de executar o bloqueio total, principalmente por causa do interior”, finaliza. Alagoas dispõe de 995 leitos exclusivos para tratamento de pacientes com o novo coronavírus, mas, desse total, tem pouco mais de 200 UTIs (sendo 151 em Maceió) e 758 leitos clínicos (533 também na capital). Nos últimos dias, a taxa de ocupação dos leitos de UTI em Alagoas ultrapassou o percentual de 70%.

Mais matérias
desta edição