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Nº 5691
Cidades

‘RESPONSABILIDADE É GIGANTESCA E ABALO EMOCIONAL É INTENSO’

Sindicato dos Médicos apresentou queixas ao MPT sobre situações relatadas por profissionais de saúde

Por regina carvalho | Edição do dia 30/05/2020 - Matéria atualizada em 30/05/2020 às 06h00

O presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas, Marcos Holanda, conta o que tem visto e ouvido nos corredores dos hospitais, o desafio de lidar com algo desconhecido e a ansiedade em apresentar resolutividade. “Somado a isso tem o desconforto da sensação de impotência, as limitações, o medo de nos contaminar e o estresse com a demanda crescente de casos. Ou seja, o abalo emocional é intenso. Ficamos aflitos e com outros sentimentos sofríveis”. Marcos Holanda, que chegou a ser infectado pelo novo coronavírus, relata que a pandemia é um momento realmente inusitado e, apesar de tudo, há uma cobrança interna e externa para manter a serenidade, mas que também os profissionais da saúde são humanos e se estressam como qualquer outra pessoa. “Nosso campo emocional oscila diante das turbulências, igual acontece com qualquer pessoa. Estamos num clima tenso como nunca estivemos antes. Se não houver um revezamento, um sistema de rodízio, em poucos dias muitos colegas não vão suportar a carga de trabalho. O organismo pode chegar à exaustão, e desenvolver sintomas para forçar o descanso quando a gente insiste em continuar”, conta. Sobre o dia a dia dentro das unidades, o médico explica que a responsabilidade é gigantesca e a preocupação não é somente com os pacientes, mas também com cada membro da equipe. “Observando sintomas, medidas protetivas, tudo, enfim, ao mesmo tempo, além de consultarmos a literatura médica para atualização. No nível de estresse que estamos, não adianta terapia psicológica online. Disponibilizar um telefone ou canal interativo é inócuo. Precisamos de tratamento presencial personalizado, com técnicas que favoreçam relaxarmos da cabeça aos pés, por dentro e por fora. Nosso corpo está travado, e nossa alma, densa”, relata.

CARGA EXAUSTIVA DE TRABALHO

O Sinmed apresentou queixa e pediu providências junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre situações relatadas por profissionais da saúde. “Estamos no aguardo. Nesse momento a tensão é tanta que não bastam palavras de alento, conselhos, orientações, meditação online. Precisamos de uma assistência mais completa, como terapias integrativas que agregam bioenergética, harmonização dos chakras, psicoterapia transpessoal, hipnose, massoterapia, psiquiatria, tudo junto. O poder público deveria patrocinar um projeto desse porte para atender os profissionais da saúde, ao invés de buscar voluntários”, detalha. Outra coisa que preocupava a entidade, segundo Marcos Holanda, é a situação das médicas gestantes e lactantes. “Elas estavam sendo mantidas na linha de frente. Nós acionamos nosso Departamento Jurídico e conseguimos afastá-las através de liminar concedida pela desembargadora Eliane Arôxa, já que os gestores, espontaneamente, não estavam concedendo esse direito. Tivemos que brigar na Justiça, felizmente saímos vitoriosos, mas ainda estamos na expectativa do afastamento dos mais idosos. O ideal é que todos os médicos acima de 60 anos sejam substituídos pelos mais jovens”, explica Holanda.

A reportagem pergunta ao médico se acredita que passada essa pandemia muitos profissionais deverão se afastar do trabalho porque desenvolveram doenças como ansiedade e depressão. “Ansiedade e estresse, dependendo do grau e intensidade, geralmente ocasionam depressão. É como um efeito dominó, daí a recomendação universal de se intercalar o trabalho com o lazer, o descanso, o entretenimento. Toda carga exaustiva de trabalho é contraindicada porque gera adoecimento. Portanto, é de se esperar que após a pandemia muitos colegas apresentem transtornos psiquiátricos conforme a predisposição de cada um, pode ser não apenas depressão, mas também síndrome do pânico, amnésia transitória, lapso de memória ou outros sintomas que sinalizam necessidade de repouso para, finalmente, depois de um bom tratamento recuperar a condição de saúde que tinha e voltar às atividades”, finaliza.

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