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Nº 5693
Cidades

PANDEMIA PODE GERAR ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO EM PROFISSIONAIS

Equipes de linha de frente no combate ao coronavírus convive com o medo diário de contaminação

Por regina carvalho | Edição do dia 30/05/2020 - Matéria atualizada em 30/05/2020 às 06h00

 Quando a pandemia passar, parte dos profissionais da área de saúde poderá desenvolver sintomas de estresse pós-traumático. A rotina dessas equipes que estão na linha de frente recebe doses diárias do medo de contaminar as pessoas que amam e o estigma que a doença impôs aos que têm mais exposição ao vírus. No dia em que conversou com a Gazeta, o enfermeiro José Weslley Feitosa apresentava sintomas da Covid-19 e estava afastado do trabalho no Hospital Hélvio Auto. A voz trêmula quando a entrevista chegava ao fim era reflexo do medo e da ansiedade, após dias seguidos de plantões e agora uma parada para esperar o diagnóstico. “A sobrecarga realmente leva ao estresse, porque algumas vezes tive de dar plantões seguidos e, com a imunidade baixa, acho que adoeci porque tive que me expor mais. A gente trabalha doze horas seguidas, depois folga e volta a trabalhar mais doze horas. Eu fiquei bem estressado, com o coração acelerado e tive que tomar remédio algumas noites para poder dormir, para poder relaxar. Meu maior medo é levar a contaminação para dentro de casa, medo de levar para meus filhos e minha esposa. Só sei que me contaminei e espero não ter passado para eles”, declara.

GUERRA

Para a enfermeira Mariana Rodrigues, o sentimento é de quem está atuando numa guerra. Enfermeira-líder da Urgência do Hospital Memorial Arthur Ramos, explica como está lidando com a sobrecarga e estresse no trabalho durante essa pandemia. “Faz mais de 60 dias que vivo uma guerra de forma diferente. Há mais de 2 meses que o medo da Covid-19 começou a tomar conta do meu pensamento e pensamento dos meus colegas. Neste momento, o que me aflige é que estamos lutando contra um inimigo que não conhecemos. Nossas rotinas não são mais as mesmas, estamos sendo treinados, presenciando mudanças drásticas na organização do hospital, mudanças para ajudar na melhoria do fluxo”, relata a enfermeira. A paramentação é quente, a máscara machuca, os óculos e o protetor facial embaçam. “Se eu sair do ambiente contaminado preciso jogar avental, luvas, touca e máscara no lixo. Precisamos poupar material, pois tudo isso é muito caro e o medo de faltar é grande. Na saída precisamos nos desparamentar com o máximo de cuidado para que não ocorra a contaminação. Banho com produto degermante pelo corpo todo. Chego em casa, tiro toda a roupa na despensa. A roupa vai direto para uma bacia separada somente para essas roupas e eu vou direto para outro banho”, detalha.

ANGÚSTIA

Foto: Cortesia
 

Doze horas seguidas dentro de um hospital. A enfermeira Laiz Barros Oliveira Vigolvino, do Hospital Unimed Maceió, sabe o quanto é importante estar bem nesse momento, mas a angústia tem deixado a profissional em alerta ultimamente. “Estou tentando manter e passar calma. Trabalhando um dia de cada vez e dando o meu melhor nos cuidados de enfermagem. O apoio que tive da psicóloga fornecido pelo hospital ajudou bastante e principalmente o apoio da família ao chegar em casa”, conta. Laíz teme adoecer e contaminar os mais próximos. “Meu maior medo é transmitir o vírus para os meus maiores amores que são meus filhos que moram comigo e dependem de mim e do meu esposo, que também continua trabalhando porém não é da área de saúde”. Em tempos de pandemia, a enfermeira Mariana chega a fazer uma carga horária de 40 horas semanais no Hospital Memorial Arthur Ramos. “Em casa tenho um príncipe de 10 meses me esperando louco pra brincar, onde as brincadeiras não são mais as mesmas e precisamos ter o máximo de distância pelo contato da doença que em muitos casos são assintomáticos. Fico aflita ao chegar em casa pois o medo de transmissão a quem mais amamos toma conta a todo momento, você chega a ficar paranoica com a limpeza”, a enfermeira Mariana Rodrigues. A Gazeta pergunta à profissional da saúde se adoeceu nesse período. “Têm sido dias muito difíceis, fisicamente e psicologicamente. Aprendi muito esses dias sobre meu trabalho e sobre meu corpo. E agora eu não posso adoecer, pois tem muita gente precisando de mim, em casa e no trabalho”. E o que mais teme a Mariana nesse momento? “Maior medo é adquirir a doença, ser assintomática e passar para os familiares de casa. Comprometer a vida deles e colocá-los em perigo. Meu desejo é que tudo isso passe logo, que a vida volte ao normal, que as pessoas compartilhem momentos inesquecíveis com quem amam”.

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