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Cidades

EM ALAGOAS, CERCA DE 4 MIL PROFISSIONAIS DE SAÚDE SE INFECTARAM

Entidades denunciam condições de trabalho na pandemia; maior reclamação atual é qualidade dos equipamentos de proteção

Por regina carvalho | Edição do dia 27/06/2020 - Matéria atualizada em 27/06/2020 às 06h00

Em Alagoas, o percentual de profissionais de saúde infectados pelo novo coronavírus fica em torno de 12% do total de casos notificados e se aproxima de 4 mil trabalhadores. Os números aparecem nos últimos boletins epidemiológicos emitidos pelo governo do Estado e geram preocupação de entidades que representam, especialmente, médicos e profissionais de enfermagem.

No Brasil, entre março e junho, mais de 400 mil profissionais de saúde realizaram o teste para o novo coronavírus. Destes, mais de 80 mil confirmaram infecção e quase 200 mil estão em análise. Também foram registrados perto de 200 óbitos desses trabalhadores. Os dados são do Ministério da Saúde e divergem do levantamento feito por entidades, que aponta mais de 300 mortes no país.

Dados do Conselho Regional de Enfermagem de Alagoas (Coren-AL) revelam que 327 profissionais de enfermagem foram diagnosticados com o novo coronavírus (Covid-19), com seis pacientes evoluído para óbito. No total, entre os casos confirmados e suspeitos, mais de 900 trabalhadores foram afetados. Além disso, 231 dos 327 infectados são auxiliares e técnicos de Enfermagem. Há ainda quase 600 deles com suspeita da doença. “No início da pandemia o problema era a quantidade dos EPIs, na maioria dos serviços inexistia uma série desses insumos. Hoje a grande reclamação está na qualidade desses equipamentos, temor pela falsa sensação de segurança e aumento da contaminação dos profissionais de saúde, que já é alta demais. As vigilâncias sanitárias, Inmetro e Anvisa precisam atuar para garantir a eficácia desses EPI’s”, declara o presidente do Coren/AL, Reneé Costa. A reportagem pergunta ao presidente do Coren/AL se há falhas na proteção desses profissionais. “Sim, geralmente durante a paramentação e desparamentação do profissional. Por isso, o Conselho Federal de Enfermagem está oferecendo cursos de biossegurança aos profissionais de enfermagem, além de cuidados avançados para a Covid-19”, explica.

MAIS DE 17 MIL DENÚNCIAS NO CFM

No país que registra um dos maiores números de casos e de mortes por coronavírus no mundo, os profissionais de saúde que atuam na linha frente de combate à Covid são heróis e vítimas dessa pandemia. De março a maio, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recebeu 17 mil denúncias de médicos que atuam em unidades de saúde sobre inconformidades na infraestrutura de trabalho oferecida por gestores (públicos e privados) nos estados. Segundo dados colhidos pelo CFM, em mais de 2 mil serviços de saúde, por exemplo, foi detectada a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) - essa é uma queixa recorrente - além da insuficiência ou completa ausência de kits de álcool gel ou 70%, de exames para a Covid-19 e da carência de equipes de enfermagem. De acordo com o Ministério da Saúde, para garantir a proteção de profissionais de saúde que atuam na linha de frente do enfrentamento à Covid, o MS distribuiu 115,2 milhões de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para todo o país. Desse total, foram distribuídos 3,9 milhões às forças de segurança pública, entre estão máscaras, aventais, óculos e protetores faciais, toucas, sapatilhas, luvas e álcool. Para o Nordeste foram 26,9 milhões de itens. Em Alagoas, segundo o Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed), foram confirmados 5 óbitos e 145 infectados. Mais o quantitativo deve ser maior, segundo a entidade, já que esses são apenas os casos em que os parentes das vítimas comunicaram a ocorrência ao Sinmed. Apesar de terem assinado um termo de compromisso no Ministério Público do Trabalho, em março, se responsabilizando pelo fornecimento de EPIs de qualidade, bem como com a melhora das condições de trabalho em todos os locais de atendimento, os gestores da saúde pública continuam agindo com descaso, como denuncia o presidente do Sinmed/AL, médico Marcos Holanda. “O material que tem sido entregue aos médicos nas unidades de saúde ainda é de péssima qualidade, o que contribui para ampliar o risco de contágio”, desabafa. Segundo ele, entre as queixas feitas pelos médicos no disk denúncia do Sinmed predomina a precariedade dos EPIs. “Os colegas inclusive filmam e fotografam a espessura das máscaras e dos capotes e postam em nossas redes sociais. Tudo é feito com material tão fino, tão inadequado que rasga até com o passar das mãos, sem que seja preciso o mínimo de esforço”, explica Holanda, acrescentando que, felizmente, o Sinmed recebeu mais de duas mil máscaras de alto padrão de qualidade e graças a isso os médicos trabalham protegidos, mas que é preciso também ter bom nível de proteção de capotes e de luvas. No acordo feito pelo MPT consta a obrigatoriedade do pagamento integral da remuneração (insalubridade) a todos os médicos, mesmo aqueles que se afastarem por problemas de saúde. O acordo se refere a todo o período da pandemia. “Infelizmente os gestores, em geral, protelam muito diante de ordens judiciais, e dos termos de conduta que assinam, tanto o governador do Estado quanto o prefeito de Maceió. Cabe ao próprio magistrado que determinou a medida, a providência da punição pela desobediência. O Sinmed faz o possível para provocar a tomada de decisão da justiça, afinal, quando o cidadão comum descumpre uma ordem, a penalidade é aplicada. Da mesma forma, então, deve ser em relação às autoridades. Aliás, deveria haver até maior rigor, afinal, eles têm que dar bom exemplo”, completou a vice-presidente do Sinmed, Sílvia Melo.

FALHA NA PROTEÇÃO DE PROFISSIONAIS

Integrante do Movimento de Médicas e Médicos pela Democracia, a médica Marília Magalhães, relata as dificuldades enfrentadas pelos profissionais em tempos de pandemia. “Estamos com alguns EPI’s adequados, porém, grande parcela dos colegas se queixam da precariedade em alguns hospitais públicos e especialmente na atenção básica. Existem algumas unidades que estão sem máscara N95, outros tendo apenas uma máscara cirúrgica para um plantão de 6 horas, outros sem capote com a graduação adequada, tendo inclusive relatos de colegas sobre a falta de água em algumas unidades”, destaca. Sobre o movimento “Médicos pela Democracia”, Marília diz que o grupo surgiu em meados de setembro de 2018, quando colegas que se posicionavam contra a candidatura do presidente da República decidiram se unir. “Naquele momento, entendemos que como médicas, médicos e futuros bacharéis não podíamos nos posicionar a favor de quem fazia aquele tipo de discurso e, por isso, não nos sentíamos representados por algumas entidades médicas e colegas que respaldavam esse tipo de conduta”, diz a médica. De acordo com ela, “de um grupo pequeno, passamos a dezenas, centenas, milhares e acabamos conhecendo colegas de todo o Brasil, nos articulando em um grande coletivo nacional suprapartidário a favor do estado democrático de direito, contra o desmonte do SUS e da educação pública, a favor medicina baseada em evidência científica e outras tantas pautas em favor do povo e contra a desigualdade social”, detalha a médica Marília Magalhães.

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