De mulheres de recado a líderes da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), as damas do crime foram presas durante a Operação Flashback II, nessa terça-feira (28), em Alagoas. A operação ocorreu simultaneamente no Ceará, Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, São Paulo e Sergipe. Outras três operações foram desencadeadas em decorrência da Flashback: a Damas do Crime, NJord e Retomada. A ação cumpriu 212 mandados de busca e apreensão e de prisão nos 11 estados; 40 mulheres foram alvos no estado alagoano. As informações apontam que a megaoperação se deu com o objetivo de desarticular o PCC, que tem base no Mato Grosso. Durante entrevista coletiva, o secretário de Segurança Pública, Lima Junior, ressaltou a operação conjunta e afirmou que as investigações apontaram um crescimento na ocupação de cargos de chefia da facção por mulheres, por isso, foram batizadas de ‘damas do crime’. Ao todo, no Estado, foram cumpridos 112 mandados, sendo 80 somente em Maceió. Até o fechamento dessa edição, 43 presos. Ainda dos mandados cumpridos, 13 envolvidos já estavam presos e um morreu durante tiroteio, ao reagir a voz de prisão. No Estado alagoano, a investigação mostrou que o núcleo das damas do crime, sendo o principal e um dos mais perigosos, é formado por 18 mulheres e um homem, que somados aos demais núcleos totalizam 40 mulheres alvos de mandados de prisão, busca e apreensão, e que corresponde a 18% do total de alvos dessa operação. De acordo com o major Jatobá, subcomandante do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar de Alagoas, o protagonismo das mulheres começou no ano de 2006, quando aconteceu uma megarrebelião no sistema prisional de São Paulo. “Elas eram usadas para levar recados ou coisas para os liderados pelo PCC. Depois, o comando da organização criminosa decidiu partir para os presídios femininos, onde começou a batizar as mulheres e, assim, elas foram ganhando cada vez mais espaço”, contou. Gilberto Gonçalves, coordenador do Gncoc brasileiro, destaca a presença das mulheres. “Destaco o número de mulheres dentro das organizações criminosas, que vem tomando espaço na liderança. Esse momento cabe uma reflexão sobre as tratativas do poder jurídico e punitivo que, de certa forma, tem uma certa tolerância com essas mulheres devido à família, aos filhos, sendo postas em penas mais brandas”, disse. O Ministério da Justiça e Segurança Pública coordenou a realização da Operação Flashback II, que desarticulou parte do grupo feminino do PCC, que concentraria as ordens dos chamados “tribunais do crime”, responsáveis por julgar e punir inimigos e próprios membros da facção criminosa dentro e fora dos presídios. As mulheres que possuem funções disciplinares conduzem normalmente esses rituais, elaborando as suas “peças conclusivas”, que resultam na condenação ou absolvição. Elas aplicam as mais diversas penas, inclusive, assassinando rivais ou até mesmo membros transgressores da mesma facção. Escutas obtidas durante as investigações revelam como era a atuação das mulheres, que têm perfil igualmente violento quanto o dos homens da facção, quando definem julgamentos ocorridos nos tribunais do crime.
Em um dos áudios, uma das líderes diz que “primeiramente, meu irmão deu três tiros nele e a gente saiu correndo, mas logo em seguida a gente ouviu que ele ainda agonizava. Cheguei sim e abri uma [inaudível] para comemorar porque a gente matou um lixo”. A primeira fase da operação ocorreu em 2019, quando foram cumpridos 110 mandados e 81 pessoas foram presas. E foi a partir da primeira fase que a força policial, e apoio dos demais órgãos, chegou a segunda fase, sendo comprovada a maior participação de mulheres ligadas a facções criminosas, ocupando cargos de liderança. Por se tratar de lideranças, os policiais encontraram pouco material. “O foco dessa investigação era atacar a cúpula da facção. Alguns materiais foram apreendidos, ainda houve uma resistência, e uma pequena quantidade de drogas apreendidas, mas não houve apreensão maiores de materiais ilícitos porque os ‘cabeças’, os líderes, não vão ficar com os flagrantes consigo. É isso que justifica a pequena quantidade”, disse o delegado Gustavo Henrique, coordenador da Deic. Na fase I da operação, apenas sete mulheres foram alvos de mandados judiciais, o que, agora, corresponde a um aumento de 557%.