Cidades
EXPLOSÃO ATINGE BEIRUTE E DEIXA AO MENOS 73 MORTOS
Explosão ocorreu na zona portuária da capital do Líbano e deixou milhares de feridos Explosão ocorreu na zona portuária da capital do Líbano e deixou milhares de feridos


Uma grande explosão atingiu na tarde desta terça (4) a cidade de Beirute, capital do Líbano, levantando bolas de fogo e colunas de fumaça gigantescas e afetando construções a quilômetros de distância. O ministro da Saúde, Hamad Hassan, disse que o incidente deixou ao menos 73 mortos, além de mais de 3.700 feridos. Paredes de prédios foram destruídas, janelas quebraram, carros foram virados de cabeça para baixo e destroços bloquearam várias ruas, forçando feridos a caminhar em meio à fumaça até hospitais. Segundo testemunhas, o estampido da explosão foi ouvido até na cidade costeira de Larnaca, no Chipre, a cerca de 200 km da costa libanesa. Ainda não se sabe ao certo o que motivou o incidente, que ocorreu na zona portuária da capital, e se outras explosões aconteceram, como especulou-se logo após as primeiras informações do caso. Segundo o chefe de segurança interna do Líbano, Abbas Ibrahim, a origem do episódio é uma área do porto com materiais altamente explosivos -não há informação se a explosão foi proposital ou não. Ele disse que não iria especular sobre as razões para não atropelar as investigações. Já o ministro do Interior, Mohamed Fehmi, disse que havia armazenada no porto uma grande quantidade de nitrato de amônio, substância usada como fertilizante, e que essa teria sido a causa da explosão. O secretário-geral da Falange (o mais tradicional partido democrata-cristão do Líbano), Nizar Najarian, foi a primeira morte confirmada da explosão -o escritório da legenda ficava perto da região portuária. Além dele, o chefe da estatal elétrica do país, Kamal Hayek, foi ferido e está em estado grave, de acordo com o jornal The New York Times. Na primeira manifestação oficial do governo sobre o caso, o primeiro-ministro Hassan Diab decretou um dia de luto em todo o país, a ocorrer nesta quarta-feira (5). Em discurso transmitido na TV, disse que os responsáveis pela explosão sofrerão consequências. “Prometo a vocês que essa catástrofe não passará sem responsabilização. Os culpados vão pagar o preço”, afirmou. “Fatos sobre esse armazém perigoso, que está lá desde 2014, serão anunciados.” Já o presidente Michael Aoun convocou uma reunião de emergência com o Conselho de Defesa do país. O Hizbullah, partido xiita e ligado ao regime iraniano, deixou de lado as rivalidades históricas e pediu união nacional para enfrentar o que classificou como catástrofe. Georges Kettaneh, presidente da Cruz Vermelha Libanesa, disse à TV libanesa LBC que muitas pessoas continuam presas em casas atingidas pelo fogo. Alguns estão sendo resgatados por barcos. Segundo o canal, um dos hospitais da cidade está tratando mais de 500 feridos e não tem capacidade para receber mais ninguém. Dezenas deles precisam de cirurgias. Na frente de outro centro médico, dezenas de feridos, incluindo crianças, algumas cobertas de sangue, esperavam para serem atendidos, segundo a agência de notícias AFP. A área portuária foi isolada pelas forças de segurança, que só permitem a passagem de agentes da defesa civil, ambulâncias e caminhões de bombeiros. Nas proximidades do porto, a destruição é enorme. A mídia local transmitiu imagens de pessoas presas a escombros, algumas cobertas de sangue. “Os prédios estão tremendo”, publicou no Twitter um morador da cidade, dizendo que “todas as janelas do apartamento explodiram”. “Vi uma bola de fogo e fumaça sobre a cidade. As pessoas gritavam e corriam, sangrando. Varandas foram arrancadas dos prédios. Vidros de prédios caíram nas ruas”, disse outra testemunha à Reuters.? De acordo com o Itamaraty, até agora não houve relatos de brasileiros mortos ou gravemente feridos. O Líbano tem uma grande comunidade com laços com o Brasil: há mais descendentes e parentes de libaneses em solo brasileiro (entre 7 e 10 milhões) do que libaneses no país de origem (7 milhões). A fragata brasileira Independência, nau capitânia da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), não estava no porto de Beirute na hora da explosão, mas no Mediterrâneo, patrulhando a região. A embarcação leva cerca de 200 marinheiros. A Unifil foi criada em 2006 para verificar a retirada israelense do sul do Líbano e evitar o contrabando de armas por via marítima, após um dos inúmeros embates entre as duas partes nas últimas décadas. O porta-voz da ONU Farhan Haq declarou a jornalistas que não se sabe se a explosão foi acidental ou provocada e que não há indicação de feridos entre os funcionários da organização. Uma fonte do governo de Israel, rival do Líbano, negou à agência de notícias Reuters qualquer envolvimento com a explosão, e o chanceler isralense, Gabi Ashkenazi, corroborou a versão, ao afirmou a uma TV local que a explosão foi provavelmente causada por um incêndio acidental. Por fim, o ministro da Defesa Benny Gantz ofereceu ajuda humanitária por meio de canais diplomáticos. O Pentágono declarou que os EUA estão cientes do ocorrido e “preocupados com a perda potencial de vidas devido a essa explosão tão grande”. O Departamento de Estado americano ofereceu “toda a assistência possível” aos libaneses. O ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, também afirmou que o país está pronto para ajudar como for necessário. Rival de Teerã, a Arábia Saudita afirmou que acompanha com preocupação o caso e expressou solidariedade aos libaneses. O Líbano atravessa sua pior crise econômica em décadas, marcada por depreciação monetária sem precedentes, hiperinflação, demissões em massa e restrições bancárias drásticas, que alimentam há vários meses o descontentamento social.?
JULGAMENTO
A TV Al Arabiya inicialmente noticiou que ocorreram explosões por toda a cidade e que uma delas teria ocorrido próximo à residência do ex-premiê Saad Hariri. A informação não foi confirmada oficialmente, e o próprio Saad postou uma foto em uma rede social logo após a explosão na zona portuária, indicando que não ficou ferido. A afirmação da Al Arabiya imediatamente levantou suspeitas de que o incidente poderia estar ligado à divulgação do veredito do julgamento de quatro homens acusados de terem assassinado o também ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri -pai de Saad- em 2005.