Cidades
ALAGOAS TEM A 5ª POLÍCIA MAIS VIOLENTA DO NORDESTE
Levantamento mostra que 51 pessoas foram mortas no Estado por policiais da ativa no primeiro semestre deste ano


Casos de violência policial não são estranhos aos alagoanos, e um levantamento recente do G1, o Monitor da Violência, colocou um número nesta realidade: 51 pessoas foram mortas por policiais da ativa no Estado, contra 2 policiais da ativa mortos no primeiro semestre deste ano. Ambos os números são os mesmos que os do primeiro semestre do ano passado.
Alagoas é o quinto estado do Nordeste com o maior número de homicídios causados por policiais da ativa. O campeão é a Bahia, com 512 mortes causadas pela letalidade policial. O Piauí, com 17 mortes, é o com o menor número. Os dados foram obtidos pelo G1 por meio de pedidos via Lei de Acesso à Informação de “confrontos com civis ou lesões não naturais com intencionalidade” às Secretarias de Segurança Pública das unidades da federação. A Gazeta de Alagoas procurou a Polícia Militar de Alagoas (PMAL) para se pronunciar sobre os dados, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Ao menos 3.148 pessoas foram mortas por policiais no primeiro semestre deste ano em todo o país. O número é 7% mais alto que o registrado no mesmo período do ano passado, quando foram contabilizadas 2.934 mortes. Os casos de policiais que morreram em serviço e fora de serviço também apresentaram alta nos primeiros seis meses deste ano. Foram 103 policiais mortos, contra 83 no ano passado, o que representa um aumento de 24%.
Chama a atenção que o aumento de mortes neste ano aconteceu mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, que fez com que estados adotassem diversas medidas de isolamento social. Ou seja, houve alta na violência mesmo com menos pessoas nas ruas. O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
ALTA INESPERADA E LÓGICA DE GUERRA
Segundo Dennis Pacheco e Samira Bueno, do FBSP, os números do levantamento preocupam. “Ao contrário das expectativas criadas diante da redução da violência letal verificada nos anos anteriores, o Brasil não foi capaz de transformá-la em tendência de um ciclo virtuoso”, dizem. “Mesmo diante da pandemia de Covid-19, que resultou em medidas de isolamento social em quase todo o país e na queda dos crimes contra o patrimônio, a violência letal voltou a crescer, na evidência da incapacidade das nossas autoridades implementarem uma política nacional de segurança pública que seja capaz de preservar a vida de todas e todos os cidadãos.” Renato Alves e Fernando Salla, do NEV-USP, destacam que é importante notar que “a letalidade policial não apenas produz grande número de mortes entre cidadãos comuns, mas vitima também a própria polícia”. E que um elemento essencial por trás deste número é a ótica de guerra. “A lógica acionada é da guerra, onde não cabe a moldura dos controles democráticos e dos limites impostos pelas leis. A narrativa apresentada pelos policiais é de que o inimigo (criminoso/suspeito) está sempre bem armado e enfrenta a polícia com poder de fogo e risco para os policiais”, afirmam. “Neste contexto, impõem-se o ‘matar ou morrer’. Nessa lógica, tanto as circunstâncias como o próprio viver estão permanentemente em risco. Ainda que uns percam mais que os outros, a maioria perde, pois ninguém está seguro, sejam eles cidadãos comuns ou os próprios policiais.”