Pouco mais de cinco meses após o registro do primeiro óbito pelo novo coronavírus em Alagoas, já são mais de 90% dos municípios com mortes. Perto de 1,4 mil vítimas, mais de 70% do total de casos, tinham acima de 60 anos e não resistiram às complicações da Covid. Até a última quinta-feira (3), quase 12 mil idosos tinham sido infectados pelo novo coronavírus em Alagoas, que registrou também perto 1,4 mil óbitos nessa faixa etária. Perto de 800 do total de vítimas com mais de 60 anos eram homens, que corresponde a mais de 56%. Os boletins epidemiológicos emitidos diariamente pela Secretaria de Estado da Saúde mostram que há mais óbitos entre idosos e os que têm diabetes, cardiopatias, hipertensão arterial, doenças que afetam os pulmões e problemas renais.
“Todos têm a mesma chance de se infectar e devem tomar os mesmos cuidados. Mas há grupos de riscos para desenvolver um quadro mais grave e complicações inerentes a uma internação prolongada: idosos. gestantes, hipertensos, diabéticos e obesos”, avalia Cynthia Mafra, médica especialista em Alergia e Imunologia da Santa Casa de Maceió. A médica reforça que as principais doenças pré-existentes que podem agravar a Covid são a obesidade mórbida, hipertensão e diabetes. Também doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar) e o tabagismo. Sobre o fato de alguns pacientes desenvolverem a forma grave da doença e outros não, Cynthia Mafra lembra que a maioria dos pacientes, cerca de 85%, evolui bem mediante infecção pelo Sars-cov-2 e que os portadores de fatores de risco têm potencial para complicações, mas isso não é uma regra. Até porque mesmo os portadores de fatores de risco podem ter uma boa evolução. “Infelizmente, mesmo quando uma pessoa é previamente saudável, não tem fatores de risco e é imunocompetente, ou seja, não tem uma imunodeficiência, pode ainda assim ter um quadro grave. No momento não tem como saber antes se uma pessoa totalmente saudável vai evoluir mal. Isso é raro, mas pode acontecer. Essa performance de alguns indivíduos previamente saudáveis e sem fatores de risco, diante de doenças virais, ja é conhecida dos imunologistas. Isso está relacionado a fatores genéticos pois o sistema imunológico obedece a um rígido controle genético”, explica a médica. Na avaliação da clínica-geral do Hospital Geral do Estado (HGE) Miriam Campos ainda existem grupos de risco para a Covid no Brasil e entre as principais doenças pré-existentes que podem agravar a doença estão a “obesidade, hipertensão, diabetes, trombofilia, doença pulmonares crônicas (asma, DPOC) e doenças cardiovasculares”, explica.
Já a infectologista Angélica Novaes acrescenta que não é possível saber o motivo de algumas pessoas desenvolverem a forma grave da Covid. “Vários estudos estão em andamento, mas ainda sem conclusão”. A reportagem pergunta o que mais chama a atenção de médicos que acompanham os casos desde que foram confirmados os primeiros por óbitos. “Cerca de 80-85% dos casos serão leves a moderados, de 15 a 20% dos casos necessitarão de internação hospitalar e suporte de oxigênio suplementar. Cerca de 5% dos casos, haverá necessidade de leito de terapia intensiva e ventilação mecânica. O que se percebe é que o paciente que irá evoluir de forma grave, apresenta doença mais arrastada, febre prolongada e dispneia”, conclui Angélica Novaes, infectologista do HGE.
SEQUELAS
De acordo com Cynthia Mafra, já foram identificados vários alelos ( formas diferentes de um mesmo gene) relacionados a uma má evolução e desfecho desfavorável mediante infecções por vários vírus já conhecidos. “A maioria das pessoas imunocompetentes tem ótima resposta e vence a infecção pelos vírus, mas em uma minoria de pessoas o quadro é grave com desfecho fatal. Já estão em andamento vários estudos visando identificar quais os genes associados a uma má evolução na Covid”. A Gazeta pergunta à médica se, após seis meses, desde que foram confirmados os primeiros casos por óbitos no Brasil, o que mais chama a atenção na evolução dessa doença. “Tenho observado sequelas de hiperreatividade pulmonar nos pacientes já curados, consequente à inflamação no pulmão causada pelo vírus levando a cansaço e tosse prolongada”, responde. “No entanto, os pacientes tem se recuperado bem, isso é reversível. Mas o que mais vejo é transtorno de ansiedade entre os pacientes já curados e sem sequelas físicas”. Sobre os casos de reinfecção, Cynthia Mafra diz que essa situação não tem sido usual, embora tenham alguns casos suspeitos e que recentemente têm sido documentados. “O que mais temos visto são casos onde a evolução foi mais tardia, ou que tiveram diagnóstico errado baseado na interpretação errada de testes e depois quando realmente se infectaram. Pelo que tem se observado, existe uma imunidade protetora na população após a infecção e uma reinfecção não é comum. No entanto, mesmo quem já teve a doença deve continuar tomando os mesmos cuidados, pois ainda não se sabe ao certo até quanto tempo essa imunidade dura”, finaliza.