Alagoas não reconhece, ainda, ciclovias como meio moderno, sustentável e saudável de mobilidade urbana. Maceió, por exemplo, tem 43 quilômetros de malha cicloviária e precisa de 850 Km para atender 200 mil pessoas. O resultado disso é a multiplicação diária de acidentes. Não existem números precisos, porém as associações dos triatletas, dos ciclistas, “pedaleiros” e os hospitais estimam que cerca de 600 ciclistas morrem anualmente nas rodovias estaduais. Os acidentes leves raramente são notificados. O Hospital Geral do Estado, em 2018, constatou o crescimento de 13,2% de acidentes, com atendimento 582 ciclistas. A maioria das vítimas é da região metropolitana de Maceió. Em segundo lugar, de Arapiraca. Chama a atenção das associações que mais de 80% dos acidentados e mortos são trabalhadores em deslocamento dos bairros periféricos em direção ou retorno do trabalho. “Infelizmente, o Estado, as prefeituras e a maioria dos motoristas ainda não reconhecem a bicicleta como meio de transporte sustentável e inteligente”, lamentou o ex-coordenador da Lei Seca, o capitão Emanuel Costa, ao comentar o crescimento dos acidentes e a falta de ciclovias inclusive na capital para atender à demanda crescente da população.
CONTRAMÃO
Os pré-candidatos a prefeito têm em suas plataformas de prioridade de campanha a “mobilidade urbana”. Como os últimos que se elegeram, a maioria promete construir ciclovias para atender principalmente os trabalhadores. Segundo as entidades dos ciclistas, hoje, além de não haver projeto em andamento, ocorre a redução da extensão cicloviária disponível. A cidade tinha 53 quilômetros de ciclovia, perdeu 10 quilômetros para ocupações irregulares, obras públicas e falta de fiscalização, revelou o coordenador da Associação Alagoana dos Ciclistas, Antônio Facchinetti. Os 43 km disponíveis precisam de obras, reclamam os ciclistas como o funcionário público José Carlos dos Santos, que pedala frequentemente entre os bairros de Jacarecica e Trapiche da Barra, onde trabalha. A associação contabiliza que pelo menos 200 mil ciclistas pedalam regularmente na região metropolitana. Entre eles, a maioria é trabalhadores, além dos que pedalam em diversos grupos espalhados pelas 12 cidades da região metropolitana, os atletas e aqueles de lazer.
TRIATLETAS
A cidade que abriga uma das maiores competições de triatlo do mundo – o “Ironman”– precisa de pelo menos 850 quilômetros de quatro modalidades de vias para bicicletas e um local de treinamento para atletas, cobra o presidente da Associação Alagoana de Triatletas, Welton Roberto. “Os atletas não podem pedalar na rua nem nas ciclovias. A maioria dos mais de 300 filiados sente a falta de segurança para ciclistas de qualquer modalidade. Pior para os trabalhadores que se deslocam de bicicleta e são vítimas constantes dos acidentes”. Welton explicou que a ciclovia não é lugar de treinamento porque as bicicletas desenvolvem até 50 km/h. “Não existe um lugar na cidade para treinar”. Ele disse que os associados dividem espaço com os carros e alguns acidentes costumam ser fatais, como o que vitimou Álvaro Vasconcelos Filho [em 15 de julho de 2013], lembrado até hoje. “A falta de vias com segurança contribui para multiplicar os acidentes”.
TRABALHADOR
Antônio Facchinetti revelou um balanço do Detran de Alagoas, que, segundo ele, aponta 600 mortes de ciclistas por ano em todo o Estado. Mais de 70% das vítimas são de Maceió e em segundo lugar, Arapiraca. Ao falar da insegurança destacou que os 43 km de ciclovias existentes precisam de obras para facilitar a vida dos trabalhadores. Às margens da lagoa Mundaú, havia 10 quilômetros de ciclovias nos dois sentidos. Ambas foram invadidas. A via do Papódromo até o Mercado da Produção não existe mais: está ocupada por barracos de marisqueiros e muito lixo. No sentido contrário, que ligava o Mercado até a praia do Trapiche da Barra, foi invadida há mais de 15 anos. Sem fiscalização, os moradores se apoderaram e construíram muros em vários trechos. Se a ciclovia da lagoa estivesse preservada, representaria um quinto do que a cidade disponibiliza e teria 53 quilômetros exclusivos para ciclistas. Facchinetti destacou que o maior trecho transitável é o que liga o bairro de Jacarecica até o prédio do antigo Detran, no Pontal da Barra. Nesse trecho, há três quilômetros destruídos por causa de obras da Braskem. “As ciclovias e ciclofaixas são carentes de manutenção, sinalização, obras de reparos, fiscalização”, afirmou. Os poucos quilômetros que existem na região do Tabuleiro do Martins e na Avenida Menino Marcelo (antiga Via Expressa) também foram invadidos, denuncia os trabalhadores como o pedreiro José da Silva Alcântara, morador da Cidade Universitária e que se desloca diariamente entre carros pelas avenidas Fernandes Lima, Durval de Góes Monteiro ou pela Menino Marcelo. Para fugir do perigo, ciclistas pedalam pelas calçadas, disse o mecânico José Cícero, do Benedito Bentes. Na parte alta, quase todas as ciclovias foram ocupadas por carrinhos de sorvete, pontos clandestinos de acarajé, de churrasquinhos e outros tipos de comércio informal. Leia mais nas páginas A16 e A17