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Nº 5695
Cidades Infectologista Sarah Dominique diz que Covid deve se tornar endêmica

DISTANCIAMENTO DEVE SER MANTIDO PARA EVITAR ‘EFEITO BUMERANGUE’

Para especialistas, apesar da queda do número de casos de Covid, nova onda não está descartada

Por regina carvalho | Edição do dia 26/09/2020 - Matéria atualizada em 26/09/2020 às 06h00

Há sinais de estabilização da pandemia do novo coronavírus em Alagoas, mas, enquanto não houver queda considerável do número de casos e óbitos, as medidas que garantem distanciamento social devem ainda ser respeitadas para evitar o chamado “efeito bumerangue”, ou seja, o aumento de notificações da doença quando a situação parecia controlada. O alerta é de especialistas que acompanham a evolução da Covid. Na avaliação da infectologista Sarah Dominique, sem respeito ao distanciamento não está descartado que Alagoas vivencie uma nova onda de infecção. Já para o pesquisador Gabriel Bádue, pode haver um retrocesso e a necessidade de se restringir novamente o contato social. “O que a gente vê é que com o término do isolamento social, as pessoas muitas vezes não estão respeitando e isso obviamente impacta sim na proliferação do vírus causador da Covid-19 e a tradução disso clinicamente é o aumento do número de casos após alguns dias que mostrava uma tendência a permanecer abaixo de 200”, destaca Sarah, que é gerente médica do Hospital da Mulher, referência no atendimento de casos do novo coronavírus em Alagoas.

AUMENTO EM SETEMBRO

Em relação ao mês de setembro, a médica Sarah Dominique diz que a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Mulher teve ocupação entre 60% e 80% dos leitos, chegando alguns dias a 85%. “Já na semi-intensiva a taxa de ocupação caiu bastante. Isso reflete sim o decréscimo de casos, mas não é garantia de que o hospital que vai ser a referência como o único no estado vai ficar com leitos vazios”, informa a infectologista. Na avaliação de Sarah, a Covid vai se tornar endêmica, isso quer dizer, “vai chegar um momento em que a gente vai ter uma quantidade de casos que dê para atender quanto à demanda ambulatorial, internações em leitos clínicos e de terapia intensiva”. Sobre interior e capital, vivem momentos diferentes. “Alguns interiores que tiveram baixo acometimento estão vulneráveis a ter surtos epidêmicos. Maribondo é um que tem casuística muito pequena e lá não eclodiu a doença, não passaram por um surto epidêmico, que é a eclosão de vários casos. Existem municípios que podem passar pelo que a capital passou de abril a julho”, acrescenta a médica. Segundo o professor Gabriel Bádue, do Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19, vinculado à Faculdade de Nutrição da Ufal, os primeiros dias de setembro acompanharam a tendência observada em boa parte de agosto, registrando uma queda na transmissão. Esse comportamento refletiu na queda do número reprodutivo efetivo (Rt), relacionado à transmissão do novo coronavírus, que atingiu seu menor valor (0,72) no dia 11/09 desde o início da pandemia, considerando todo o Estado. “No entanto, a partir desta data a transmissão voltou a aumentar refletindo no aumento do Rt que superou o limite de 1 (que indica o controle da transmissão) no dia 19/09, estando em sua última atualização (21/09) igual a 1,17, o que indica que, em média, cada dez infectados transmitem o novo coronavírus para cerca de 12 pessoas”.

DIFERENÇAS REGIONAIS

A Gazeta pergunta ao pesquisador Gabriel Bádue se o interior e a capital vivem momentos diferentes da pandemia. Ele responde que, em termos globais, se considerarmos o interior como um todo, não, mas quando a análise do interior considera divisões regionais, notam-se diferenças significativas. “Dentre as dez regiões sanitárias, a 9ª região (que engloba os municípios circunvizinhos a Santana do Ipanema) é a que apresenta a maior incidência de casos e óbitos. Comparada com a média estadual, a incidência de casos da 9ª região é o quadruplo da alagoana, enquanto a incidência de óbitos é o dobro. Por outro lado, a 2ª região, que compreende os municípios do litoral norte, vem há algumas semanas conseguindo manter o controle da transmissão, o que tem refletido na queda de casos e na ausência de óbitos”, destaca.

Gabriel Bádue confirma que, se considerando o aumento do desrespeito ao distanciamento social, pode haver um retrocesso. “É difícil identificar e imputar uma única causa para o sucesso na contenção da transmissão, mas certamente as medidas de prevenção como uso de máscara, higienização das mãos e o distanciamento social (que equivale a não formação de aglomerações), contribuíram com a queda dos indicadores no estado, observada nas semanas anteriores a 38º”, afirma.

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