Cidades
MOMENTO TEM SIDO DE APRENDIZAGEM E RESIGNAÇÃO PARA TODOS
Algumas crianças apresentam depressão e ansiedade; psicóloga diz que imaginação é a chave para manter a saúde mental


Leandro Pereira Peres, 40 anos, cirurgião-dentista, casado com Flávia Cavalcante, pai da Iara Cavalcante, de 14 anos, de Fernando Cavalcante, de 10 anos, e à espera de Santiago, na barriga da mãe, conta que logo no início da pandemia tentaram ser mais rígidos com relação aos horários e às atividades, no intuito de que nada se distanciasse muito do cotidiano “normal”.
“Acabamos nos cobrando muito e logo em seguida vinha a frustração por não conseguirmos desempenhar com sucesso novos papéis e acumular muitas funções. Nos havíamos notado que as crianças estavam estressadas, muitas vezes tristes por não poder sair e fazer suas atitudes cotidianas. Mediante essa situação, relaxamos mais, deixamos as crianças mais à vontade e por fim entendemos que não temos o controle de tudo, e fizemos a opção de fortalecer os nossos laços em família, inserindo as crianças em algumas atividades de casa para tentar criar uma autonomia maior. Também começamos a participar mais do que eles assistem na TV no conteúdo da internet”, retrata Leandro.
Por fim, Leandro e Flávia contam que o isolamento social trouxe experiências, principalmente para Leandro, como homem, uma oportunidade maior de perceber a carga que, na maioria das vezes, a mulher recebe, desempenhando as atividades domésticas e de cuidados dos filhos, assim também aconteceu com uma valorização maior dos profissionais da educação que executaram brilhantemente o desafio das atividades remotas.
“Foi um momento de resignação e aprendizagem para todos”. Flávia conta que já estava realizando os pré-operatórios para fazer a histerectomia total porque está sofrendo de miomatose, quando suspendeu o uso do anticoncepcional devido ao risco de trombose na cirurgia e, durante o pico da pandemia, engravidou de Santiago.
“Ano passado eu perdi um bebê, decorrente da miomatose. Então foi algo não esperado, mas bem-vindo. Foi até uma surpresa porque os médicos condenaram meu útero. É uma gravidez de alto risco em função de eu ter 40 anos e apresentar um miomatoso”, relatou.
Ela conta que, apesar da surpresa, as crianças a apoiaram muito. Sobre os filhos de 10 e 14 anos, Flávia conta que o menor, principalmente, diz que a vida dele é um tédio devido ao isolamento e as mudanças na rotina.
“A gente tentou de todas as formas as regras, só que eles ficaram bem tensos e chateados por fazer aquelas coisas estabelecidas. Eu estudo. O Leandro continuou atendendo na emergência e a gente ficou bem tenso porque ele atendia os pacientes, mas ele tomava todas as funções ao chegar em casa e, em decorrência de tudo, tava todo mundo estressado e resolvemos relaxar”, concluiu.
Neste Dia das Crianças diferente, as famílias contam que pretendem investir em uma programação leve, com idas ao shopping e até ficar em casa sem aglomerações.
IMAGINAÇÃO
A psicologa Jaqueline Pino pede para que imaginemos um mundo de cores e beleza, com a liberdade do contato com a natureza, amiguinhos que abraçam sempre, mas algo muito terrível aconteceu, as pessoas tiveram que se isolar, o mundo foi ficando cinza, os avós não podiam ver seus netos, as pessoas ficaram tristes e amedrontadas, tudo isso devido a um “invasor” chamado coronavírus.
“A partir da imaginação vamos entender que essa é a elaboração das crianças, os adultos precisam entender que elas não estão alheias ao que acontece ao redor, a adaptação não tem sido as mais fáceis, anterior ao coronavírus já existiam seus conflitos interiores, pois crianças também os tem, apesar de que elas conseguem ser leves e as brincadeiras ajudam bastante”, disse.
Jaqueline relata que tem encontrado crianças deprimidas e ansiosas, com as modificações. “As aulas remotas são trazidas de forma negativa por muitas delas, sendo assim, essa falta de contato tem acentuado os transtornos já existentes ou trazendo para aquelas que não tinham”.
Porém, conforme o relato da psicóloga, a maior convivência com os familiares tem realizado uma maior observação dessas crianças, estreitou os laços também e que o vírus destampou a panela de pressão, então a crise que já borbulhava explodiu.
“O que podemos fazer para aliviar tudo isso? Quais os recursos emocionais que vocês pais tem para ajudar seus filhos? A saúde mental não parou, e estamos aqui em busca das soluções para ajudá-los, tanto para a pressão do âmbito escolar, quanto para a convivência familiar, mas posso nesse momento solicitar que não julguem, nossas crianças necessitam da compreensão, menos pressão nesse momento”, orienta Jaqueline. O mundo parou, continua a psicologa, é hora de parar para refletir e modificar comportamentos que não ajudam.