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Cidades Maceió, 09 de julho de 2020
Pinheiro - Terra de ninguém. Casa e prédios abodonados no bairro do Pinheiro em Maceió. Alagoas - Brasil.
Foto: ©Ailton Cruz

ESTUDOS APONTAM QUE BAIRROS COMEÇAM A “AFUNDAR” EM 2021

Geólogos dizem que afundamentos começarão no Mutange e Bebedouro e sugerem interditar parte da lagoa

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 31/10/2020 - Matéria atualizada em 31/10/2020 às 04h00

Depois de participar de reuniões com representantes da Braskem, da Defesa Civil, da Procuradoria do Município, líderes dos moradores e visitar os bairros afetados pela mineração, o procurador da República dos Direitos do Cidadãos, Carlos Alberto Vilhena, constatou um cenário desolador, que mistura as imagens de pós-guerra com o de cidades fantasmas. Conjuntos habitacionais inteiros destruídos e abandonados e, paralelamente a esse cenário material, um verdadeiro holocausto de histórias e de sonhos de milhares de pessoas. Ele conhece os relatórios de geólogos da Alemanha, Itália e da Universidade de São Paulo, encomendados pela própria indústria, que concluem que os bairros desaparecerão em cinco ou seis anos. Começam a “afundar” no segundo semestre de 2021, afirmam os pesquisadores. Os geólogos, inclusive os da Universidade Federal de Alagoas, após avaliarem os danos causados pelos desmoronamentos de 35 minas de sal-gema nos bairros do Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro, preveem “grandes afundamentos na região a partir de 2021”. Neste momento, engenheiros contratados pela indústria e a Comissão de Defesa Civil de Maceió orientam as famílias e empreendedores a desocuparem as regiões críticas o mais rápido possível.

A Defesa Civil quer ajuda da Marinha para construir barreiras com boias na lagoa Mundaú, para evitar a movimentação de embarcações nas áreas das minas, entre o Bom Parto e Bebedouro. Essas regiões são consideradas como o epicentro dos desmoronamentos subterrâneos previsto para acontecer a partir do próximo ano.

Os 8.334 proprietários de imóveis, dos 3.600 empreendedores e dos 800 informais que esperam indenizações da Braskem são orientados a saírem “logo”. Há resistência por causa da indefinição das indenizações, confirma o presidente da Associação dos Empreendedores do Pinheiro, Alexandre Sampaio. Cópias dos relatórios a respeito dos “afundamentos” estão no Ministério Público Federal. O procurador Carlos Vilhena participou durante dois dias de reuniões com representantes da indústria, prefeitura, ouviu os moradores e empreendedores, que não pouparam críticas à lentidão do pagamento das indenizações. “A exploração do sal-gema pela empresa Braskem em Maceió, além dos danos ambientais, colocou em risco, até agora, a vida de mais de 40 mil pessoas que residem na capital alagoana”. Ao ser questionado a respeito das ameaças de afundamento, Vilhena responde que existem estudos que relatam agravamento da subsidência na superfície de algumas minas. Esses estudos estão em análise pela Defesa Civil, mas os órgãos técnicos já ressaltam a importância da desocupação das áreas afetadas. “A população precisa sair o mais rápido possível”, enfatiza. As procuradoras da República que compõem a força tarefa do Caso Pinheiro cobraram da empresa agilidade no pagamento das indenizações de moradores e empreendedores.

AFUNDAMENTO

Segundo os técnicos estrangeiros e brasileiros, o “afundamento” de ruas e de trechos nos quatro bairros é real. O processo de “grandes afundamentos” ocorrerá a partir do segundo semestre de 2021. Em cinco ou seis anos há indicativos de desaparecimento radical dos bairros. Essa é a primeira vez que há indicativos concretos de “afundamento perigoso” do solo com previsões assinada por pesquisadores com a afirmação de desaparecimento dos bairros afetados. A Defesa Civil não contesta os estudos. Pelo contrário. O coordenador municipal, Dinário Lemos, confirmou a informação revelada por comerciantes apavorados e técnicos do próprio órgão, que preferem não ter os nomes divulgados. “Não há possibilidade de um colapso total dos quatro bairros. Porém, há risco, sim, de afundamento de ruas e de outras áreas”, minimizou Dinário. O Ministério das Minas e Energia acompanha a evolução dos estragos geológicos provocados pela exploração do mineral matéria prima para produção de soda e cloro. Os técnicos da Agência Nacional de Mineração (ANM) e do Serviço Geológico do Brasil (antiga CPRN) monitoram o problema. O Ministério Público Federal, Estadual, Defensoria Pública do Estado e da União também. A indústria permanece proibida de explorar a jazida do mineral próxima a qualquer área urbana, de preservação ambiental, de quilombolas e de reservas indígenas do Estado. A sala de monitoramento da movimentação do solo, montada pela Defesa Civil, funciona em turnos de 24 horas e está em alerta. Dinário Lemos garante que, em qualquer anormalidade grave, os meios necessários para proteção da população serão acionados.

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