O professor Abel Galindo, mestre em Geologia da Universidade Federal de Alagoas, com trabalhos publicados em diversos países, confirmou a existência de relatórios de especialistas em geologia da Europa e da USP com a recomendação de evacuação das áreas de risco nos quatro bairros afetados pela mineração. “Realmente existe relatório apontando risco de afundamentos pontuais. Os bairros começam a afundar em 2021”, disse Galindo depois de confrontar as pesquisas dele com as dos colegas europeus, da USP e ao chegar à conclusão da situação grave nos quatro bairros. Pesquisadores de diversos países têm estudado e aplicado a Teoria da Fluência Acelerada, com tensão constante, para prever o tempo de falha, para mineração salina por dissolução. Esse tempo de falha significa a previsão do dia, ou do mês, ou do ano em que a superfície, sob a qual tem-se mina (ou minas), irá colapsar. O método gráfico da velocidade inversa é a solução mais comum e mais prática e tem por base estudos experimentais. Segundo os pesquisadores, o Método da Velocidade Inversa tornou-se ferramenta amplamente aplicada na previsão do tempo de falhas, especialmente para solos e rochas. O gráfico de Jeremic (1994) mostra a Evolução Temporal Típica de subsidência associada ao sal. No caso da mineração salina em Maceió, o professor Abel Galindo lembra que a exploração com maior intensidade iniciou-se nos primeiros anos da década de 1980. “Se considerarmos dos meados dessa década até 2016 ou início de 2017, teremos três décadas e nesse período as deformações foram de poucos centímetros na área das minas (Mutange e Bebedouro), e por isso pouco perceptíveis. De 2017 até junho de 2020, teremos três anos e meio. Nesse período teve-se subsidência (deformações) de dezenas de centímetros ou mais precisamente 75 cm(ou mais), segundo os relatórios de interferometria apresentados pela CPRM e de outros relatórios de empresas especializadas contratadas pela Braskem. Isso na área não submersa pela lagoa”. Galindo observa que o quadro das deformações nos últimos três anos e meio está perfeitamente enquadrado no gráfico do pesquisador Jeremic. “Sendo assim, a mineração salina de Maceió, segundo esse gráfico de Jeremic, as informações recentes sobre interferometria de relatórios da CPRM e de empresas contratadas pela Braskem, da área de mineração, está entrando na fase de deformações aceleradas, na direção do colapso de muitas minas”.
BEBEDOURO TERÁ MAIOR COLAPSO
Os relatórios da CPRM e das empresas especializadas, de informações contidas no relatório do IfG (relatório alemão) e no recente relatório do Geoapp s.r.l., mostram que a área que tem início no cruzamento da linha férrea (linha do VLT-Mutange/Bom Parto) com a Avenida Major Cícero de Góis Monteiro até o colégio Bom Conselho, envolvendo também partes adjacentes, próximas à encosta do Mutange e de Bebedouro, desaparecerão do mapa de Maceió nos próximos cinco ou seis anos. “O processo de grandes afundamentos deverá ter início no segundo semestre de 2021” prevê o professor Abel Galindo e os colegas da Itália, Alemanha e da USP. As áreas citadas hoje estão em ruínas. O colégio Bom Conselho está desativado. No decorrer da semana, engenheiros e técnicos contratados pela Braskem voltaram a vistoriar novas áreas de rachaduras em imóveis e empreendimentos comerciais na parte comercial de Bebedouro. Até a Igreja de Santo Antônio, do século XIX, com azulejos português, na Praça Lucena Maranhão, não escapou. As rachaduras aumentam a cada dia. Está fechada e recebeu notificação para deixar o bairro. A Igreja Católica busca terreno para a construção do novo templo. As despesas serão da Braskem. O clima dos moradores na região é de medo até para quem não está na área de risco.